quarta-feira, 15 de junho de 2022

PARQUE MAYER

Centenário de um espaço mítico da cidade de Lisboa



O Parque Mayer, um espaço mítico da cidade de Lisboa, cheio de histórias ligadas à nossa cultura e ao teatro de Revista em especial, foi implantado no espaço que fora o dos jardins adjacentes ao palacete Mayer (edifício que recebeu o prémio Valmor de 1902), construído em 1901, segundo um projecto de Nicola Bigaglia (1852 - 1908), e pertença de Adolfo de Lima Mayer (1838 - 1918), situado entre a Av. da Lberdade e a Rua do Salitre. Em 1920 este espaço e edifício foram adquiridos por Artur Brandão e vendido no ano seguinte a Luís Galhardo (1874-1929), personalidade ligada ao meio teatral, que sonhava criar um espaço totalmente dedicado à diversão. Tendo fundado a Sociedade Avenida Parque Lda., Luís Galhardo, figura consagrada do meio teatral, estava interessado em criar um novo local de espectáculos e assim iniciou neste recinto grandes momentos de diversão, espectáculo e representação, que o veio a tornar muito popular. No edifício do palacete Mayer é então implantado o "Clube Mayer", tendo este espaço encerrado em 1927. É no início dos "loucos anos 20" inaugurado no parque anexo ao palacete Mayer, o Avenida Parque, mais concretamente em 15 de junho de 1922, faz precisamente hoje 100 anos, substituindo e tendo também como função lúdica, a tradicional Feira de Agosto, criada na Rotunda em 1908, uma das últimas feiras típicas da capital, com comércio, petiscos, teatros e diversões. Inicialmente o recinto do então denominado "Avenida Parque" no parque Mayer, apresentou-se em instalações precárias de madeira, simples barracas, mas situando-se numa zona mais central e frequentada. A designação deste recinto de "Avenida Parque", iria perdurar por alguns anos da década de 20, mas o antigo nome acabaria por impor-se. Ao longo do tempo acabou por na gíria popular ser chamado pelo nome do parque ai existente pertencente ao palacete e impõem-se o nome do recinto de Parque Mayer a partir do inicio da década de 30. Com o passar do tempo acabaria por se transformar num moderno e popular recinto de diversões ao ar livre, idêntico ao que se fazia em algumas cidades da Europa como Paris, Madrid, Sevilha, Barcelona, etc.. Neste espaço com muita luz, como ficou conhecido também, pois muitas lâmpadas eléctricas ainda novidade na capital e poucos dispunham, eram usadas para iluminar o recinto. Foram construídas casas de espectáculo que acabaram por se especializar no género de teatro de Revista, associando-se a outras atracções de carácter lúdico. 


Palacete Lima Mayer, situado entre a Av. da Liberdade e a Rua do Salitre em meados de 1902 (arq. AML)


Luís Galhardo (1874-1929) criador do Parque Mayer 
(arq. pess.)


Aspectos da Feira de Agosto no Parque Eduardo VII in Illustração Portugueza de 1910 
(arq. pess.)

Aspecto do ambiente da Feira de Agosto na Rotunda em meados dos anos 10 do séc. XX (arq. AML)


Edifício Mayer e entrada do "Avenida Parque" em meados dos anos 20 do séc. XX (arq. AML)


Anúncio do Avenida "Palace Club", que funcionou entre 1920 e 1927 (arq. priv.)


Entrada do então "Avenida Parque" em meados dos anos 20 (arq. pess.)

Alusão ao "Avenida Parque" na revista Teatro Magazine de 1928 
(arq. priv.)


Uma das muitas esplanada com luz eléctrica no Avenida Parque em meados dos anos 20 (arq. AML)


Este espaço conseguiu não só impor-se como espaço de diversão mas também de convívio, isto devido à profusão de estabelecimentos para todos os géneros e gostos, desde cafés, tasquinhas, restaurantes - bar como o famoso "Dominó", retiros, casas de fados, cabarets, bares, etc.  Logo no ano de 1922 o primeiro restaurante a instalar-se neste espaço foi o "João Borges", mais tarde o restaurante "Colete Encarnado", de curta existência, pois subia um degrau na sofisticação e não era acessível a todos. Uma vida mais longa teria a famosa "Mina", do "Júlio das Farturas" e o "Júlio das Miombas", actual "Gina". Um dos célebres retiros do Parque Mayer foi o "Amadora", ou "Restaurante da Mimi", como também era conhecido, frequentado por grandes vultos da cultura como Jorge Amado (1912 - 2001) e Ferreira de Castro (1898 - 1974), entre muitos outros famosos, fez época neste recinto com os célebres petiscos da cozinheira de mão cheia, que ficou conhecida simplesmente por "Amadora". Outros restaurantes e locais de diversão no futuro se iriam instalar neste recinto, como o restaurante "Pavilhão Branco" e o "Castelo dos Mouros"; as tascas de petiscos, a "Gruta do Lagarto", "O Cantinho dos Bons Amigos" entre outros, uns que se mantiveram, ganhando fama, outros que foram mudando de proprietários e nomes. Este recinto do Parque Mayer, tornou-se num espaço de boémia por excelência, sendo frequentado tanto pelo povo folião como pela elite política e intelectual de Lisboa dos anos 20. De entre as diversões que passaram no Avenida Parque, destacam-se, os fantoches, bailes de fim-de-semana ou do Carnaval com os desfiles sempre anunciados, os circos "Royal, El Dorado", e "Luftman", as famosas barracas do "Porto em Lisboa" que representava a Ribeira animada em miniatura, os estúdios de fotografia "Lusitana", o "Foto Parque" e o famoso "Pavillon Francious". Como espaços com espectáculos de variedades, musicais e fado, surge logo de início da abertura do Avenida Parque,  a "Esplanada Egípcia", e dois anos mais tarde, em 1924, o "Pavilhão Portuguez", seguindo-se em 1925 o "Alhambra", ambos com esplanadas a céu aberto e possuíam animatógrafo. Locais muito procurados e de peregrinação sobretudo aos fins-de-semana, sempre com casa cheia. Estes espaços, só funcionavam durante as estações de Primavera e Verão. A par destes espaços existiam as barracas dos fenómenos como o da "mulher transparente" e a "mulher sereia", barracas de jogo clandestino para os mais aventureiros, jogo do quino, patinagem, carrinhos de choque, isto já nos anos 40, entre outras atracções lúdicas.



Publicidades a espaços lúdicos no Avenida Parque in revista Teatro Magazine de 1928 (arq. priv.)


Aspecto de alguns dos restaurantes que se instalaram no recinto Parque Mayer 
em meados dos anos 20 (arq. AML)


Anúncio do Júlio das Farturas de final dos anos 20 (arq. priv.)


Restaurante do Parque Mayer em meados dos anos 20 
(arq. Nacional da Torre do Tombo)


Aspecto do restaurante Retiro da Amadora no Parque Mayer (arq. priv.)

Teatro de fantoches no Parque Mayer em meados dos anos 20 (arq. AML)





Anúncio ao Avenida Parque de 21-02-1925
(ar. priv.)



Fotografo "Lusitana" no Parque Mayer em finais dos anos 20 (arq. AML)


Fotografo "Foto Parque" no Parque Mayer em 1929 (arq. AML)



O famoso "Pavillon Francious" no Parque Mayer no início dos anos 30 (arq. AML)



O famoso Alhambra no Parque Mayer em 1925 (arq. priv.)

Explanada no Salão Alhambra em meados dos anos 20 (arq. priv.)


Publicação da revista Domingo Ilustrado de 1925 alusiva ao Alhambra (arq. priv.)


Planta toponímica da área envolvente do parque Mayer que envolvia 
o então Avenida Parque em 1925 (arq. priv.)



Divertimentos e atracções do espaço Avenida Parque em meados dos anos 20 (arq. pess.)


Publicidades a locais icónicos do Parque Mayer
in revista Teatro Magazine de 1928 
(arq. pess.)





