sábado, 17 de junho de 2023

AS BARCAS DE BANHOS DO TEJO

Os verões dos lisboetas...




Segundo registos, no território português, a "vilegiatura balnear marítima" ou temporada de praia, começa a ser praticada a partir do final do século XVIII pela princesa e rainha consorte Carlota Joaquina (1775 - 1830), em Caxias, e alguns anos mais tarde, em 1807, seguindo a tradição, pelo Marquês de Belas e seu sobrinho o 7.º Marquês de Fronteira, em Pedrouços e Algés onde possuía o seu palácio de praia. No entanto, desde meados do século XVIII que, em Inglaterra, se popularizaram os banhos de mar, ou de rio, como tratamento para males de pele, respiratórios, digestivos ou "nervosos". As classes mais abastadas (e arrojadas) foram fazendo o tratamento marítimo junto à costa, isto até ao início do último quartel do século XIX, em que se popularizaram e mais tarde democratizaram "os banhos". Para o comum dos banhistas em Portugal, nomeadamente na cidade de Lisboa, era possível, logo nos primeiros anos do século XIX, usufruir dos banhos de "tratamento marítimo" no rio Tejo, protegido dos olhares indiscretos, no interior das famosas Barcas de Banhos criadas então para o efeito. A este tipo de local para banhos públicos, encontra-se referência à existência, já em 1761, de uma destas Barcas de Banhos, ancorada no rio Sena, junto à Pont-Royal, em Paris explorada pelo senhor Poitevin. Para além dos Bateaux à Bains, como eram designados, com a modalidade do banho quente e frio, são também conhecidos os Bateaux-Lavoirs, lavadouros flutuantes compostos, por regra, de um espaço para lavagem da roupa, ao nível da água, e de outro para secagem, num segundo piso. Eram estes banhos desfrutados nas Barcas de Banhos, considerados terapêuticos em águas correntes do rio Tejo, águas estas que se renovavam sob o influxo das marés. As Barcas de Banhos menores tinham a forma de uma pequena casa de madeira, construídas sobre enormes faluas, para as quais se entrava por meio de um pontão que vinha da embarcação para o cais, onde se vendiam os bilhetes e alugavam os lençóis, fatos de banho e as bóias, porque quem sabia nadar tinha autorização para se banhar fora das gaiolas reservadas aos banhistas, em volta da construção. À ré da embarcação, encontrava-se o "banho geral", onde os utentes se agarravam a uma corda, que um marítimo experiente vigiava, banho este que se pagava com um pataco. Existem referências de que em 1811, eram três as barcas disponíveis junto à Praça do Comércio, nos anos seguintes mais ainda se popularizaram, mercê de diversos tratados de higienistas que louvavam tão são tratamento. Na publicação inglesa "Sketches of Portuguese Life" de 1826, é representado em gravura aguarelada, um pequeno bote catraio de apoio às barcas, munido com toldo ou barraca de banhos que os banhistas lisboetas utilizavam para os seus banhos terapêuticos fluviais no rio Tejo. Serviam igualmente estas pequenas embarcações para quem quisesse tomar banho no meio do rio. As barracas em lona destes pequenos botes tinham a forma de uma caixa paralelepipédica, que se armava à popa do bote e eram constituídas por uma armação de 4 prumos e 4 travessas de madeira, que se revestiam com um toldo de lona, cujas arestas verticais e os bordos inferiores se prendiam com atilhos de nastro ou cordas, de forma a ficar complemente impenetrável à vista o interior da barraca o que garantia uma maior privacidade. Refira-se que é um dos mais antigos registos conhecidos em imagem, deste tipo de embarcação e actividade que nelas se praticava. Em outros registos mais tarde surgem na paisagem ribeirinha estes pequenos botes catraios nomeadamente frente à Praça do Comercio, como num estudo de leque em papel, edição Casa Verissimos Amigos de 1840.


Rainha consorte portuguesa Carlota Joaquina 1775 - 1830
 (col. Museu de Arte de São Paulo)


Banhos de mar e de rio, como tratamento para males de pele, respiratórios, digestivos ou "nervosos"
 muito populares em Inglaterra nos finais do séc. XVIII (arq. pess.)


Pequenos botes catraios no início do séc. XIX que os banhistas lisboetas utilizavam
 para banhos terapêuticos fluviais no rio Tejo
(col. pess.)

Pequeno bote catraio de apoio às Barcas de Banhos em 1826 que os banhistas lisboetas também utilizavam
 para os seus banhos terapêuticos fluviais no rio Tejo in  "Sketches of Portuguese Life" (arq. priv.)


Bote catraio utilizado para o transporte de banhistas às Barcas de Banhos junto ao cais dos vapores
 na Praça do Comércio em 1840, estudo de leque, edição Casa Verissimos Amigos (arq. BNP)



Não existe uma data ou uma referência concretas de quando este tipo de barca surgiu no rio Tejo, no entanto há notícias de que em 1835 existiam outras Barcas de Banhos com os nomes: "Barca Grande", "Barca dos Tonéis" e "Barca do Hiate". Muito provavelmente terão dado origem às três mais famosas Barcas de Banhos do Tejo. Assim, em 1848 havia três Barcas de Banhos do Tejo famosas, como ficou registado no curioso desenho litográfico colorido para papel de leque editado pela Casa Verissimos Amigos com um aspecto da Praça do Comércio. Essas 3 barcas, consta que se chamavam "Flor do Tejo", "Diligência" e a mais famosa a "Deusa dos Mares". Mal se entrava no Verão encontravam-se atracadas no rio as célebres Barcas de Banhos, mais precisamente, no Cais de Santos, na margem do rio Tejo, pouco mais ou menos onde hoje fica a estação ferroviária da Linha de Cascais. Assim que o calor se tornava insuportável em Lisboa, o alfacinha acorria às Barcas de Banhos no Tejo para se refrescar. Efectivamente os lisboetas não eram muito dados a idas à praia, porque os transportes eram caros e escassos e quanto muito ia-se até Belém, Pedrouços ou Algés apanhar o ar marítimo e dar passeios à beira rio. Equivaleriam hoje as Barcas de Banhos às nossas actuais praias. Os banhos de mar tomavam-se apenas como tratamento prescrito pelos médicos e era na zona da Fundição ou na Praia de Santos que de manhã se ia mergulhar na lama ou na água suja de toda a imundície que naqueles locais eram despejadas. Também mais a norte do rio Tejo, por entre quintas e terrenos de cultivo, existiam as praias de Xabregas com extensos areais, como a da "Marabana", que tinham o seu público habitual. Com as epidemias que assolaram Portugal, nomeadamente a cidade de Lisboa em 1856, a cholera morbus em 1857 e o outro flagelo, que se tornou ainda mais devastador, a febre-amarela, este negócio das Barcas de Banhos sofreu uma quebra mas por outro lado era a solução para evitar os locais imundos da beira rio para banhos e ter alguma higiene. Assim, para além das barcas já existentes, as famosas barcas com os pomposos nomes de  "Deusa dos Mares" e "Flor do Tejo", apareceram mais tarde, as "Flor da Praia" e "Flor de Lisboa", entre outras. Como essas barcas estavam amarradas à terra, ou ancoradas muito próximo, as águas eram iguais e ainda por cima o banho tomava-se dentro de verdadeiras gaiolas; mas, por muito tempo, foi moda "ir às barcas" que além do mais serviam para o cultivo do namoro e de encontros furtivos combinados ou não. Três dessas barcas, encontravam-se atracadas perto uma das outras, sendo a primeira, a contar do Cais de Sodré para a Praça do Comércio, a "Lisbonense", pintada de negro com vivos brancos; seguindo-se a "Vinte e Quatro de Julho" pintada de azul e a terceira, a "Feliz Destino", toda de verde. A primeira era frequentada por gente do povo, a outra pelos remediados e a terceira pelos de mais posses. As empresas que exploravam estas Barcas de Banhos tinham ao seu serviço pequenos botes catraios, munidos com um toldo ou uma barraca de lona, que iam buscar e levar os respectivos fregueses ao embarcadouro da Praça do Comércio, junto às escadas do cais do canto sudeste da então estação dos Caminhos de Ferro do Sul e Sueste. Num registo de 1870, por T. W. Langton é possível ver uma dessas barcas frente ao Terreiro do Paço. Igualmente junto ao Cais das Colunas e no Cais do Sodré, concentravam-se os estabelecimentos de exploração destas Barcas de Banho com funcionários, barqueiros, figuras que também elas se tornaram típicas de Lisboa, que animavam a vida ribeirinha com os seus pregões:

"Quem quer tomar banho? 