TEATRO MARIA VITÓRIA



Essencialmente o Parque Mayer ficou famoso pelos seus teatros onde se representou e se representa até hoje, o que de melhor se fez e se faz em termos de Revista à portuguesa. Assim quinze dias após a abertura ao público, foi inaugurado, ainda no então Avenida Parque, o primeiro teatro deste recinto, o Teatro Maria Vitória em instalações de madeira provisórias, que viria mais tarde a ser substituído por outro em alvenaria. Esta inauguração aconteceu a um sábado, em 1 de julho de 1922, fará precisamente em breve 100 anos. O investimento inicial para a construção deste teatro, foi conseguido, segundo fonte da época, à custa da venda de farturas, pirolitos e pouco mais. O seu capital social de início foi de 100 contos de réis, coisa então impensável para o teatro ligeiro, o que lhe garantiu, com tal capital social, poder ali manter-se durante várias décadas. O nome dado a este teatro, Maria Vitória, em memória da famosa actriz e fadista Maria Victoria (1891 - 1915), cuja morte prematura, poucos anos atrás, criara alguma consternação. Seria o primeiro teatro inteiramente dedicada a este género de espectáculo. Na sua inauguração subia o pano no com a Revista "Lua Nova", da autoria de Ernesto Rodrigues, Henrique Roldão, Félix Bermudes e João Bastos, com números músicas assinados pelo maestro Raul Portela e direcção musical do maestro Alves Coelho, com Elisa Santos, Amélia Perry, Jorge Roldão e Joaquim de Oliveira. Muitos outros grandes sucessos foram representados no Teatro Maria Vitória, destaque entre outras, ainda na década de 20, mais propriamente em 1925 a Revista "Rataplan", em 1926 a Revista "Foot-Ball", já em 1928 a Revista "O Ramboia" e em  1929 a Revista "Ò Ricócó". Neste teatro histórico do Parque Mayer,  representaram-se e continuam a representar-se, alguns dos maiores sucessos da Revista à portuguesa em Portugal ao longo de décadas. Foram inúmeros os êxitos musicais de Revistas que deste espaço mítico do Parque Mayer saíram, êxitos musicais que ao logo de décadas o povo e os artistas cataram e ainda cantam, que são grandes marcos da música ligeira portuguesa. Os números das Revistas e letras de canções são censurados, só algumas rabulas ao novo regime do Estado Novo e a António de Oliveira Salazar (1889 - 1970), passam despercebidas ao famoso "lápis azul" dos censores do regime. Será no entanto uma época em que os conteúdos das rábulas e as criticas sociais vão ser mais elaboradas de modo a passar à censura que as irá acompanhar até ao fim do regime. Por tudo isto o Teatro Maria Vitória passou até à chegada da liberdade de expressão do pós 25 de abril de 1974. Em 1986, a tragédia abateu-se sobre o Maria Vitória e obrigou o fechar da cortina, quando no dia 10 de maio, um incêndio destruiu o teatro. Mas o Teatro Maria Vitória renasceu das cinzas, tal como a mítica fénix que na entrada do teatro presta homenagem a esse período negro da sua história. Com muito esforço e principalmente dedicação de actores, técnicos e o empresário Helder Freire Costa, que nunca baixou os braços, este espaço mítico conseguiu erguer-se e os sucessos continuaram. Passados que são 100 anos, o Teatro Maria Vitória, é o único teatro no Parque Mayer a apresentar este género teatral da Revista à Portuguesa, graças à persistência, gosto e empenho do empresário Helder Freire Costa com o apoio de uma vasta equipa de autores, compositores, técnicos e actores, todos sem excepção, empenhados em manter e não deixar morrer este género teatral.


Designação com o nome do Teatro Maria Vitória na fachada no edifício do primeiro teatro a funcionar
 no Parque Mayer em 1 de julho de 1922 (arq. pess.)


Capa de partitura com canções da primeira Revista à portuguesa estreada 
no Parque Mayer, "Lua Nova", no Teatro Maria Vitória 
em 1 de julho de 1922 (col. pess.)



Quadro com coristas da Revista "Lua Nova", em 1922 que inaugurou o Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



  Noticia relativa à primeira Revista à Portuguesa apresentada no Teatro Maria Vitória,
"Lua Nova", aquando da sua inauguração em 1 de julho de 1922,
                       in Vanguarda (arq. priv.)                     


Aspecto de um ensaio de coristas do teatro de Revista em meados dos anos 20 (arq. priv.)



Capa da partitura de fado fox trot da Revista "Rataplan" 
de 1925 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)


Anúncio à revista "Foot Ball" no Teatro Maria Vitória em 1926 (arq. pess.)

Coristas do elenco da Revista "Foot- Ball" no Teatro Maria Vitória em 1926 (arq. priv.)



Capa de partitura da canção Rosas, da revista "Foot-Bal" de 1926 
no Teatro Maria Vitória (arq. pess.)



Algumas das vedetas do início do Parque Mayer 
durante a década de 1920 (arq. pess.)


Capa de Partitura da canção Camélias de Sintra da Revista "A Rambóia" 
de 1928 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)


Quadro da Revista "A Ramboia" em 1928 com a actriz Josefina Silva 
no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)


Coristas da Revista "Ò Ricócó" em 1929 no Teatro Maria Vitória, 
capa de O Notícias Ilustrado (arq. pess.)


Capa do programa da opereta "Historia do Fado", 
de 1930 no Teatro Maria Vitória (col. pess.)


Aspecto lateral do edifício do Teatro Maria Victoria em meados dos anos 30 (arq. AML)


Restaurante no Parque Mayer instalado no Teatro Maria Vitória em meados dos anos 30 (arq. AML)



Quadro da Revista "Nau Catrineta" em 1931 
no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)




Reportagem do Notícias Ilustrado sobre a Revista à portuguesa "A Pérola da China", 
no Teatro Maria Vitória em 1934 (arq. pess.)



Quadro da Revista "A Arca de Noé", em 1936 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Cartaz da Revista "Cartaz de Lisboa", em 1937 
no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)




Cartaz da Revista "Cartaz de Lisboa", de 1937 
no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Quadro  da Revista "Cartaz de Lisboa", com Mirita Casimiro, no Teatro Maria Vitória em 1937 
(foto da col. de Octávio Sedas)



Texto de canção cortado com o lápis azul e classificado pela censura 
do Estado Novo em 1938 (arq. priv.)



Quadro de Revista à portuguesa no Teatro Maria Vitória com Beatriz Costa 
em meados dos anos 30 (arq. priv.)



Aspecto do Parque Mayer, vendo-se em primeiro plano o Teatro Maria Vitória 
em meados dos anos 40 (arq. AML)



Planta da sala do Teatro Maria Vitória em 1940 (arq. pess.)




Reclame do jornal O Século da Revista  "Bailarico"
 no Teatro Maria Vitória em 1940 (arq. priv.)


Coristas no Teatro Maria Vitória em meados da década de 1940 (arq. priv.)



Cartaz da Revista "Voz do Povo"no Maria Vitória em 1942 
(arq. priv.)



Exterior do Teatro Maria Vitória em 1943, foto Eduardo Portugal (arq. Torre do Tombo)



Quadro da Revista "Esquimó Fresquinho..." no Teatro Maria Vitória em 1949 (arq, priv.)



Quadro da Revista "Festa é Festa" no Teatro Maria Vitória em 1955 (arq. priv.)


Reclame da Revista "O Reboliço" em 1956 no Teatro Maria Vitória 
(arq. pess.)


Quadro da revista "O Reboliço", em 1956 com Beatriz Costa, Humberto Madeira e Eugénio Salvador 
no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)


Quadro da Revista "Tudo na Lua", em 1959 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Cartaz da Revista  "Ó Pá, Não Fiques Calado!", em 1963 
no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Cartaz da Revista "O Prato do Dia", em 1970 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Cartaz da Revista "Até Parece Mentira..!" primeiro espectáculo
 após o 25 de abril de 1974 no Teatro Maria Vitória
(arq. priv.)


Quadro da Revista "O Bombo da Festa", em 1976 no Teatro Maria Vitória (arq. pess.)



Quadro da Revista "O Bombo da Festa", com Ivone Silva em 1976 
no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)


Quadro da Revista "Mais Vale Sá que mal acompanhado!", em 1980 no Teatro Maria Vitória 
com Eugénio Salvador, Ana Zanatti e Carlos Coelho (arq. priv.)



Uma das mais tristes noticias sobre o Teatro Maria Vitória, 
o incêndio que aconteceu no dia 10 de maio de 1986 
(arq. priv.)



Quadro da Revista "Quem Tem Cu Tem  Medo!", em 1993 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Cartaz da Revista "De Pernas Pró Ar!", em 1994 
no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)


Quadro da Revista "De Pernas para o Ar!", em 1994 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)




Cartaz da Revista "Hip-Hop'arque!", em 2008 
no Teatro Maria Vitória (col. pess.)


Bilhete da Revista "Hip-Hop'arque!", de 2008 (col. pess.)