Quem se quer refrescar? 

Quem vai à Barca?"

Em 1865 os preços dos bilhetes dos banhos custavam:

Primeiro banho de proa, $120 réis; Banho de proa, $100; Banho de chuva, $160; Banho reservado, $200; Banho grande, $120; Banho de ré, $080; Banho geral, $060.    



Vista da Praça do Comércio com embarcações e Barcas dos Banhos do Tejo em 1848, 
papel para leque, edição Casa Verissimos Amigos (col. Museu de Lisboa)


As 3 principais Barcas de Banhos do Tejo, consta que se chamavam
 "Flor do Tejo", "Diligência" e a mais famosa a" Deusa do Mar", 
frente à Praça do Comércio em 1848 (arq. pess.)


Aspecto da praia da Rocha do Conde de Óbidos em Santos no séc. XIX, 
onde alguns lisboetas faziam banhos ditos "de mar", 
uma zona ribeirinha insalubre, por Alfredo Keil
(col. priv.)



Embarcações no rio Tejo, incluindo uma Barca de Banhos, frente à Praça do Comércio
 na década de 1860, detalhe de prova em albumina,
 foto Francesco Rocchini, photographo
(arq. BNP)



Barca de Banhos frente à Praça do Comércio em 1870, vendo-se à popa  um bote catraio 
para transporte dos banhistas, por T.W. Langton (col. ppriv.)


Figura de barqueiro típico do Tejo da região de Lisboa em 1846, 
gravura aguarelada e desenho de E. J. Maia (arq. priv.)



                                                    A Barca "Deusa dos Mares"

Esta barca em especial, tem uma história curiosa e digna de menção. Terá pertencido outrora à praça de Lisboa e fazia a carreira da Índia debaixo do nome "Maia Cardoso". Mais tarde, foi armada em vaso de guerra, e por esse motivo mudou de feição e de nome. Passou a chamar-se "Trovoada" e assistiu impassível, no alto mar, à desencadeada luta dos elementos, pois era feita de madeira de teca e da melhor construção, prestando serviços à armada e ganhando mais um título à estima pública. Seguiram-se os anos e o vaso de guerra voltou ao Tejo. Cansado já da glória, e depois de se ter tornado útil ao comércio e à marinha, foi vendida por três contos a Vicente Grimar, desarmou-se dos apetrechos bélicos, e ataviou-se elegantemente como Barca de Banhos denominada, com um nome pomposo "Deusa dos Mares". Era muito bem conceituada, porque teve diversos melhoramentos, a ponto da barca chegar a conter 31 banhos a estibordo e bombordo, sendo estes divididos em banhos diferentes, como por exemplo: 4 banhos de chuva, 2 reservados e 3 grandes, tendo a facilidade de reunir 3 banhos num só, quando se dava o caso da família ser numerosa. Como se todos estes atractivos não fossem bastantes, tinha mais 2 magníficos banhos gerais com o comprimento de 102 pés ingleses, e a conveniência de servir um dos banhos de escola de natação, descobrindo-se metade, e tornando-se por tanto muito mais claro do que os outros. Davam-se, também  banhos quentes em tinas e igualmente mornos de chuva. O que sobretudo demonstrava claramente a excelência desta barca era o estar colocada na corrente da água e os banhos de proa serem "tão fortes e cristalinos como o das praias". A bordo, ainda havia um "bufete", onde os banhistas encontravam sempre um bom serviço e preços acessíveis. Havia sempre à disposição dos frequentadores da "Deusa dos Mares" 3 botes no cais do Terreiro do Paço e 2 no Cais do Sodré. Esta barca media da proa à popa 156 pés ingleses e 61 de boca, sendo por conseguinte a maior embarcação, ao seu tempo. Sensivelmente entre o ano de 1872 e o de 1874 as condições da água do rio devem-se ter alterado, assim como as instalações da barca devem ter-se deteriorado, talvez por falta de manutenção, assunto esse que foi remediado dando origem a um curioso anúncio publicado no Diário Ilustrado de agosto de 1874, que diz o seguinte: 

"Esta barca acha-se fundeada defronte do Arsenal da Marinha, no local, onde a corrente da água é puríssima, mesmo na baixa-mar, por estar convenientemente afastada da canalização dos despejos da cidade. Depois dos melhoramentos que a empresa, como costuma, realizou este ano, foi a Barca vistoriada pelos peritos do Arsenal da Marinha, em virtude do que o Ilm.º e Exm.º Sr. Capitão do Porto deu o seguinte despacho ao requerimentos que nessa ocasião se fez. Tendo-se passado vistoria e sendo esta de parecer que a barca se acha em boas condições, para o serviço a que é destinada, concedo a licença pedida para vir para a sua amarração. - Departamento do Centro, 26 de Julho de 1874." 

A publicação deste despacho garantiu a solidez das obras realizadas e desvanece quaisquer dúvidas, que por ventura houvessem a tal respeito. A boa ordem, asseio e comodidade são rigorosamente observados, como convêm em estabelecimento de tal ordem. O banho geral para homens corre em volta da popa da barca e mede 102 pés, sendo por tal motivo apropriado para o exercício de natação, sem que haja perigo. A bordo alugam-se roupas, assim como se ministram banhos mornos. 


Considerada a Barca de Banhos do Tejo mais famosa, melhor apetrechada e bem frequentada (arq. pess.)


Anuncio à Barca de Banhos "Deusa dos Mares", 
publicado no Diario Illustrado de 24-07-1872
(arq. BNP)


Aspecto de Lisboa na década em 1870, vendo-se no Tejo diversos tipos de embarcações 
incluindo a barca "Deusa dos Mares", foto J. Laurent (arq. Ruiz Vernacci)


Mas num dos relatos mais detalhados, o do Eng.º e historiador Augusto Vieira da Silva (1869 - 1951), que ainda frequentou estas barcas em 1875, na companhia de sua mãe, descreveu em detalhe e rigor, como eram estas Barcas de Banhos do Tejo: "Tratavam-se de velhos cascos de barcos que se adaptavam a essa nova aplicação. Para esse efeito, ao longo de uma coxia longitudinal de circulação no convés, adaptava-se, a cada um dos costados, de proa à popa, uma estrutura de madeira semelhante a uma longa caixa, com tecto, dividida interiormente por tábuas transversais em celas ou compartimentos, com uma porta para o convés na parede anterior. Constituíam essas celas as barracas, para os banhistas se vestirem e despirem. Os compartimentos alongavam-se para fora do convés do barco, e as suas paredes laterais e as posteriores, que desciam vedadas até ao nível da água, prolongavam-se para baixo deste nível com a forma de gaiolas, com três das suas paredes feitas de grades de sarrafos, e com o fundo de tábuas de soalho, que ficava cerca de 1,30 m abaixo do nível normal da água nos compartimentos. Deste modo, cada barraca podia considerar-se formada por dois compartimentos sobrepostos: um aéreo, com o pavimento ou estrado a nível do convés, no qual os banhistas se preparavam para o banho; outro aquático ou submerso, ou poço onde se tomava banho, limitado pelo gradeamento de sarrafos e pelo costado do barco. Como os barcas estavam fundeadas, a água corrente do rio atravessavam os diversos compartimentos, pelos intervalos das grades de madeira o que proporcionava aos banhistas água corrente, com alguns encontros inesperados com peixes, alforrecas e uma ou outra imundície que vagueava pelo rio."

Em finais do século XIX, também Raphael Bordallo Pinheiro (1846 - 1905), dedicou a sua peculiar ironia às Barcas de Banhos do Tejo, na revista "O António Maria" de 16 de setembro de 1880,  deixando-nos rico relato e picarescos detalhes desta prática terapêutica. 


 
Eng.º e historiador Augusto Vieira da Silva 1869 - 1951 
(arq. priv.)