Quadro da Revista "Lisboa Amor Perfeito", em 2014 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Quadro da Revista "Parque à Vista!", em 2014. no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Quadro da Revista "Pare, Escute e...Ria!", em 2019 no Teatro Maria Vitória (foto Jorge Azevedo)



Cartaz da Revista "Vamos ao Parque", em 2021 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Quadro da Revista "Vamos ao Parque!", em 2021 no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)




Aspecto do palco do Teatro Maria Vitória durante uma revista na actualidade (arq. priv.)




Aspectos da sala, palco e plateia do Teatro Maria Vitória na actualidade (arq. priv.)



Aspecto do histórico Teatro Maria Vitória na actualidade (foto Paulo Nogueira)



Teatro Maria Vitória a "Catedral da Revista à portuguesa" no Parque Mayer 
na actualidade (foto Paulo Nogueira)







TEATRO VARIEDADES




Um outro espaço famoso do Parque Mayer foi o Teatro Variedades, pensado sob a forma de teatro-bôite, a erigir sobre um dos lagos dos jardins do palacete Lima Mayer. Com projecto encomendado pela Empresa Variedades, Lda., de Luís Galhardo, ao arquitecto José Urbano de Castro (1923), a construção teve início em janeiro de 1924, ficando a cargo do Eng.º António Casimiro da Costa. O Teatro Variedades inaugurou em 8 de julho de 1926 com a revista "Pó d'Arroz", com Anita Salambó, o estreante Vasco Santana e Costinha. Em 1927, passou a apresentar sessões de cinema. Dos primeiros êxitos a estrear no Teatro Variedades foi mais tarde em 1929 a Revista à portuguesa "Chá da Parreirinha". O teatro sofreu grandes alterações na década de 1930 e até à década de 1960 ofereceu, em média, 5 espectáculos por ano. A par com os outros teatros do Parque Mayer, foram muitos os êxitos e sucessos de teatro de Revista à portuguesa que passaram pelo Teatro Variedades ao longo de muitos anos e grandes vedetas do meio artístico nacional viriam a "nascer" neste espaço cénico. Em 1964, recebeu a Comp.ª Amélia Rey Colaço, desalojada do Teatro Nacional D. Maria II, motivado por um violento incêndio e em 22/11/1966 foi o próprio Teatro Variedades alvo de incêndio na caixa do palco, cujas obras de recuperação acrescentaram espaços anexos na zona posterior. Em dezembro de 1990 e depois de importantes obras de recuperação da iniciativa dos empresários Helder Freire Costa e Vasco Morgado Júnior, reabre este teatro com a estreia de um novo espectáculo, "A Grande Festa", uma revista em musical ou uma nova e moderna forma deste género de espectáculo tão popular. Em 1992, o encenador Filipe La Féria produziu e gravou para a RTP1 o programa "Grande Noite", uma série com 26 episódios que reunia artistas que se distinguiram no Parque Mayer. Havia vontade em fazer com que aquele espaço voltasse àquilo que era, mas o destino parecia querer manter-se cruel. O Parque Mayer ficou ao abandono e o Teatro Variedades nunca mais voltou a receber espectáculos. No ano de 1995, acolheu a última Revista, depois de ter servido de palco a peças contemporâneas e a programas televisivos. Descaracterizado por inúmeras intervenções, esteve devoluto quase 30 anos. e fechou portas definitivamente o Teatro Variedades. O Teatro Variedades ficou durante largos anos desactivado à espera de obras de requalificação ou adaptação. Em março de 2019, a Câmara Municipal de Lisboa decidiu aplicar uma multa, no valor de 728.500 euros, ao empreiteiro responsável pela requalificação do Teatro Variedades, assim como a resolução do contrato e a anulação do saldo da empreitada no montante de mais de três milhões de euros. No seguimento dessa situação, as obras de requalificação do Teatro Variedades voltaram a ser adjudicadas, em 31 de janeiro de 2020, à empresa Construções Gabriel A. S. Couto, SA., pelo valor de 4,798 milhões de euros e prazo de 540 dias, segundo a autarquia. A obra tem avançado mas com muita controvérsia e incertezas em seu redor, visto o traçado original e algumas das características principais deste teatro se terem perdido. Apesar de toda a controvérsia, são iniciadas as obras para a recuperação do Teatro Variedades onde entre muitas alterações, a cobertura será mudada e haverá uma reabilitação tanto da sala como do palco. A zona envolvente também sofrerá algumas obras. O novo Teatro Variedades está apto para receber vários tipos de espectáculos tal como acontece no Capitólio, também instalado na zona do Parque Mayer e que foi renovado há poucos anos. Será o arquitecto Manuel Aires Mateus os responsável por dar uma nova vida ao emblemático edifício do Parque Mayer. A previsão é que possa ser inaugurado em 2022 ou 2023.


Fachada original do Teatro Variedades no início dos anos 30 (arq. AML)

Aspecto lateral do Teatro Variedades em meados dos anos 30 (arq. AML)


Anúncio da primeira Revista à portuguesa "O Pó d'Arroz", 
que inaugurou Teatro Variedades no Parque Mayer  
em 8 de julho de 1926 (col. priv.)


Panfleto da primeira peça que inaugurou o Teatro Variedades em 1926
(arq. priv.)


Cartaz da Revista "O Bom Sucesso", em 1927 no Teatro Variedades (arq. priv.)


Parte da Companhia do Teatro Variedades com coristas em 1929 (arq. priv.)


Cartaz da Revista à portuguesa "Chá da Parreira"
no Teatro Variedades em 1929 (arq. priv.)


Quadro da revista "Chá de Parreira" no Teatro Variedades em 1929
(arq. Museu Nacional do Teatro) 


Quadro da Revista "Chá de Parreira", em 1929 no Teatro Variedades 
(arq. priv.)


Cartaz da Revista "O Mexilhão", em 1931 no Teatro Variedades
(arq. pess.)



Quadro da Revista "Pim Pam Pum...", em 1931 no Teatro Variedades (arq. priv.)



Quadro da Revista "Pernas ao Léu!", em 1933 no Teatro Variedades (arq. priv.)



Cartaz da Revista "O João Ninguém" em 1936 
no Teatro Variedades (arq. priv.)



Cartaz da Revista "Arre, Burro...", em 1936 no Teatro Variedades 
(arq. priv.)



Quadro da Revista "Arre, Burro..." em 1936 no Teatro Variedades (arq. priv.)



Planta da sala do Teatro Variedades em 1938 (arq. pess.)


Teatro Variedades onde se representaram muitos e famosos êxitos da Revista à portuguesa 
no Parque Mayer em medos dos anos 30 (arq. AML)



Anúncio de espectáculo em cena no Teatro Variedades em 1947
(arq. Museu do Teatro)


Quadro da Revista "Abril em Portugal", em 1956 no Teatro Variedades (arq. priv.)



Lateral do Teatro Variedades em meados dos anos 50 (arq. priv.)



Cartaz da Revista "Pernas à Vela", em 1958 
no Teatro Variedades (arq. priv.)


Os três surdos no quadro da Revista "Pernas à Vela" em 1958 com Barroso Lopes, 
Humberto Madeira, Eugénio Salvador e Raúl Solnado, 
no Teatro Variedades (arq. priv.)


Quadro da Revista "Com jeito Vai..." em 1958 no Teatro Variedades (arq. priv.)



Cartaz da Revista "Ena Tantas!", em 1963 no Teatro Variedades (arq. priv.)



Quadro da Revista "Zero, Zero, Zé, Ordem Para Pagar", em 1966 no Teatro Variedades (arq. priv.)


Cartaz da Revista "Pois, Pois...", em 1967 no Teatro Variedades (arq. priv.)


Cartaz da comédia "Empresta-me o Teu Apartamento", em 1971 no Teatro-Variedades (arq. priv.)


Fachada do Teatro Variedades em 1971 (arq. AML)


Cartaz da Revista "Ó Pá Pega na Vassoura!", em 1974 no Teatro Variedades 
(arq. pess.)


Exterior do Teatro Variedades com o cartaz da Revista "Há Mas São Verdes!", em 1982 (arq. priv.)


Cartaz da Revista "Há Mas São Verdes!", em 1982 no Teatro Variedades 
(arq. priv.)


Cartaz da Revista "Ó Zé Arreganha a Taxa", em 1982 
no Teatro Variedades (arq. pess.)


Reclame da Revista "Prova dos Novos!", em 1988 no Teatro Variedades (arq. priv.)


Cartaz da Revista "Ao que Nós Chegamos...", em 1994 
no Teatro Variedades (arq. priv.)



Sala e palco do Teatro Variedades no seu fim no inicio da década de 2000 (arq. peiv.)


Teatro Variedades em meados de 2009 já desactivado (foto Paulo Ribeiro)

Aspecto do Teatro Variedades em 2019 na fase do início das obras de recuperação (foto Paulo Nogueira)


Projecto do novo Teatro Variedades (arq. priv.)

Detalhe da fachada principal do Teatro Variedades
 na actualidade após as obras de remodelação
(foto Paulo Nogueira)


Portas guarda vento da entrada do Teatro Variedades preservadas 
com monograma do teatro na actualidade
(foto Paulo Nogueira)



Moderna sala do Teatro Variedades na actualidade (foto Paulo Nogueira)


Aspecto geral do Teatro Variedades depois da remodelação na actualidade (foto Paulo Nogueira)



Com instalações precárias, o Parque Mayer foi-se tornando, aos poucos, um sítio carismático de diversão e boémia na cidade de Lisboa. Inicialmente "Avenida Parque" depois "Luna Parque" até Parque Mayer. Nos anos 30, começou por funcionar com petiscos e divertimentos como barracas dos "tirinhos", pista de "carrinhos de choque", carrosséis de feira, "roleta diabólica", atracções várias, como o circo do El Dorado, e combates de boxe e luta-livre, sendo essas as atracções de grande peso até meados dos anos 40. É também no período da década de 1930, mais propriamente no dia 5 de junho de 1932, que foi anunciado o primeiro concurso de marchas populares no jornal Notícias Ilustrado, que juntamente com o jornal Diário de Notícias dinamizaram esta iniciativa. Esta ideia surgiu a partir de um desafio proposto pelo então director do Parque Mayer, o Dr. Campos Figueira de Gouveia (1898 - 1970), por José Leitão de Barros e António Joaquim Tavares Ferro (1895 - 1956). Isto porque era necessário arranjar um espectáculo capaz de mobilizar a atenção dos lisboetas. Todas as colectividades de cada bairro de Lisboa foram convidadas a participar e toda a produção ficou a cargo do Parque Mayer, apenas com 3 ranchos (como então eram conhecidos) concorrentes: O Bairro Alto, Campo de Ourique e Alto do Pina. O espaço do Parque Mayer revelou-se pequeno para tanta euforia! Outros três Bairros foram convidados para participar no certame mas fora de concurso: Alfama, Alcântara e Madragoa. Desde logo, a Câmara Municipal de Lisboa mostrou interesse em patrocinar esta iniciativa, o que veio a acontecer anos depois, em 1935, com as marchas incluídas pela primeira vez no programa das festas de Lisboa, participaram 12 Bairros, tendo esta iniciativa tido êxito desde 1932 até aos dias de hoje. 




A vida e a boémia no Parque Mayer por Bernardo Marques de 1933 (arq. pess.)




Bilhete de acesso ao recinto do já Parque Mayer 
ainda com designação de "Luna Parque" 
em 1935 (col. priv.)



Barraca de petiscos e divertimentos no Parque Mayer no início dos anos 30 (arq. AML)



Exterior da barraca dos "tirinhos" ao alvo no Parque Mayer no início dos anos 30 (arq. AML)



Interior da barraca dos "tirinhos" ao alvo no Parque Mayer no início dos anos 30 (arq. AML)



Pista de "carrinhos de choque" no Parque Mayer em meados dos anos 40 (arq. AML)




Uma iniciativa ocorrida no Parque Mayer e de sucesso até hoje, 
as "Marchas Populares de Lisboa" (arq. priv.)


A Marcha de Alfama, organizada pela Academia Recreativa Leais Amigos
 em 1932 (arq. DN)





CINE-TEATRO CAPITÓLIO



É construído outro importante teatro neste espaço do Parque Mayer, o Teatro Capitólio, sendo este, pelo traço do arquitecto Luís Cristino da Silva (1896-1976), o mesmo que desenharia o pórtico da entrada com as suas típicas colunas estilo art déco iluminadas, um importante marco da arquitectura modernista em Portugal. O teatro foi inaugurado em 31 de julho de 1931, pelo então administrador da Avenida Parque, Dr. Campos Figueira, este recinto modernista, sucessor da esplanada Egípcia e inicialmente utilizado como salão de música e variedades, exibiu cinema e teatro, à maneira de cine - teatros. Foi pioneiro em muitas inovações para a época no nosso país, dispunha de um passadiço e escada rolante, o primeiro em Portugal, que dava acesso a um terraço onde se exibia cinema ao ar livre no verão e uma pista de patinagem no gelo, sendo ainda este cinema equipado com um dos melhores sistemas de som, da marca alemão, Bauer. O Cine-teatro Capitólio, como era designado, também exibiu teatro de Revista e estreia-se neste estilo de teatro em 1938 com a Revista "Pega-me ao Colo!". Os anos da Segunda Guerra Mundial são considerados os mais negros para a Revista à portuguesa, devido ao mal estar que se vivia e o receio de eventuais represálias sobre a cidade de Lisboa por parte dos alemães. A cidade de Lisboa mesmo com os seus edifícios históricos e monumentos protegidos por sacos de areia e as janelas de muitas habitações e montras estabelecimentos comercias protegidas com fitas de papel adesivas para evitar quedas de vidros em caso de ataques, continuou, apesar desta crise, com muitos sucessos de espectáculos de teatro de Revista à portuguesa. Exemplos de alguns desses sucessos de espectáculos em tempo de guerra foram as Revistas à portuguesa "A Tendinha" em 1941, "A Voz do Povo" em 1942, ou "Cantiga da Rua" em 1943, entre muitas outras peças de enorme sucesso e que ficariam para a história deste género teatral. De 1968 a 1970 a Companhia de Amélia Rey Colaço instalou-se no Cine-teatro Capitólio.  Depois do período áureo dos espectáculos de Revista à portuguesa, este espaço passa a funcionar mais como cinema. Ficaram famosos alguns espectáculos e concursos musicais produzidos e apresentados no Cine-teatro Capitólio durante a década de 1960. Foram exemplos disso as Tardes para Gente Jovem com apresentação de cinema, bailes, o Festival de Ritmos Modernos e o espectáculo "Duas Pernas 1 Milhão" em 1967.  Após a Revolução de 25 de Abril, o Cine-teatro Capitólio voltou às manchetes tendo, durante várias semanas, apresentado, com cinco ou seis sessões diárias, quase sempre esgotadas, o mítico filme pornográfico "Garganta Funda", realizado por Gerard Damiano e estrelado por Linda Lovelace, marcando a recepção dos lisboetas à liberdade e num novo rumo de programação da sua sala. "A Senhora Sabe da Poda?", "China Girl", "O Diabo em Miss Jones" e "No Cetim, Já Experimentou?" foram alguns dos muitos filmes eróticos e pornográficos de que, a partir de então, o espaço do Cine-teatro Capitólio passou a ser casa. No princípio da década de 1980, o rinque de patinagem no último piso do edifício foi utilizado como discoteca onde se podia patinar ao som de música, chamava-se então "Roller Magic". A meio dos anos 1990 o Cine-teatro Capitólio, muito degradado fechou.  Em 12 de dezembro de 2007 a Câmara Municipal de Lisboa aprovou a reabilitação do teatro e a recuperação do projecto original, bastante adulterado por obras posteriores para o tornar num espaço para várias artes de palco, dança, teatro e música. Esta requalificação do teatro custou entre 8,5 e 10 milhões de euros, provenientes das contrapartidas financeiras a entregues pelo Casino Lisboa. A requalificação foi da responsabilidade do arquitecto Alberto Souza Oliveira. A reconstrução foi iniciada no primeiro trimestre de 2012 e ficou concluída em novembro de 2016. Em agosto de 2017, a promotora aveirense Sons em Trânsito foi a vencedora do concurso de exploração do Cine-teatro Capitólio por 5 anos, e quer que a programação da renovada sala de espectáculos se baseie em três vectores: música, humor e cinema. Actualmente e devido ao plano de requalificação do Parque Mayer esta em avançado estado de recuperação, não mantendo as características originais, no entanto a sua fachada típica irá manter-se e aqui instalar-se-á um novo espaço cultural que incluirá uma escola de teatro, estando proposto o nome do actor Raul Solnado para denominar este renovado edifício, acabando por ficar o seu nome original Capitólio.



Projecto da fachada do Cine-teatro Capitólio da autoria de Luís Cristino da Silva (arq. priv.)


Plantas do projecto do Cine-teatro Capitólio de 1935 (arq. priv.)