Sátira alusiva às Barcas de Banhos do Tejo por Raphael Bordallo Pinheiro
in O António Maria de 1880 (arq. Hemeroteca digital CML)



Apesar do uso ainda das Barcas de Banhos, o grande impulso à procura das praias para banhos, deu-se a partir da década de 70 do século XIX. O rei D. Luiz I (1838 - 1889) e a família real portuguesa, começaram a mudar-se com alguma regularidade para a Cidadela de Cascais durante o Verão, o que foi amplamente publicitado na época e levaria muitas famílias a procurar seguir-lhes o exemplo. Passou a ser moda da sociedade lisboeta ir para Cascais na época estival. Até à inauguração do caminho de ferro e das 11 estações entre Pedrouços e Cascais, em 1889, a viagem até a esta Vila só podia ser feita num barco dos Vapores Lisbonenses, dotados com salão de fumo e cadeiras estofadas, ou num carrão que transportava 36 pessoas, em qualquer dos casos, o percurso demorava quatro horas para cada lado.  As já conhecidas praias do Bom Sucesso, da Torre de Belém, Pedrouços, Algés e da Cruz Quebrada, na zona ribeirinha do Tejo, em finais do século XIX princípios do século XX tiveram então o seu grande apogeu. O areal do limite sul do sítio de Pedrouços era o seu grande motivo de fama na 2ª metade do século XIX, já que depois de Belém era a praia dos arrabaldes de Lisboa mais procurada pela aristocracia, pela alta burguesia e até pela intelectualidade da época. A praia de Pedrouços, "formosa estação de banhos", como era conhecida, com as suas famosas barracas de banhos, é considerada a praia precursora das praias do Tejo. Em 1870, esteve na sua quinta em Pedrouços, junto à margem esquerda da ribeira de Algés, o duque de Cadaval, aí usufruindo dos banhos de mar e da mata. As praias de Pedrouços, Belém e Algés passaram a ser consideradas praias mundanas, razão pela qual eram muito concorridas por quem queria ver e ser visto, a praia da Cruz Quebrada era considerada uma das mais discretas.  Existem referências para o ano de 1873 da presença igualmente nesta praia da Viscondessa de Algés, do Conde de Casal Ribeiro, de Fortunato Chamiço (1815 - 1895) e do escritor Eça de Queiroz (184 - 1900), com as suas famílias. 


Rei D. Luiz I 1838 - 1889 (arq. priv.)


Praia da Ribeira em Cascais, usada pela família real portuguesa 
a partir da época do rei D. Luiz I na década de 1870 
(arq. CMC)


As Praias de Banhos em 1884, por Marques de Oliveira, em moda nos finais do séc. XIX (col. priv.)



Com o progresso dos meios de transporte da cidade de Lisboa, nomeadamente os carros americanos da CCFL (Companhia Carris de Ferro de Lisboa) a partir de 1872, a linha de caminho de ferro de Cascais da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes em 1889, a possibilidade da deslocação dos banhistas e veraneantes lisboetas para zonas balneares de qualidade, que começam a estar na moda, faz com que vão desaparecendo as Barcas de Banhos. Além de tornarem as viagens cinco vezes mais rápidas, os caminhos-de-ferro estimularam a descoberta das praias, com a criação de "bilhetes de temporada de banhos de mar e águas minerais", válidos por 60 dias entre julho e outubro. Estes bilhetes para a temporada de banhos iriam manter-se até ao século XX, dada a sua grande procura pela população lisboeta. Alguns dos artistas da época representaram nos seus quadros essa nova moda que se estava a instituir aos poucos na sociedade lisboeta de então, durante aqueles períodos do ano, as praias e banhos de mar. Para além das casas de veraneio que começam a proliferar nessas zonas balneares, também surgem os hotéis, junto à praia de banhos de Pedrouços por exemplo, como o Hotel Tejo e o Hotel Club, mesmo junto à estação de caminho de ferro. O habito de fazer praia, foi essencialmente elitista, ligado à aristocracia e à burguesia endinheirada, durante todo o século XIX e até durante o inicio e meio do século XX. Apesar do impacto decisivo do comboio no aumento do número de banhistas, não havia misturas de classes. À medida que a burguesia foi enchendo as praias da Linha de Cascais, a seguir à Torre de Belém e Pedrouços, a aristocracia aproximou-se da família real e concentrou-se em Cascais. Com isto e a par com as Barcas de Banhos que ainda restavam, as praias de banhos, para quem preferia, foram-se sucessivamente deslocando para a foz do rio Tejo e para mais distante. Aos poucos no final do século XIX desaparecem do rio Tejo as Barcas de Banhos e os alfacinhas vão mudando os seus hábitos de verão. Durante muitos anos, estas embarcações adaptadas, as famosas Barcas dos Banhos, acabaram por fazer parte da paisagem e do quotidiano do rio Tejo na região de Lisboa, tal como as restantes embarcações típicas nele existentes. No fim do século XIX, início do século XX, apesar de alguns proprietários de Barcas de Banhos ainda que fizessem questão de as manter activas, assim como os pequenos botes catraios para o transporte dos poucos clientes banhistas, era possível, segundo relatos, ver restos de uma dessas Barcas de Banhos abandonada e a apodrecer no areal na zona da Junqueira. 


Estação de caminhos de ferro do Cais do Sodré e carros americanos em finais do séc. XIX 
que permitem a deslocação de banhistas e veraneantes às praias mais distantes de Lisboa 
(arq. AML)


Bilhete da Companhia Carris de Ferro de Lisboa até Algés
 para a temporada de banhos em finais do séc. XIX
(col. Carlos Caria)


Anuncio alusivo aos banhos de praia e das Barcas de Banhos em Lisboa de 1888,
in Guia-Annunciador do Viajante Luso-Brazileiro (arq. BNP)



Panorâmica do rio Tejo, vista do Cais do Sodré em finais do séc. XIX
 vendo-se ainda a Barca de Banhos "Nova Flor", foto Legado Seixas
(arq. AML)

Praça do Comércio vista do rio, vendo-se ainda um pequenos bote catraio, munido com um toldo
 usado para o transporte de banhistas ás Barcas de Banhos (arq. priv.)


Praia de Pedrouços com as suas famosas barracas de banhos em 1876 (arq. pess.)


Alusão à praia de Pedrouços em 1897, in revista Branco e Negro (arq. Hemeroteca digital CML)


Uma antiga Barca de Banhos do Tejo frente à Praça do Comércio
 em postal ilustrado de meados de 1900 (col pess.)


Restos de uma das Barcas de Banhos abandonada e a apodrecer no areal da Junqueira 
em meados do início do séc. XX (arq. pess.)





Em finais do século XIX inícios de XX, passou a ser frequente ver a família real portuguesa, incluindo o rei D. Carlos I (1863 - 1908), juntamente com a rainha consorte D. Amélia de Orleães (1865 - 1951), reunida durante os verões em Cascais fazendo praia. A moda de ir à praia a Cascais e passar o período estival na região instalou-se definitivamente na alta sociedade lisboeta e até nas classes mais baixas desde então.  Tal como na época das antigas Barcas de Banhos, passa então a ser moda as famílias mais abastadas da capital fazerem época de praia ou ir a banhos, com encontros e confraternizações amigas no período do verão. Para tal alugando ou adquirindo casas e propriedades ou ficando nos hotéis que começam a proliferar nesses locais de veraneio dos arredores de Lisboa ou até mesmo em casas dos banheiros dessas praias que as alugavam nesses períodos de verão. Como curiosidade, as banhistas especialmente, nestas praias de banhos do inicio do século XX, tinham por habito ser sempre ajudadas por banheiros e nunca conseguiam nadar devido ao peso dos seus fatos. Quando saíam da água cobriam-se com uma capa e de imediato corriam para as barraquinhas de madeira ai existentes, para assim mudar de roupa. Os divertimentos nestas parias começam a fazer parte da paisagem, especialmente em Pedrouços, Algés e Paço de Arcos, com os famosos baloiço onde os mais novos se divertiam e confraternizavam. Surgem já em meados do século XX nessas praias lisboetas, os vendedores galegos dos famosos "barquilhos" ou "línguas da sogra", sempre com o seu animado jogo de roleta e mais tarde os vendedores das "bolas de Berlim". No início do século XX, seriam igualmente criados "bilhetes de temporada de banhos" para outras praias da região de Lisboa como a Trafaria, que começa a ser muito procurada para levar crianças, após a criação da Colónia de Férias pela rainha D. Amélia. Apesar do convívio que sempre esteve presente nestes espaços se manter, outros conceitos diferentes dos famosos banhos terapêuticos das outrora Barcas de Banhos do Tejo surgem. Ir à praia durante o século XX e na actualidade, não se prende já com questões terapêuticas ou de saúde mas sim por uma massificação do turismo e a sua expansão internacional assim como as novas concepções de moda sobre o corpo. Tudo isso fez com que se desenvolvesse um modelo e conceito de praia totalmente diferente do anterior, voltado mais para as férias, o sol e o lazer. Algumas das praias em redor de Lisboa continuam a ter fama, sendo procuradas quer por publico nacional quer estrangeiro, para lazer por muitos veraneantes de todas as classes sociais e por desportistas praticantes de desportos aquáticos em especial de surf e windsurf


Membros da família real portuguesa na Praia da Ribeira ou dos Pescadores em Cascais 
durante a época estival em 1900 (arq. CMC)


O rei D. Carlos I tomando banho de mar na Baía de Cascais em finais do séc. XIX (arq. CMC)



Banhistas durante os seus banhos de mar na praia da Ribeira em Cascais em 1900 (arq. CMC)



Ambiente da praia de banhos de Paço d'Arcos com os baloiços e barracas dos banhistas
 no início do séc. XX, in postal ilustrado (col. pess.)