Aspecto da construção do Cine-teatro Capitólio em meados de 1930 (arq. AML)


Fachada em estilo art déco do Cine-teatro Capitólio
 onde alguns êxitos da Revista à portuguesa
 se viriam a representar, 
em meados dos anos 30 
(arq. AML)


Reclame à abertura do novo espaço do Parque Mayer, Cine-teatro Capitólio, de 1931 (arq. priv.)


Aspecto do palco do Cine-teatro Capitólio em 1932 (arq. AML)


Esplanada e terraço do Cine-teatro Capitólio em 1932 (arq. AML)


Programa do  Cine-teatro Capitólio de 1932 (arq. priv.)


Aspecto das bilheteiras em estilo art déco do Cine-teatro Capitólio na entrada do Parque Mayer 
em meados dos anos 30 (arq. AML)

Pórtico da entrada do Parque Mayer com as suas típicas colunas estilo art déco
iluminadas, em 1932, da autoria de Luís Cristino da Silva (arq. pess.)

Cartaz da Revista "Pega-me ao Colo!", a primeira a ser exibida
 no Cine-teatro Capitólio em 1938 (arq. priv.)




Cartaz dos espectáculos Americanos, organizados 
pelo Cine teatro Capólio, no Parque Mayer 
(arq. priv.)




Quadros da Revista "A Vida é Bela", em 1960 no Cine teatro Capitólio (arq. priv.)




Cartaz da Revista "Tá Bem Deixa!" de 1961 
no Cine-teatro Capitólio (arq. priv.)




Reclame da Revista "Na Brasa!", em 1964 no Cine teatro Capitólio (arq. pess.)




Reclame de programação para
 o Cine-teatro Capitólio
 em 1967 (arq. pess.)


Reclame do espectáculo musical "Duas Pernas 1 Milhão", 
em 1967 no Cine teatro Capitólio (arq. pess.)




Aspecto degradado e descaracterizado do Cine-teatro Capitólio 
em meados dos anos 90 (arq. priv.)





Maquete do projecto para o novo Capitólio (arq. priv.)



Frontão estilo art déco do Cine-teatro Capitólio nos anos 90 e na actualidade 
após as obras de renovação (fotos Paulo Nogueira)


Terraço do renovado Cine-teatro Capitólio na actualidade (arq. priv.)


Palco e plateia do renovado Cine-teatro Capitólio na actualidade (arq. priv.)


Aspecto geral do novo Teatro Capitólio renovado na actualidade (foto Paulo Nogueira)


Fachada estilo art déco do novo Teatro Capitólio
 renovado na actualidade
(foto Paulo Nogueira)




TEATRO ABC



Na década de 1950, mais propriamente em 1956 edificou-se o último dos recintos do Parque Mayer, o Teatro ABC, segundo um ideia do empresário José Miguel, abre as portas em 13 de janeiro de 1956 com a Revista "Haja Saúde" de Frederico de Brito e Carlos Lopes, com Curado Ribeiro e Maria Domingas. O Teatro ABC foi o último recinto a ser inaugurado no Parque Mayer, um edifício simples sem traços arquitectónicos mas com uma importância igual aos demais teatros do Parque Mayer. Quase escondido ao fundo da rua que ladeia o Teatro Maria Vitória, no espaço ocupado por este teatro, precedera-o uma série de restaurantes – bar e casas de espectáculos como o Alhambra, parte do Pavilhão Português, Galo de Ouro, Baía e Casa Blanca. Foram muitos os êxitos apresentados no Teatro ABC, todos eles desde o seu início, espectámos mais arrojados e desafiando a liberdade de expressão. Após a apresentação da primeira Revista, seguiram-se, mais 46 revistas, intercalando com os espectáculos infantis e outros espectáculos diversificados, mas efectivamente, o Teatro ABC foi predominantemente um teatro de Revista.Por este teatro passaram depois da Revolução do 25 de Abril de 1974, espectáculos de cariz erótico como o famoso "Isto é Crazy Horse" de Sérgio Azevedo. No ano de 1978 estreia  a Revista "Põe-te na Bicha", onde António Calvário interpretou a canção "Mocidade, Mocidade", tema que perdura ainda na memória do grande público. Em 1990, acolheu Camilo de Oliveira e o seu espectáculo, "Ai Cavaquinho" e nesse período ocorre um incêndio no teatro que praticamente o destruiu.  Após o incêndio que devastou o Teatro ABC, são Carlos Santos e Manuel Nunes, que devolveram de novo o teatro à cidade, um novo Teatro ABC, renascia então das cinzas. Será com a Revista "Lisboa Meu Amor" que o espaço do  Teatro ABC volta a nascer em 1993! Mas a crise neste tipo de espectáculo e os poucos ou nenhuns apoios faz com que os dias estivessem contados para este teatro. Encerrou as suas portas definitivamente em 1997 depois da Revista "Preço Único". Após alguns anos de abandono, em janeiro de 2015 a Câmara Municipal de Lisboa demoliu este espaço para dar lugar a mais um prolongamento do parque de estacionamento da EMEL no Parque Mayer. Acaba assim o último teatro do Parque Mayer, um espaço que pelo seu historial e seus fundadores, se pode considerar como o teatro da liberdade de expressão na Revista à portuguesa.


Fachada do Teatro ABC após a sua inauguração em 1956 (arq. AML)


Anúncio da Revista "Haja Saúde!", a primeira a ser exibida no Teatro ABC em 1956 (arq. priv.)


Quadro da Revista "Casa da Sorte" em 1957 no Teatro ABC (arq. priv.)

Reclame da Revista "D' Aqui Fala o Zé" em 1958 no Teatro ABC (arq. pess.)


Quadro da Revista "Sete Colinas" em 1960 no Teatro ABC, 
com Ivone Silva, Artur Garcia e Helena Tavares 
(arq. priv.)


Cartaz da Revista "O Trunfo é Espadas", em 1961 
no Teatro ABC (col. priv.)


Cartaz da Revista "Mini - Saias", em 1966 no Teatro ABC (col. priv.)

Quadro da Revista "A Senhora de Poucas Falas" em 1966 no Teatro ABC (arq. priv.)


Fachada do Teatro ABC em 1974 anunciando a Revista "Isto é Crazy Horse!" (arq. priv.)



Quadros da Revista "Uma no Cravo, Outra na Ditadura" em 1974 no Teatro ABC (arq. priv.)

Cartaz da Revista "Tudo a Nu", em 1974 no Teatro ABC (col. priv.)


Quadro da Revisto "Lisboa Tejo e Tudo", no Teatro ABC em 1988 (arq. priv.)


Reclame da Revista "Ai Cavaquinho", em 1990 no Teatro ABC (arq. priv.)


Quadro da Revista "Mama eu Quero", em 1996 no Teatro ABC (arq. priv.)

Exterior do Teatro ABC após o fim e abandono nos anos 90 (arq. priv.)

Exterior do Teatro ABC nos seus últimos tempos antes da demolição em 2015 (foto Paulo Ribeiro)


Surgem os pequenos quiosques de venda de gelados (Iglô, Esquimaux, Rajá) e de venda de chocolates e guloseimas, recordando-se as caixas de furo da Regina. No decorrer destas duas décadas, o Parque Mayer nos meses de Verão transformava-se numa pequena Feira Popular… Com cada vez mais apreciadores e o reconhecimento do fado como canção nacional, os estabelecimentos de restauração com apresentação de espectáculos musicais e de variedades, passam a apresentar sessões de fado com mais frequência citando-se entre outros, o Salão Artístico de Fados (desde 1934), a Fortaleza da Severa (em 1932 era o antigo Castelo dos Mouros), a Mina (Júlio das Farturas) a "Sala Júlia Mendes" em 1950 e também o Pavilhão Português e o Alhambra com as suas memoráveis grandes sessões de fado nas noites cálidas de Verão, sempre com muita afluência dos amantes do fado. Outras casas de espectáculo existiram no Parque Mayer mas tiveram vida mais efémera, como foi o caso do Teatro Recreio em 1937, que foi edificado por iniciativa do empresário Giuseppe Bastos (1911 - 1975) e esteve apenas três anos em funcionamento. Este teatro estreou com a revista "Faça Sol", esta casa de espectáculos, vizinha do restaurante "Gato Preto", foi extinto em 1940, para dar lugar a um ringue de boxe e luta livre. É inaugurado o famoso Estádio Mayer, onde havia basquetebol, luta livre americana e depois o boxe, ali se revelaram Belarmino Fragoso e Carlos Rocha, entre outros. Em 1956, realizou-se no Estádio Internacional, o tão esperado combate de Boxe entre os dois maiores pugilistas da época: Belarmino Fragoso contra Chico Santos, ambos representantes do Grupo Desportivo da Mouraria, com vitória aos pontos deste último. Lotação esgotada e imenso povo fora do estádio internacional para ouvir o relato do famoso combate. Na modalidade de luta livre, destacaram-se os lutadores, com nome artístico de Jack Rocha, El Moreno, Loosen, Saludes, Júlio Neves, Kid Max, e já na década de 60, terá ai actuado o maior entre os maiores, Tarzan Taborda, ídolo máximo dos apreciadores do género. Estes espectáculos de boxe e luta Livre, prosseguiram ao longo da década de 50 (época áurea), tendo o espaço sido desmantelado em meados dos anos 60 e transformado num parque de estacionamento. No início da década de 1970  voltaram a realizar-se alguns combates num ringue montado para este efeito, até 1982 ano em que cessaram de vez. Já em meados dos anos 70 acaba este tipo de espectáculo e este espaço é transformado num triste parque de estacionamento já no final da década de 70. Durante as décadas de 50 e 60 continuou-se a exibir cinema no Parque Mayer, no Cine-teatro Capitólio e no Pavilhão Português. Também nos teatros do Parque Mayer começaram carreiras artísticas de nomes que viriam a ser de grande referência na Revista à portuguesa e não só. Entre muitos nomes do passado, são exemplo disso Dina Tereza (1902 - 1984), mais tarde famosa actriz no primeiro filme sonoro português, "A Severa", Beatriz Costa (1907 - 1996), que tanto sucesso fez depois no cinema, Eugénio Salvador Marques da Silva (1908 - 1992), um nome que vira a ser referência no panorama teatral da Revista à portuguesa, também como bailarino e empresário teatral, entre muitos outros. Dos nomes mais recentes e da actualidade, igualmente a lista é extensa mas relembrando alguns como Carlos Leal, Leónia Mendes, Eugénio Salvador, Camilo de Oliveira, Io Apolloni, José Viana, Dora Leal, Mariema, Octávio de Matos, Victor Mendes, Barroso Lopes, Henrique Santana, Raul Solnado, Florbela Queirós, Anabela, Carlos Miguel, Nicolau Breyner, Carlos Cunha, Marina Mota, Natalina José, Ivone Silva, José Raposo, Maria João Abreu, Paulo Vasco, Flávio Gil, João Baião, Vera Mónica, entre tantos outros com carreiras de grande sucesso.



Ambiente do Parque Mayer em meados dos anos 30 com vendedor ambulante de gelados
 naquele espaço de lazer, numa reconstituição do filme Parque Mayer (arq. priv.)


Publicidades a espectáculos nos diversos espaços lúdicos do Parque Mayer 
que foram surgindo ao longo dos tempos (arq. priv.)


Vista aérea do Parque Mayer em meados dos anos 30 já com os seus teatros (arq. AML)


Um dos teatros do Parque Mayer em finais dos anos 20 que apesar de ter exibido 
algumas peças de sucesso não sobreviveu (arq. AML)

Recinto do Estádio Mayer onde havia entre outros desportos, luta livre e boxe 
em meados dos anos 40 (arq. AML)


Anúncios a sucessos de boxe e luta livre no Parque Mayer 
ao longo das décadas de 40,50,60 e 70 (arq. priv.)


Combate de boxe no Parque Mayer em 1948 (arq. AML)

Noticia de anunciando um  combate de boxe no Estádio Mayer 
em meados dos anos 50 (arq. priv.)


Bilhete de combate de boxe no Parque Mayer de setembro de 1976 (col. priv.)


Bilheteiras do Parque Mayer em meados dos anos 50 com cartazes a anunciar 
sucessos cinematográficos de então, foto Artur Bourdain de Macedo
(arq. AML)


Detalhe da entrada e bilheteira do Parque Mayer em meados dos anos 60
 anunciando exibição de cinema (arq. AML)



                           
Grandes figuras do teatro de Revista e do cinema 
com carreiras iniciadas no Parque Mayer
(arq. priv.)

        


O Parque Mayer desde o seu início, ainda como Avenida Parque, teve as suas figuras típicas, mais ou menos conhecidas até às anónimas, que também lá fizeram vida. Exemplos disso como a conhecida "Aidinha das jóias", que vendia bijutarias de camarim em camarim, ou o "Félix do Benfica", assíduo do retiro da "Amadora", o conhecido por muitos como "homem do fato escuro", baptizado por Vera Lagoa, copista oficial de quase todos os teatros de Lisboa, e nomeadamente, António Paiva, fundador do guarda roupa Paiva, que vestiu gerações de vedetas, desde a fundação do Parque Mayer, tendo sobrevivido até meados de 2007, com mais de 30 mil fatos para alugar (muito requisitado para festas de Carnaval e Natal). Este guarda roupa  "Casa Paiva", granjeou fama, cujo responsável homónimo se fez enquanto gerente do guarda-roupa do empresário Luís Galhardo, desde o início no Parque Mayer. Locais que ficaram famosos no Parque Mayer como o Salão Artístico – cabeleireiro, a banca de livros do alfarrabista Anselmo, a venda dos capilés na banca da Dona Rosa e dos pirolitos da Dona Adélia, conhecida como a Adélia dos Pirolitos. Para além da restauração com apresentação de espectáculos musicais e de variedades, passam a apresentar sessões de fado com mais frequência citando-se entre outros, o "Salão Artístico de Fados" (desde 1934), a "Fortaleza da Severa" em 1932 (o antigo Castelo dos Mouros), a Mina (Júlio das Farturas) a "Sala Júlia Mendes" em 1950. Os Bares/Dancing/Cabaret como "Arcádia" em 1944, o restaurante music hall "Baia" em 1947, o "Victória Dancing" em 1952, "Cantinho dos Artistas" em 1962, e "Dominó" em 1990 que apresentavam espectáculos de variedades e musicais, que eram muito frequentados pelos apreciadores do ambiente de "cabaret" e da nostalgia da noite, mas também apreciadores de vivências com algumas intimidades à mistura. Foi ponto para  encontros furtivos de todas as opções e estilos de vida mundana, de boémia, mas também de convívios e tertúlias. Passaram pelo Parque Mayer todos ou quase todos os estilos de espectáculos, operetas, comédias e cinema. O Pavilhão Português exibia muitas fitas velhas, a preços baratos, em noites cálidas de Verão. Existiam as barracas dos alfarrabistas, ao fundo, depois do Maria Vitória era o Teatro ABC, a seguir era o restaurante Manuel, nas traseiras havia mais restaurantes, na ruela ao lado do Cine-teatro Capitólio era a casa-estúdio do Mário Alberto, passando entre o Capitólio e o Variedades, para a esquerda havia o guarda-roupa Anahory, depois o restaurante Mimi, das três irmãs Amadora na cozinha, eram Vitória ao balcão e a Mimi às mesas. Acolheu ainda em 1967, a Companhia Amélia Rey Colaço Robles Monteiro, no Cine-teatro Capitólio, após o incêndio no Teatro Avenida por onde tinham passado. Criado com a ambição de ser um pólo teatral, impôs-se como centro de teatro de Revista, e feira popular moderna, sobreviveu à censura de António Salazar e Marcello Caetano, à rádio e ao cinema, ao futebol, à revolução dos cravos, à televisão e às telenovelas. É como um "sempre em pé", embora tenha atravessado várias crises. Foi como que uma Broadway à portuguesa e uma aldeia dentro da cidade. A suposta decadência não evitou a gula disfarçada de propostas de remodelação urbanística, em crescendo desde os finais dos anos 60. Ao longo da sua história, o Parque Mayer foi o espelho de muitas das mudanças na sociedade lisboeta, nos seus avanços e recuos. Testemunha destas mudanças foi o pintor, maquetista, cenógrafo e figurinista Mário Alberto, conhecido como o último "resistente" do Parque Mayer. Ali o artista tinha o seu atelier num primeiro andar, onde passou a morar desde 1973. Conviveu e colaborou com artistas e profissionais do teatro tendo assinado a cenografia e os figurinos de inúmeras revistas que aí subiram à cena. O artista manteve-se por lá até sofrer um AVC no início da década de 2000. Morreu em 2011, já internado no Lar dos Antigos Alunos da Casa Pia, em Lisboa. O Parque Mayer tornou-se no centro da Revista à portuguesa, não obstante outros teatros de Lisboa terem exibido este tipo de espectáculo também, ficando conhecido mais tarde, o próprio Teatro Maria Vitória, como a "catedral do teatro de Revista". Os teatros do Parque Mayer, foram responsáveis por cerca de 304 das 651 Revistas produzidas entre 1922 e 2002 ou seja, quase metade do total. Daí o seu contributo para o teatro de Revista, e para o teatro em geral, seja relevante. A menor quantidade de Revistas em palco desde os anos de 1994/95, não significa apenas uma redução da oferta, mas também que, na actualidade, cada espectáculo tem que estar mais tempo em cartaz. Longe vão os tempos em que as peças surgiam em catadupa, como nos anos 40 no Teatro Maria Vitória ou nos anos 60 no Teatro ABC, com cerca de 29 e 25 revista, respectivamente e das matines aos domingos. Mais distantes estamos ainda da época em que uma peça durou apenas uma semana no Teatro Maria Vitória nos anos 30. A partir dos anos 70 e até à década de 80, cada revista passou a ter uma carreira mínima de 3 meses.