Bilhete da Carreira de Vapores para a Trafaria 
destinado à temporada de banhos 
no início do séc. XX
(col. Carlos Caria)



Banhistas nos seus trajes de banho na praia de Algés no início do séc. XX (arq. priv.)


Alfacinhas vão a banhos à praia de Algés em 1912, foto Joshua Benoliel (arq. AML)



Banhistas na praia de Monte Estoril em meados dos anos 20 do séc. XX, foto Joshua Benoliel (arq. AML)


Banhista na praia de Monte Estoril em 1928, a bailarina russa Natacha, 
foto de Horácio Novais (arq. Biblioteca de Arte FCG)


Praia do Estoril repleta de banhistas no período de verão de 1967 (arq. pess.)



Banhistas na praia do Tamriz no Estoril fazendo praia e apanhando Sol na actualidade (arq. priv.)



Ambiente de verão na praia da Ribeira em Cascais na actualidade (arq. pess.)



Praticante de surf numa praia do Guincho em Cascais na actualidade (arq. priv.)



Praticantes de windsurf na Praia do Guincho na actualidade (arq. priv.)




Neste artigo, tal como nos demais deste blog, agradecem-se e serão sempre de louvar todas as correcções que possam existir, desde que sejam feitas de forma educada e construtiva.
Obrigado e boas leituras.

                              



Texto: 

Paulo Nogueira



Fontes e bibliografia:

 Sketches of Portuguese Life, manners, costume and character, London, Geo. B. Wittaker, 1826

 Diario Illustrado de 24 de julho de 1872

Visconde de Benalcanfor, Diário Illustrado, 31 de julho de 1874

Revista O António Maria de 16 de setembro de 1880

Olisipo: boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", A. XIII, n.º 49, janeiro 1949





domingo, 16 de janeiro de 2022

A ILUMINAÇÃO PÚBLICA DE LISBOA E SEUS ARREDORES

Dos sistemas de iluminação a azeite, passando pelo gás até à electricidade





A problemática da iluminação pública em Portugal e especialmente na cidade de Lisboa, constituiu uma preocupação desde a 1ª Dinastia, altura em que o rei D. Fernando I (1345 - 1383), manifestou o seu cuidado e preocupação, relativamente ao perigo que a escuridão da noite lisboeta representava nas suas ruas estreitas e labirínticas. É para isso criado por D. Fernando I, o primeiro corpo de agentes policiais, os chamados "Quadrilheiros", com um efectivo de 20 elementos, tendo recebido um Regimento. A lei datada de 12 de setembro 1383, que refere no seu preâmbulo a grande criminalidade que grassava na cidade de Lisboa. Este Regimento era constituído por “homens comuns, escolhidos pela sua seriedade, para dar conta de ocorrências nas diferentes zonas da cidade”. Em 1689, durante o reinado de D. Pedro II (1648 - 1706), é emitido um decreto para o Senado analisar a questão da iluminação pública da cidade de Lisboa. No entanto, no último quartel do século XVIII, a noite de Lisboa era ainda território de marginalidade e insegurança, vigiada pelo serviço civil dos Quadrilheiros. O medo do desconhecido impedia os lisboetas de saírem assim que o sol se punha, não só receosos da criminalidade, mas também dos condenados pela Igreja de actos subversivos nocturnos, a fama e os medos incutidos como a das mulheres acusadas de bruxaria ou os judeus. Até quase ao final do século XVIII, sair à noite significava colocar-se em perigo e, ao mesmo tempo, sob suspeita. As saídas nocturnas à rua, para quem tinha de o fazer e arriscava, tinham de ser feitas levando consigo uma lanterna de mão funcionando a azeite ou vela, muitas vezes fazendo-se acompanhar de um empregado à frente para a transportar, nessa aventura que eram as saídas nocturnas pela cidade de Lisboa. 


Rei D. Fernando I de Portugal 1345 - 1383 (col. pess.)


Representação de Lisboa medieval por Jaime Martins Barata (col. priv.)


Quadrilheiro, agente de policiamento da cidade de Lisboa 
entre os séculos XIV e XVIII (col. pess.)



Vista panorâmica da cidade de Lisboa, datando de 1500-1510, 
numa iluminura da Crónica de Dom Afonso Henriques, 
por Duarte Galvão 
(col. Museu Biblioteca Condes de Castro Guimarães)



Aspecto da cidade de Lisboa com as suas ruas labirinticas e até perigosas durante a noite em 1598 
(col. pess.)



Rua dos Mercadores em Lisboa, meados do séc. XVI, 
onde não existia à época iluminação pública, 
reconstituição por Alfredo Roque Gameiro
(col. pess.)


Rei D. Pedro I de Portugal 1648 - 1706 (col. pess.)


Vista da cidade de Lisboa, a Capital do Reino de Portugal antes do Terramoto de 1755,
 litografia inglesa do séc. XVIII (arq. priv.)



A utilização de lanternas de mão nas arriscadas saídas nocturnas 
pelas ruas de Lisboa nos séc. XVII e XVIII (arq. priv.)


Saídas nocturnas pelas ruas acompanhadas de lanterna de mão
 funcionando a azeite ou vela (arq. pess.)



Após o Terramoto de 1755 grandes mudanças acontecem na toponímia da cidade de Lisboa, novas ruas e praças mais amplas surgem na parte baixa da cidade, a mais atingida pela catástrofe. Projectos arquitectónicos que se executam e outros que não passaram do papel. As pequenas e labirinticas ruas pequenas, apenas se mantêm em algumas zonas da capital não atingidas pelo Terramoto, surgindo no resto da cidade largas e longas ruas, com nova disposição. Houve necessidade de iluminar durante a noite estas novas artérias da capital. Por volta das décadas de 1780 e 1790, com praticamente toda a cidade já reconstruída, o então intendente-geral da polícia, Diogo Inácio de Pina Manique (1733 - 1805), ordenou a realização de um ensaio, obrigando os comerciantes a construir e pagar as suas próprias lamparinas e lampiões. Este novo método surtiu efeito e bons resultados. Perante tais resultados e com o objectivo de iluminar as ruas e praças mais importantes da cidade de Lisboa, será a rainha D. Maria I (1734 - 1816), a oferecer os primeiros candeeiros a azeite para a iluminação publica. Desta forma a Lisboa dos finais do século XVIII passa a ser iluminada por lampiões, dotados de um sistema engenhoso para baixar e erguer baseado nos engenhos de alavanca usados para captação de água tradicionais em Portugal, as "cegonhas", sendo por isso designados de "candeeiros de cegonha". Estes candeeiros eram providos de lampiões com lamparinas a azeite de parca profusão, pagas não pelo Estado, mas através de um imposto cobrado aos cidadãos para manter este sistema. Fez-se então publicar na Gazeta de Lisboa de 15 de dezembro de 1780: "Por um edital do Intendente Geral da Polícia, que se acha fixado nos logares publicos d'esta capital, se faz saber que as principaes ruas d'ella serão illuminadas desde o dia 17 d'este mez. S. Magestade houve por bem fazer a despeza dos lampeões, e cada morador das ruas, em que elles serão postos, deverá contribuir com um quartilho d'azeite em cada espaço de 27 dias". Estes famosos candeeiros com lampiões de inspiração francesa, muito idênticos aos usados à época em Paris e outras cidades francesas. Eram constituídos por lampiões e dotados de um sistema muito engenhoso de sustentação, foram usados até ao início da iluminação a gás. Assim pela primeira vez, da noite se faz dia, em algumas artérias da cidade de Lisboa. Estes lampiões eram suspensos na extremidade de um braço metálico longo e curvo, de uma alavanca de ferro, girando em torno do seu ponto de apoio, sobre uma consola de ferro, montada sobre coluna ou frade de pedra, ou nas paredes dos edifícios, tendo no outro braço uma haste de ferro que descia até entrar numa caixa com fechadura que se trancava com uma chave; assim o lampião ficava distante da parede para melhor iluminar a rua; fazia-se descer, para acender, apagar, atiçar, limpar ou introduzir azeite na lâmpada, e depois de novo era elevado ao seu lugar. A iluminação pública a azeite constituiu um sinal de modernidade na cidade de Lisboa renascida da reconstrução pombalina. Abriam-se assim novos horizontes aos espaços públicos de então e à vida de uma capital. Apesar da experiência ter resultado com sucesso neste novo sistema de iluminação publica, o serviço foi suspenso em 1792 devido à falta de financiamento do azeite para os candeeiros, que era feito através de cobranças aos habitantes das ruas iluminadas. Excepto a iluminação particular de muitos palácios da cidade, a capital volta a estar mergulhada na escuridão. 



Projecto para a Praça do Comércio em Lisboa pós Terramoto, de Eugénio dos Santos, 
por Gaspar Frois Machado (arq. priv.)


Largo dos Remolares, actual Cais do Sodré em Lisboa no ano de 1785, 
com novas edificações e espaços amplos,
 pintura de Joaquim Marques 
(col. priv.)


Diogo Inácio de Pina Manique 1733 - 1805 (col. priv.)



Tipo de lampião funcionando a azeite instalados nas ruas de Lisboa 
pelos comerciantes no final do séc. XVIII, 
por Alfredo Roque Gameiro (col. pess.)


Lampião funcionando a azeite numa rua da cidade de Lisboa 
em finais do séc. XVIII, por Alfredo Roque Gameiro 
(col. pess.)


Chama produzida por lamparina funcionando a azeite usadas 
nos lampiões dos candeeiros de iluminação pública 
em Lisboa nos finais do séc. XVIII (arq. pess.)



Rainha D. Maria I 1734 - 1816, por Giuseppe Troni 
(col. Palácio Nacional de Queluz)


Esquema e legenda do funcionamento dos "candeeiros de cegonha" 
que começam a ser utilizados na cidade de Lisboa 
nos finais dos séc. XVIII princípios do séc. XIX 
 (arq. pess.)


"Candeeiro de cegonha" com o seu lampião funcionado a azeite 
numa cena de rua em Lisboa nos finais do séc. XVIII, 
por Alfredo Roque Gameiro (col. pess.)



Tipo de lampião privado funcionando a azeite numa rua de Lisboa 
em finais do séc. XVIII, por Alfredo Roque Gameiro (col. pess.)



Só passados 10 anos, em 1801, as ruas de Lisboa voltaram a ser iluminadas, novamente com os celebres "candeeiros de cegonha" com os seus lampiões a azeite, para satisfazer a vontade da rainha, depois da subida do número de assaltos e assassinatos durante esse período de trevas. Funcionários da Câmara Municipal de Lisboa (CML), tinham por função diariamente calcorrear ao final do dia, as ruas  dos bairros da cidade acendendo um por um os candeeiros e ao raiar do dia apaga-los. O combustível então usado passa a ser o óleo de peixe ou de baleia, que tinha menos poder de iluminação e era muito mal cheiroso. Em 1802 Diogo Inácio de Pina Manique revelava que esperava que chegasse das “colónias” portuguesas (provavelmente o Brasil), para uso na iluminação de Lisboa, o “azeite de baleia e mamona”, referia que estas duas qualidades de azeite não eram tão susceptíveis de “descaminhos” como o azeite de oliveira. A rainha D. Maria I decreta que seja resolvida a questão da iluminação pública, que incluía a expansão de mais ruas, para além daquelas que estariam iluminadas desde 1792 e é criada a Guarda Real da Polícia. Há registo de que em 1834 contam-se em Lisboa 2303 candeeiros, que nem sempre acendem devido à escassez de recursos para manutenção e combustível. A partir de 1834, parece ter sido abandonado por completo o azeite de oliveira na iluminação pública de Lisboa, em prol do azeite de peixe, mas em 1838, a CML coloca um anúncio para arrematação do fornecimento de óleo de purgueira que era produzido em Cabo Verde. No ano de 1840, só para iluminar a cidade de Lisboa existiam 2.328 candeeiros, com lamparinas dotadas de reflectores de cobre para intensificar a luz, que consumiam entre 12.000 a 13.000 almudes de azeite por ano. Este importante beneficio para a cidade de Lisboa foi no entanto mal recebido por ladrões e criminosos que proliferavam e que anteriormente se aproveitavam da escuridão para actuar, por isso, nos primeiros tempos muitos foram os candeeiros que apareceram quebrados e vandalizados por esses amantes das trevas. Mas não deixou, este sistema de iluminação com os "candeeiros de cegonha" dotados dos seus lampiões alimentados a óleos, de estarem presentes em praticamente todos os principais locais públicos da cidade de Lisboa.


Exemplo preservado do tipo de um"candeeiro de cegonha" com lampião
 funcionando a azeite para iluminação pública do inicio do séc. XIX
 (foto Paulo Nogueira)



Modelo de lampião de iluminação pública com lamparina dotada de reflector 
funcionando a azeite, igual ao utilizado nos "candeeiros de cegonha"
 no início do séc. XIX(arq. priv.)


Chama produzida por lamparina com reflector funcionando a azeite
 e óleos combustíveis, usadas nos lampiões dos candeeiros
 de iluminação pública em Lisboa no inicio do séc. XIX
(arq. pess.)


Funcionário da Câmara Municipal de Lisboa acendendo 
os novos "candeeiros de cegonha" com lampião a azeite 
da iluminação pública no início do séc. XIX,
 por Henry L'Evêque (col. pess.)


"Candeeiro de cegonha" e lampião funcionando a azeite na iluminação pública de Lisboa 
no início do séc. XIX, numa cena de rua num evento das Festas de N. S.ra da Atalaia
in Sketches of Portuguese life (col. pess.)


 "Candeeiro de cegonha" e lampião funcionando a azeite na ponte de Alcântara 
no início do séc. XIX, desenho por Luiz Gonzaga Pereira (arq. pess.)


"Candeeiros de cegonha" com lampiões a azeite no ancoradouro de Belém 
em detalhe do embarque da família Real Portuguesa para o Brasil 
em 29 novembro de 1807 por Francesco Bartolozzi (col. pess.)


Entrada da Rua Augusta em meados de 1815 com "candeeiros cegonha" na iluminação pública 
de lampiões funcionando a azeite (col. pess.)


Praça D. Pedro IV no Rossio com "candeeiros de cegonha" e lampiões funcionando a azeite 
na iluminação pública em 1839, por Charles Legrand (col. pess.)


Entrada do Passeio Público de Lisboa com "candeeiros de cegonha" e lampiões funcionando 
a azeite na iluminação pública em 1839, por Charles Legrand (col.pess.)


Rua das Portas de Stª Catarina no Chiado, com "candeeiros de cegonha" 
e lampiões funcionando a azeite na iluminação pública em 1839, 
por Charles Legrand (col. pess.)


Funcionário da Câmara Municipal de Lisboa durante a manutenção
dos candeeiros de cegonha com lampião a azeite
 da iluminação pública em meados do séc. XIX
(arq. priv.)


"Candeeiro de cegonha" da iluminação pública de Lisboa com lampião funcionando a azeite
 junto ao Arsenal do Exército em 1842, por Charles Legrand (col. pess.)