Ponto de encontro na esplanada do Pavilhão Portuguez no Avenida Parque 
em meados dos anos 20 (arq. AML)


Figuras masculinas desconhecidas que se aglomeravam pela noite
nos espaços do Parque Mayer nos anos 20
(arq. pess.)


Anúncio do "Salão Artístico de Fados" no Parque Mayer à fadista Berta Cardoso 
em meados dos anos 30 (arq. priv.)


Anúncio a espectáculo no restaurante music hall "Baía" 
em 1947 no Parque Mayer (arq. pess.)


Uma figura habitual do Parque Mayer junto da entrada de artistas do Teatro Maria Vitória
 tendo ao fundo o Teatro ABC no início dos anos 60 (arq. AML)


Aspecto de esplanada no recinto do Parque Mayer em meados dos anos 60 (arq. AML)


Fachada do Teatro Maria Vitória em meados dos anos 60 (arq. AML)


Fachada do antigo Pavilhão Português no Parque Mayer no início dos anos 50, 
onde se exibiu cinema (arq. AML)


Cenógrafo e figurinista Mário Alberto 1925 - 2011, 
fez parte das figuras do Parque Mayer e ai viveu
(arq. priv.)


Público na entrada do Parque Mayer em meados dos anos 50 (arq. AML)


Reclame de jornal às várias Revistas em exibição em simultâneo no Parque Mayer nos anos 70
(arq. priv.)


Aspecto do Parque Mayer em meados dos anos 80, 
recantos das figuras habituais deste espaço
(arq. AML)


Anúncios a espectáculos de Revista no Parque Mayer em 1983 (arq. priv.)


A história do Parque Mayer é indissociável do percurso político, social e cultural do país. Com as alterações politicas que se iniciam em Portugal a partir de 1933, também o teatro de Revista à portuguesa sofre alterações e a censura será uma realidade nas décadas que se seguem. Os números das Revistas e letras de canções são censurados, só algumas rabulas ao novo regime do Estado Novo e a António de Oliveira Salazar (1889 - 1970), passam despercebidas ao famoso "lápis azul" dos censores do regime. Será no entanto uma época em que os conteúdos das rábulas e as criticas sociais vão ser mais elaboradas de modo a passar à censura que as irá acompanhar até ao fim do regime. Foi igualmente uma época de grandes sucessos do teatro da Revista à portuguesa. No início dos anos 70 assistiu-se, neste espaço, a uma completa renovação de autores, artistas e da própria estrutura da revista à portuguesa, como foi o caso, em 1972, de "É o fim da macacada", de Francisco Nicholson, Gonçalves Preto e Nicolau Breyner, no Teatro ABC. Tudo o que era intocável na fórmula da revista foi contestado. A esta mudança estão ligados autores como José Viana, Aníbal Nazaré, Francisco Nicholson e Gonçalves Preto, Henrique Santana, César de Oliveira, Rogério Bracinha e Augusto Fraga que ousaram abordar assuntos até aí interditos. Após o 25 de Abril de 1974, compreensivelmente, os autores apressaram-se a colocar em cena os quadros que tinham sido interditados pela censura. O uso do palavrão passou a ser recorrente em muitos dos textos levados à cena, em muitos casos com alguns excessos despropositados, redundando mesmo em pura obscenidade, sinais dos tempos e dos desejos exacerbados de liberdade. Assim, alguns trabalhadores do Teatro ABC decidiram sair para formar, em 1974, uma cooperativa de teatro, o Teatro Adoque. Propunham-se fazer um teatro de revista de tendências progressistas, e fixaram-se no Martim Moniz, num teatro desmontável que fora pertença da Companhia Rafael de Oliveira. No Parque Mayer mantiveram-se os artistas com uma ideologia mais conservadora e o repertório ressentiu-se, por vezes, desse excessivo zelo.


Autores de peças de teatro de Revista, Alberto Barbosa, José Galhardo e Vasco Santana 
em meados de 1934 (arq. pess.)


Os textos das peças do teatro de Revista não passam despercebidas ao famoso "lápis azul"
dos censores do regime do Estado Novo (arq. priv.)


Novos autores de teatro de Revista da década de 70, Henrique Santana, César de Oliveira,
Rogério Bracinha e Augusto Fraga (arq. priv.)

Entrada do Parque Mayer com anúncios aos espectáculos a serem exibidos 
em meados dos anos 70 (arq. priv.)



Actores da Revista que se mantiveram no Parque Mayer comemorando com 
Helder Freire Costa e Anita Guerreiro em meados dos anos 70 
(arq. priv.)


A primeira proposta de remodelação do Parque Mayer surgiu por volta de 1940 e preconizava o prolongamento do Jardim Botânico à entrada da Avenida da Liberdade. Essa posição, defendida por estudiosos como Gustavo Matos Sequeira e Olavo d’Eça Leal, recuperava a ideia que um movimento de opinião pública avançara em 1900 para contestar a construção do Palácio Mayer. Esta teoria manteve-se até à década de 1950. Já na década de 1970 surgem novas ideias de remodelação para o Parque Mayer, mas não passaram uma vez mais de projectos e aos poucos a degradação deste espaço, os seus teatros e espaços de diversão vai sendo notória. No ano de 1994, no âmbito de "Lisboa – Capital da Cultura" também se falou numa "renovação dos espaços teatrais" que incluiria o Parque Mayer, o que acabou por não se verificar. Tal proposta, que ia ao encontro do sonho dum "pulmão de Lisboa", do escritor Fialho de Almeida, visava dotar o Jardim Botânico de mais área e maior usufruto pelos cidadãos, pois ficaria com duas entradas, uma no centro e outra com acesso à Faculdade de Ciências de Lisboa. Do Parque Mayer apenas seria preservado o Cine-teatro Capitólio, classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1983. Em 1999 este espaço do Parque Mayer, foi adquirido pela empresa Bragaparques e encontra-se no meio de um conflito de interesses que impede a reestruturação deste espaço, embora seja invocada há décadas como compromisso de campanha de quase todos os candidatos à Câmara Municipal de Lisboa. Embora o Parque Mayer, em adiantado estado de degradação, apenas com o Teatro Maria Vitória a funcionar e três restaurantes, o "Manecas", a "Gina" e o "Gato Preto", em que brevemente apenas ficará só a "Gina". prepara-se para uma nova revitalização, graças à aprovação do seu novo "Plano de Pormenor". Nem todos estes espaços de restauração e convívio de tradição do Parque Mayer sobreviveram.


Alusão ao "fim" do Parque Mayer em 1950 
numa publicação da revista Flama
(arq. priv.)


Aspecto do Parque Mayer com o Teatro Variedades e alguns edifícios icónicos 
do seu início em 1992 (arq. priv.)


Vista aérea do Parque Mayer antes do início da recuperação, visto pelo Googlemaps


Aspecto do Parque Mayer antes da reabilitação do Cine-teatro Capitólio e Teatro Variedades 
(foto Rui Gaidencio)


Alguns dos famosos restaurantes e espaços de convívio que restaram
 no espaço do Parque Mayer em 2011 (fotos Paulo Ribeiro)


Planta para o projecto do novo Parque Mayer integrado o designado "Plano de Pormenor" da CML 
(arq. priv.)


Desenhos de projecto para o novo Parque Mayer (arq. priv.)