Em Portugal, as negociações para a então moderna iluminação a gás iniciam-se em 1835. Várias propostas foram apresentadas à CML desde 1835 a 1846 para efectivar o novo tipo de iluminação. Porém, é de salientar que desde o início de 1840, ainda antes da iluminação da cidade de Lisboa com gás, Joaquim Pedro de Quintela (1801 - 1869), 2º Barão de Quintela e 1º Conde de Farrobo, instala no seu Palácio das Laranjeiras em Sete Rios, os primeiros candeeiros a gás, como sinal de exuberância. Nesta primeira experiência de iluminação a gás com equipamento trazido de Inglaterra, apenas era iluminado o palácio, os seus jardins e o Teatro Thalia ou da Laranjeiras, um pequeno teatro existente na propriedade, o que causou grande espanto à população. É a primeira experiência da utilização do gás de iluminação em Portugal, num período da história em que o Pais está social e politicamente mais calmo. Pelos bons resultados deste novo sistema de iluminação e por influência governamental, em 1846 a rainha D. Maria II (1819 - 1853), autoriza o concurso para a iluminação gás da cidade de Lisboa. Contudo, só em 1848 é atribuída a concessão da iluminação pública de Lisboa à então fundada Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz. Eram accionistas desta companhia o conde de Farrobo e Luiz de Castro Guimarães. Ainda antes da assinatura desta concessão, já em 1847 tinham sido arrendados os terrenos e edifícios na Praia da Boavista, para ai se instalar a fábrica de gás da Companhia. O facto de esta indústria se localizar num dos pontos mais baixos da cidade permitia a subida do gás aos pontos mais elevados da cidade sem o emprego de grande pressão. A proximidade do rio Tejo facilitava a entrada do carvão vindo de Newcastle utilizado na fábrica e favorecia o encaminhamento para o rio dos fumos decorrentes da fabricação do gás, minorando assim o efeito de poluição nas zonas residenciais. Dada a localização estratégica, o carvão era descarregado no então denominado Cais do Carvão, seguindo para as instalações da fábrica, onde era destilado por um processo de retortas, seguindo-se depois as operações de lavagem, arrefecimento, condensação e depuração, antes do armazenamento do gás nos gasómetros. Desde então, esta empresa inicia a produção de gás de cidade, a partir do carvão, na fábrica da Boavista. Foram instaladas canalizações inicialmente com tubagem em material vidrado no subsolo, desde a fábrica de produção de gás até aos pontos da cidade a iluminar, onde era utilizada tubagem de chumbo. Os candeeiros de iluminação pública a gás tinham características diferentes dos anteriores, sendo estes modelos igualmente dotados com lanternas de inspiração francesa. Para além dos candeeiros para parede suspensos em braços de ferro fundido, havia ainda os candeeiros idênticos colocados em postes de ferro e outros assentes com bases em pedra calcaria, colocados nos passeios e nas praças públicas. Este novo sistema de iluminação pública a gás, consistia num bico de queima directa dentro das lanternas. A principal questão da iluminação era o padrão de luz que os diferentes sistemas podiam garantir. Os bicos de queima directa em leque tinham um poder iluminante de 9,60 velas, para um consumo de 150 litros de gás por hora. Nas noites de 29 e 30 de julho de 1848 a população da cidade de Lisboa saiu em massa à rua, para assistir à inauguração da iluminação a gás no Chiado, com os primeiros 28 candeeiros, foi a primeira zona da capital a ser iluminada por este novo sistema, marcando assim um passo gigante na modernização da cidade e da noite. Na noite de 30 de julho de 1848, o Largo dos Remolares no Cais do Sodré, a Rua de São Paulo e a Rua da Boavista foram artérias também pioneiras no projecto de iluminação das ruas de Lisboa com candeeiros a gás. Cerca de 30 candeeiros da Companhia Lisbonense d'Iluminação a Gaz, criada dois anos antes, alumiaram algumas ruas da cidade (além das acima referidas, a Baixa e o Chiado) que depois desta experiência, estendeu-se a outras zonas da cidade. A "Revista Universal Lisbonense", no seu número de 3 de agosto, referia-se aos primeiros dias deste "ensaio da illuminação por meio de gaz" como algo "digno de ver-se"! Este entusiasmo foi tal, que foram elaborados projectos com propostas para o uso de candeeiros em forma de candelabros exuberantes e artísticos, dotados de lanternas com bicos de gás, para a iluminação das Praças do Rossio, futura D. Pedro IV, no entanto não passaram de projectos e candeeiros com lanternas mais simples acabaram por iluminar e dar vida nocturna a estas praças de Lisboa.


Joaquim Pedro Quintela, 2 barão de Quintela e 1 conde de Farrobo 1801 - 1869,
 por Julien-Paul Delorme (col. Museu Nacional de Arte antiga, Lisboa)


Equipamento para produção do gás de iluminação a partir do carvão, idêntico ao usado por 
Joaquim Pedro Quintela em 1840 no seu Palácio das Laranjeiras em Lisboa (arq. pess.)


Chama e bico a gás de queima directa semelhante
 à usada em 1840 na primeira iluminação 
nPalácio das Laranjeiras  
(arq. Lumière de l'oeil)


Palácio das Laranjeiras em Sete Rios primeira habitação a possuir iluminação 
a gás em Portugal (arq. AML)


Teatro Thalia ou das Laranjeiras em 1844 já com lampiões de iluminação a gás (col. pess.)


Rainha D. Maria II de Portugal 1819-1853 
(col. Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa)


Levantamento topográfico da zona para a instalação da Fábrica de Gás da Boavista
 por Francisco Goullard (arq. AML)


Levantamento topográfico da Fábrica de Gás da Boavista e as suas instalações (arq. AML)


Diagrama do equipamento de destilação, produção e armazenamento do gás 
para o consumo público a instalar na Fábrica de Gás da Boavista
(arq. pess.)


Fornalhas e equipamentos da Fábrica de Gás da Boavista na década de 1840 (arq. pess.)


Torres dos equipamentos de condensação na Fábrica de Gás da Boavista 
(arq. pess.)


Desenho de candeeiro de poste com lanterna de sistema a gás, proposto à CML 
pela Companhia do Gás de Lisboa, para iluminação pública 
das vias de menor importância (arq. AML)


Desenho de candeeiro de braço para parede com lanterna de sistema a gás, proposto à CML 
pela Companhia do Gás de Lisboa, para iluminação pública 
das vias  de menor importância (arq. AML)



Chama e bico de queima directa em leque usado 
na iluminação pública a gás em Lisboa
(arq. priv.)


Iluminação a gás em 1848 no Largo do Chiado junto à igreja da Encarnação, 
desenho da autoria de R. Christino, gravador Oliveira (arq. pess.)


Largo dos Remolares no Cais do Sodré já com candeeiros de iluminação pública a gás 
em meados do séc. XIX num desenho de Nogueira da Silva in Archivo Pittoresco
(arq. pess.)


Rua Vinte e Quatro de Julho junto à igreja de Santos em 1848 já com iluminação pública a gás 
e vendo-se ao fundo a Fábrica de Gás da Boavista in Archivo Pittoresco (arq. pess.)



Artigo publicado na "Revista Universal Lisbonense", n.º 35 de 3 de agosto de 1848, 
alusivo à inauguração da iluminação pública a gás em Lisboa 
(arq. Hemeroteca Digital de Lisboa)


Desenho da proposta em 1849 para candelabro de ferro fundido em pedestal 
com lanternas de iluminação a gás, para a Praça D. Pedro IV em Lisboa 
(arq. AML)



Desenho da proposta em 1849 para candelabro de ferro fundido em pedestal 
com lanternas de iluminação a gás, para a Praça do Rossio em Lisboa 
(arq. AML)



Praça do Rossio em meados de 1848 com os primeiros candeeiros de iluminação pública a gás, 
foto albumina de Amédée Lemaire de Ternante (col. Alcídia e Luís Viegas Belchiort)