Na actualidade para além dos brevemente renovados Cine-teatro Capitólio e o Teatro Variedades, é o Teatro Maria Vitória o único a funcionar no recinto do Parque Mayer com apresentações de espectáculos de Teatro de Revista à Portuguesa. É tradicionalmente conhecido como a "Catedral da Revista", pois ali são exibidos os maiores sucessos deste género teatral. No entanto, também pelo palco do Teatro Maria Vitória passaram muito esporadicamente, outras formas de teatro, e com mais ou menos sucesso, também por lá fizeram história, assim em 2012 a peça musical infantil "A Estrela", com João Frizza, Marco Mercier e FF,  em 2013 a peça "Cumplicidades", com Paula Martin e Manuela Bravo, entre muitas outras peças. Ainda que de forma esporádica, o espaço do Parque Mayer tenha servido nos últimos anos como recinto de apresentação de espectáculos ao ar livre, concertos no âmbito dos festivais de verão ou gravações de programas de televisão numa tentativa de restituir a este espaço a vida de outrora, era visível o abandono e a falta de manutenção que hoje mudou substancialmente. Com a pandemia do COVID-19, também o Teatro Maria Vitória, que tinha em cena a Revista "Pare, Escute e...Ria!", teve de fechar as suas portas temporariamente, reabriu sem nenhum apoio do Estado, garantindo ter apenas duas escolhas: abrir e assumir o risco, que é altamente elevado, ou fechar definitivamente as portas. Felizmente e com bastante esforço mais uma vez o teatro manteve-se e a Companhia retomou com o grande sucesso, suspenso desde março por causa da resposta à pandemia e surge com novas rábulas e um elenco renovado. O Teatro Maria Vitória vai mantendo esta tradição, mercê da persistência do seu empresário e produtor, desde 1975, Helder Freire Costa, estando de Parabéns e merecendo grande homenagem, pelos seus 50 anos de empresário teatral, fazendo ele também parte da história do Parque Mayer, que  tem mantido o teatro aberto e em funcionamento, por vezes com algumas dificuldades, apresentando sempre espectáculos de grande qualidade, com artistas de grande mérito, autores, compositores, coreógrafos e cenógrafos. Desde o incêndio em 10 de maio de 1986 o Teatro Maria Vitória foi reaberto em 2 de fevereiro de 1990 com a nova revista "Vitória! Vitória!" e desde a sua abertura até hoje, tornou-se um teatro de grandes tradições revisteiras, pelo que é procurado por muitos excursionistas que do Minho ao Algarve encontram aqui a garantia de passarem uns bons momentos com os seus excelentes espectáculos e seus extraordinários artistas. Também os nossos emigrantes, sempre que passam em Lisboa, imediatamente se deslocam ao Teatro Maria Vitória para "matar saudades" deste género de espectáculo tão nosso. 



Vista aérea do Parque Mayer na actualidade, visto pelo Googlemaps



Aspecto do Parque Mayer na actualidade (foto Daniel Rocha)



Os muitos espectadores que diariamente continuam a passar e a aplaudir 
os sucessos no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)


Cartaz da peça musical infantil "A Estrela" exibida no Teatro Maria Vitória
 em 2012 (arq. pess.)




Cartaz da peça "Cumplicidades" exibido no Teatro Maria Vitória 
em 2013 (arq.pess.)


A actriz Paula Martin e a cantora Manuela Bravo, em 2013 no  palco do Teatro Maria Vitória 
na peça "Cumplicidades" (arq. priv.)



Quadro da Revista "Pare, Escute e Ria!", em 2020 no Teatro Maria Vitória (arq,. priv.)




Hélder Freire Costa, o empresário e produtor do Teatro Maria Vitória 
(foto Paulo Ribeiro)

Hélder Freire Costa 54 anos dedicados ao teatro. Parabéns!



Aspectos do Teatro Maria Vitória a "Catedral da Revista à portuguesa"
 no Parque Mayer na actualidade (fotos Paulo Nogueira)


Exemplo dos grupos organizados e individuais, que actualmente afluem 
ao Teatro Maria Vitória (arq. priv.)


Os muitos espectadores que diariamente continuam a passar e a aplaudir 
os sucessos no Teatro Maria Vitória (arq. priv.)



Finalmente, é de destacar o papel de grandes empresários dinâmicos que passaram e continuam a passar nestes 100 anos pelos teatros do Parque Mayer, como foi Vasco Morgado (Teatros Capitólio e Variedades), Humberto Madeira, Raul Solnado e Carlos Coelho que exploraram o Teatro Capitólio em 1960/61. O italiano Piero Bernardon (Teatro Variedades), Eugénio Salvador (um dos responsáveis pela revitalização do género), José Miguel e Carlos Santos (ambos no Teatro ABC, tendo o primeiro suportado o risco inicial e lançado talentos como Ivone Silva), Giuseppe Bastos (Teatros Maria Vitória e Capitólio) e Helder Freire Costa, um resistente que continua com grande empenho e resiliência à frente do Teatro Maria Vitória desde 1975 até à actualidade, com uma vasta equipa talentosa, também ela empenhada em manter vivo o teatro de Revista. Não esquecendo grandes cenógrafos, de entre muitos desses artistas pontificaram nomes como José Barbosa, Maria Adelaide Lima Cruz, António Amorim, Armando Barros, Pinto de Campos, Velez Lima e Mário Alberto, discípulo de Pinto de Campos entre muitos outros. 


O actor e empresário teatral Vasco Morgado 1924 - 1978 
(arq. DGPC)

O actor e empresário teatral Humberto Madeira 1921 - 1971
(arq. priv.)

O actor e empresário teatral Eugénio Salvador 1908 - 1992 
(arq. priv.)

O empresário teatral José Miguel 1908 - 1971 (arq. priv.)

O empresário Giuseppe Bastos 1911-1975 (arq. priv.)


O actual empresário do Teatro Maria Vitória Helder Freire Costa (foto Inês Leote)


Cenógrafo e figurinista Pinto de Campos 1908 - 1975 (arq. Museu Nacional do Teatro)


Cenógrafa e figurinista Maria Adelaide Lima Cruz 1908 - 1985 
(arq. pess.)


Cenógrafo e figurinista Mário Alberto 1925 - 2011 
(arq. priv.)



Foram muitos os temas da música ligeira portuguesa que saíram das inúmeras Revistas estreadas no Parque Mayer ao longo dos anos, os seus interpretes, que eles mesmo ficaram famosos pelos temas interpretados. Muitos desses temas ainda hoje são ícones da música ligeira portuguesa.


Interpretes de temas famosos dos quadros do teatro de Revista à Portuguesa 
no Parque Mayer (arq. pess.)

Entre muitos dos muitos êxitos saídos de Revistas estreadas no Parque Mayer, alguns dos exemplos que ficaram:

A Rua os meus Ciúmes / Helena Tavares – Revista “A Vida é Bela” (1960)
O Fado mora em Lisboa / Mariema – Revista “Sopa no Mel” (1965) 
Ó Tempo volta p’ra trás / António Mourão – Revista “E Viva o Velho” (1965)
Zé Cacilheiro / José Viana – Revista “Zero, Zero Zé – Ordem p’ra Pagar” (1966)
Lisboa da cor da ponte / Beatriz da Conceição – Revista Mini-Saias (1966)
O que sobrou da Mouraria / Tony de Matos – Revista “Arroz de Miúdas” (1968)
Cheira a Lisboa / Anita Guerreiro – Revista “Peço a Palavra” (1969)

Um agradecimento em forma de homenagem a todos quantos preservaram e divulgam as memórias do nosso teatro e do teatro de Revista à Portuguesa especialmente, pois sem essas memórias não poderíamos recordar em imagens a sua história e certos momentos. De todos sem excepção, especialmente ao Sr Fernando Louro e ao seu vasto acervo que tem divulgado on line com inúmeras raridades sobre o teatro de Revista.

Muito Obrigado!


PARABÉNS ao Parque Mayer e a todos quantos ajudaram este projecto a existir, a manter-se desde o seu início até hoje e sempre, por entre algumas dificuldades, mas sempre resiliêntes. Após 100 anos de Parque Mayer uma nova esperança renasce...


Bilheteiras do Parque Mayer na actualidade (foto Paulo Nogueira)


Uma esperança para o Parque Mayer 100 anos depois, e as luzes das torres estilo art déco 
da entrada do Parque Mayer acenderam-se!





Texto: 

Paulo Nogueira


Fontes e bibliografia:

Publicação Notícias Ilustrado de 1934

NEGRÃO, Albano Zink, O Parque Mayer: Cinquenta Anos de Vida, Lisboa, Editorial Notícias, 1965

REBELLO, Luiz Francisco, História do Teatro de Revista em Portugal, Lisboa, 1984

VIEIRA, Joaquim, Portugal século XX, Crónica em imagens 1920-1930, Círculo de Leitores, Lisboa, 1999

DIAS, Marina Tavares, Lisboa Desaparecida, vol. 9, Quimera Editores Lda., Lisboa, 2007

Almanak Silva, Publicação on line Teatro Maria Vitória