Em pouco mais de um ano, a cidade de Lisboa recebe cerca de 400 candeeiros com lanternas funcionado a gás que se misturam, em algumas ruas, com os 2168 candeeiros de iluminação pública no sistema de "cegonha" ainda a azeite. Para além dos modelos de candeeiros standard usados, passam a ser adoptados diferentes estilos de candeeiros e lanternas consoante o local a instalar. A luz do gás era de tom branco, bastante viva, sem fumo, mas o gás tinha um cheiro desagradável. Dos bairros mais pobres da capital, acorrem à Baixa de Lisboa os deslumbrados pelo novo milagre da iluminação. A nova iluminação a gás, fomentou igualmente o aumento dos frequentadores de teatros, de soirées e de passeios nocturnos, nomeadamente no famoso Passeio Público que passa a ter outra vida com a iluminação a gás. Ficou celebre na primeira peça de teatro de Revista representado em Portugal, no Theatro do Gymnasio em 11 de janeiro de 1851, sob o título programático de "Lisboa em 1850", numa rabula em que surgiam os antigos candeeiros de iluminação publica da cidade funcionando a azeite e os modernos candeeiros funcionando a gás. O que marcava a diferença da cidade de Lisboa do passado e da Lisboa moderna de então. Em agosto de 1851, com a chegada do gás, ficaram também célebres as iluminações do Passeio Público, com luminárias exclusivas para o efeito, tendo-se registado a visita de 15612 pessoas em 3 noites. Refira-se que quando havia iluminações no Passeio Público, a entrada era paga, e para que a gente do povo não gozasse o espectáculo de graça, as grades eram vedadas por grandes coberturas de lona. No inicio da década de 1850 é construída uma elevação na fachada da Fábrica de Gás da Boavista, na Rua da Boavista, aprovada pela CML em 16 de maio de 1850, com o objectivo de dissimular este complexo industrial e equipamentos, onde a actividade era cada vez mais intensa. No ano de 1852 existiam na Fábrica de Gás da Boavista cinco gasómetros e dois grupos de fornos, no totalizando 120 retortas, o que permitia fornecer gás a uma grande parte da cidade tanto para a iluminação publica como doméstica. Mesmo durante a fase das terríveis epidemias da Cólera Morbus e da Febre Amarela que assolaram a cidade de Lisboa entre 1856 e 1857, vitimando e afastando muita da população do centro da cidade, era a iluminação a gás, de tom mais claro e vivo, que dava alguma vida às noites soturnas e vazias da capital. Foi este novo sistema de iluminação permitiu que os rituais do dia de trabalho e da noite de descanso se reconfigurassem. Tornou a noite da Lisboa boémia mais democrática, aberta a todas as classes sociais. A Lisboa Queirosiana surge com as suas artérias iluminadas a gás, assim como o famoso Passeio Público, tão bem descritas, de forma realista em detalhe, por Eça de Queirós (1845 - 1900), nos seus romances de intriga e critica social lisboeta, tal como em "A Capital" e "Os Maias". Igualmente outros grandes autores descrevem estes ambientes de Lisboa iluminada a gás como Camilo Castelo Branco (1825 - 1890), em "A Queda de um Anjo". Terá a iluminação da cidade sido pensada mais como uma medida de controlo e afirmação por parte da autoridade do que uma forma de tornar Lisboa mais cosmopolita. No entanto, acabou por possibilitar a experimentação de uma liberdade individual em vez da segurança comunitária para a qual nasceu, uma realidade paralela e marginal ao dia. Os novos candeeiros de iluminação pública, iluminavam a zona central da cidade de Lisboa e a pouco e pouco foram-se estendendo a toda a cidade, chegando às zonas de Alcântara, Junqueira, Belém, Bairro Alto e Patriarcal (actual Praça do Príncipe Real)À época, as luminárias da cidade de Lisboa funcionavam a gás, azeite ou petróleo que entretanto surgira, mais tardiamente em alguns casos. Nas noites seguintes continuava o “alvoroço”, a nova luz "abria a noite", para muitos tinha chegado a Portugal a inovação, para outros era uma nova desgraça que ia arruinar as indústrias do azeite, estragar e esburacar as ruas da cidade. 


Candeeiro de parede com lampião funcionando a gás 
com queimador directo para iluminação pública
 nas ruas de Lisboa, usado a partir de 1849
(arq. pess.)



Modelos de lanternas de inspiração francesa adoptadas para a iluminação pública a gás de Lisboa 
(arq. pess.)


Praça do Rossio já com arborização em meados do início da década de 1850 com os primeiros candeeiros 
de iluminação pública a gás, foto albumina Wenceslau Cifka (arq. AML)



Inauguração da iluminação a gás do Passeio Público de Lisboa em agosto de 1851 
com luminárias especiais para o efeito (arq. AML)



Sala dos fornos da Fábrica de Gás da Boavista (arq. pess.)



Traçado de elevação da fachada da Fábrica de Gás na Rua da Boavista, 
aprovada pela CML em 16 de maio de 1850 (arq. AML)


Candeeiros de iluminação pública com lanternas funcionando a gás na Rua das Janelas Verdes
 junto ao Largo do Chafariz em 1858, foto albumina Amédée de Lamaire-Ternante (arq. CPF)


Alameda com candeeiros de iluminação pública a gás de queimador directo no Passeio Público 
em tempo de epidemia sem transeuntes, nos finais da década de 1850 (arq. AML)



Candeeiros de iluminação pública a gás no Largo da Abegoaria ao Chiado no início da década de 1860,
 foto, José Artur Leitão Bárcia (arq. priv.)



Tipo de candeeiros de iluminação pública a gás, sistema de queimador directo, em poste de ferro fundido, 
na Praça do Comércio em meados da década de 1860 (arq. AML)



Iluminação pública a gás com candeeiros de queimador directo na Praça do Comércio
 em meados da década de 1860 (arq. AML)



Iluminação publica a gás na Praça do Comércio junto ao arco da Rua Augusta em construção em 1862, 
foto albumina Václav Cifka (arq. AML)


Entrada principal do Passeio Publico com candeeiros de iluminação pública a gás na década de 1860, 
foto Augusto Xavier Moreira (arq. pess.)


Alameda com candeeiros de iluminação pública a gás no Passeio Público já com transeuntes 
após os tempos de epidemia em meados da década de 1860, 
foto Augusto Xavier Moreira (arq. pess.)


Movimento no Passeio Publico em 1863 com candeeiros de iluminação pública a gás 
in Archivo Pittoresco (col. pess.)


Candeeiro de iluminação pública a gás no Largo dos Remolares no Cais do Sodré na década de 1860, 
foto Augusto Xavier Moreira (arq. pess.)


Ponte de Alcântara em 1862 com candeeiro a gás de iluminação pública, 
num desenho de Nogueira da Silva in  Archivo Pittoresco (arq. pess.)


Candeeiros de iluminação pública a gás na Rua Direita da Junqueira em 1867, 
foto Augusto Xavier Moreira (arq. pess.)


Candeeiros de iluminação pública a gás em 1873 no Largo da Patriarcal, 
actual Jardim do Príncipe Real (arq. pess.)



Entre 1875 e 1877 a Companhia mandou construir na Fábrica de Gás da Boavista uma fachada neogótica, projecto da autoria de João Eduardo Ahrens, que ocultava as instalações da fábrica do lado do Aterro da Boavista. Os candeeiros adoptados para a iluminação pública da cidade de Lisboa, tinham armações de base rectangular em que o sistema (de espalhador) era aceso manualmente pelos serventes da Companhia do Gás, chamados popularmente "vaga-lumes" ou de forma mais depreciativa chamados "caga lume". Estes funcionários, figuras típicas da cidade de Lisboa, inicialmente com chapéu de abas reviradas, mais tarde usando chapéu de pala, batina curta e escadinha ambulante, percorriam as ruas da cidade ao cair da tarde, para acender os bicos de gás da iluminação pública e ao raiar da aurora, repetiam o mesmo caminho, apagando-os. Estas figuras acabariam por fazer parte do imaginário colectivo do quotidiano típico da cidade de Lisboa. Entretanto com o aumento deste novo tipo de iluminação, a distribuição do gás passa a ser feita através de um sistema em rede de canalizações subterrâneas de tubos de ferro. Como a tubagem de distribuição de gás inicial tinha muito desgaste e exigia renovações constantes, entre 1876 e 1877 é substituída parte da antiga canalização de material vidrado, que era muito frágil, por tubagem de ferro fundido. Esta nova tubagem era fornecida por diversas empresas como a Fábrica Perseverança, pela Fábrica Henrique Burnay & Cª, ou ainda a Fundição Vulcano, a Empresa Industrial Portuguesa de Santo Amaro, entre outras. Um dos principais problemas da distribuição de gás iluminante era o amoníaco que continha. A solução encontrada foi a construção no subsolo de poços ligados à rede, para recolher as águas amoniacais prejudiciais à saúde eram periodicamente recolhidas com uma bomba de aspiração manual. De referir como curiosidade que o consumo destas águas amoniacais, ocorrido na época, quer por seres humanos quer até por cães vadios, chegou a causar vítimas mortais. Com o objectivo de iluminar de forma mais intensa algumas das praças da cidade de Lisboa, passam a ser utilizados em algumas das lanternas dos candeeiros de iluminação pública desses espaços bicos de queimadores directos dotados de sistema de difusor intensivo de luz, que consistia na utilização de um vidro prismático sob os queimadores que ampliava a luz irradiada. Melhoramentos nos sistema de iluminação pública importados de França, para estes locais de grande convívio e passeios dos lisboetas. Podiam-se encontrar este novo sistema nos candeeiros da Praça de Camões, Praça dos Restauradores, Praça D. Pedro IV,  e Terreiro do Paço, locais de grande movimento e vida social da capital. Nesta altura alargou-se também a rede de distribuição de gás para a zona dos Olivais. Entretanto, as freguesias mais periféricas do centro de Lisboa e Vilas dos arredores como Sintra, eram iluminadas ainda por candeeiros a azeite e mais tarde a petróleo, que aos poucos acabaram por ser substituídos. A iluminação feita a petróleo era mais potente face à iluminação feita a azeite e a ampliação produzida pela chaminé de vidro existente nos candeeiros aumentava o seu poder iluminante, mas não superava a iluminação feita a gás. Este sistema de iluminação pública a petróleo terá sido aplicado primeiro em 1862 e foi usado na capital e seus arredores como  até aos anos de 1923 para iluminação de azinhagas e estradas nas zonas mais periféricas da capital.


Fachada neogótica da Fábrica de Gás da Boavista, projecto da autoria de João Eduardo Ahrens 
em meados da década de 1870 (arq. priv.)



Ambiente no interior da Fábrica de Gás da Boavista já no início do séc. XX em 1907, 
foto Joshua Benoliel (arq.  AML)



Ambiente das fornalhas da Fábrica de Gás da Boavista 
em meados da década de 1870 (arq. pess.)


Servente ou vaga lumes de Lisboa, funcionário da Companhia do Gás 
em meados de 1875 in Colecção Palhares 2ª série (col. pess.)


Modelo de lanterna cónica para iluminação pública
 a gás de queimador directo com sistema intensivo 
adoptado para algumas praças 
da cidade de Lisboa 
(arq. pess.)


Bicos de queima directa de gás com sistema de difusor intensivo da luz 
utilizado em alguns candeeiros de iluminação pública 
de praças da cidade de Lisboa (arq. Lumière de l'oeil)


Candeeiro de iluminação pública a gás dotada com o sistema de difusor
 intensivo da luz em 1880 na Praça Luís de Camões, foto Louis Levy, 
col. Eduardo Portugal (arq. AML)


Tipo de candeeiro de iluminação pública a gás dotados com sistema de difusor intensivo da luz 
no Largo de Camões no Chiado em finais do séc. XIX (arq. AML)


Praça D. Pedro IV no Rossio com os novos candeeiros de iluminação pública a gás dotados 
de sistema difusor intensivo da luz em meados de 1880, foto Legado Seixas (arq. AML)


Sistema de iluminação pública a gás com sistema de difusor intensivo da luz na Praça D. Pedro IV 
em finais do séc. XIX, foto de José Chaves Cruz (arq. AML)



Modelo de candeeiro de iluminação pública funcionando a petróleo 
usado em estradas e azinhagas da periferia da cidade de Lisboa 
na década de 1860 (arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública a petróleo na antiga Estrada de Sacavém
 junto ao Convento de Nossa Senhora da Conceição de Arroios 
em meados do séc. XIX (arq. AML)



Candeeiros de iluminação pública a petróleo numa rua do centro da Vila de Sintra 
em finais do séc. XIX (arq. priv.)


Candeeiro de iluminação pública utilizando o sistema a petróleo 
na Vila de Sintra em finais do séc. XIX (arq. pess.)



Coube a um conjunto de empresários lançar este projecto em Portugal, sendo actualmente o gás o mais antigo serviço público privado existente em Portugal. A partir de meados do século XIX o gás de cidade passa a ser consumido inclusive ao nível doméstico, tendo a fábrica da Boavista que aumentar a sua capacidade de fornecimento. Face à inevitabilidade do surgimento de uma companhia concorrente, em 1887 é criada a Companhia Gaz de Lisboa. Nesse mesmo ano a Câmara de Lisboa realizou um concurso para a total iluminação a gás da cidade. O contrato foi atribuído à "Societé d’ Éclairage du Centre" que criou para esse fim uma nova companhia, "Gaz de Lisboa". Em 1888, iniciaram-se os trabalhos de construção da nova fábrica de gás em Belém dotada de um novo gasómetro telescópico, isto após o fracasso da fusão com a companhia "Lisbonense de Iluminação a Gaz", instalada na Boavista. Apesar da localização junto à Torre de Belém ter sido fortemente contestada na época, surgindo até movimentos contra em 1888 e publicações com fortes criticas, algumas com caricaturas da autoria de Raphael Bordallo Pinheiro (1846 - 1905), alusivas à questão. No entanto foi sempre alegado e defendido que a sua proximidade ao rio era indispensável para a descarga de matéria-prima. Um ano depois, esta empresa constrói a sua fábrica em Belém, com uma dimensão ligeiramente maior que a fábrica da Boavista da sua concorrente, que se manteve me actividade até tarde. O terreno tinha 38 600 m2 cedidos pela CML, mediante renda, além de 4000 m2 comprados à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes. Devido aos efeitos da concorrência, a Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz e a Companhia Gaz de Lisboa fundem-se, em 1891, passando a designar-se Companhias Reunidas de Gás e Electricidade - CRGE. Inicia-se, assim, um ciclo de produção de gás de cidade, igualmente conhecido como gás iluminante, que vem beneficiar a população, melhorando as suas condições de vida em vários níveis. Com o prolongamento da Linha de Cascais e a construção do porto de Lisboa, é construído um ramal para o transporte do carvão via caminho de ferro para as instalações desta fábrica. Será em 1896, por acordo entre a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes e a Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz e a Companhia Gaz de Lisboa, a então já CRGE, que todas as estações da Linha de Cascais passam a dispor de fornecimento e instalação de iluminação com bicos incandescentes a gás nos seus edifícios e plataformas de embarque. No início do século XX, passam os primeiros bicos de gás a ser substituídos por um novo sistema de camisa rígida incandescente sistema Auer Welsbach.  Estas camisas eram feitas de uma rede de fios de algodão, embebida em óxido de magnésio, a qual incandescia, atingindo rapidamente o rubro-brando e produzindo uma luz muito clara. Eram protegidas por uma chaminé de vidro dotada de orifícios de ventilação, chaminés estas que ampliavam igualmente a luz produzida. Com a instalação deste novo sistema de iluminação em 1909, a CML racionalizou as despesas relativas eléctricas e a gás, melhorando assim a iluminação pública em geral. Este sistema de iluminação garantia um poder iluminante de 38,4 velas para um consumo de 80 litros de gás, menos de metade do preço do sistema anterior de queimadores directos. Sistema este que passa a ser utilizado tanto na iluminação pública como na privada domestica. Apesar do novo sistema a gás iluminante, muitos dos candeeiros da iluminação pública, em algumas artérias de Lisboa, continuaram a usar os antigos queimadores directos. As noites nas ruas da capital ganhavam outra vida com esta claridade artificial como quase de luz do dia se trata-se.  Os locais de entrada e saída dos "carros americanos" e mais tarde eléctricos da CCFL (Companhia Carris de Ferro de Lisboa), situavam-se junto aos postes de candeeiros da iluminação publica e distinguiam-se pela cor diferente assim como a indicação de "PARAGEM" nos vidros das lanternas, visíveis durante a noite. Aos poucos, até algumas localidades mais limítrofes da cidade de Lisboa passaram a ter iluminação publica a gás com o novo sistema incandescente, como o Lumiar, a Alameda da Linhas de Torres, Benfica, em especial a Estrada das Garridas, muito utilizada à época para acesso às localidades em redor desta freguesia de Lisboa. Igualmente o gás de iluminação chega a zonas mais periféricas da cidade de Lisboa como a Porcalhota, actual cidade da Amadora, Queluz, Belas, Vilas Sintra e Cascais. Seria a cidade de Lisboa a primeira em Portugal a ter gás de iluminação, seguindo-se outras cidades, entre elas, Matosinhos, Évora, Aveiro, Setúbal, Braga, Leiria, Santarém, Porto… O gás na iluminação pública foi rei e senhor da cidade durante a segunda metade do século XIX. No início do século XX, a fábrica de gás em Belém suscita novamente a indignação pública pelo facto de estar situada junto à Torre de Belém, um monumento de beleza e interesse histórico. Como resposta a essas manifestações públicas, dá-se a deslocação dos dois gasómetros para um local mais afastado, para Vila Correia, onde permanecem activos até 1954. 


Desenho esquemático de gasómetro telescópico para a Fábrica de Gás de Belém
(arq. AML)


Aspecto das instalações da fábrica de gás e gasómetro telescópico de Belém em 1889, 
num desenho de L. Freire in revista O Occidente (arq. pess.)


Ambiente da Fábrica de Gás de Belém na década de 1890 (arq. pess.)


Em 1891, após a fusão das duas Companhias passando a designar-se
Companhias Reunidas de Gás e Electricidade CRGE (arq. pess.)


Planta das instalações e terreno ocupado pela Fábrica de Gás de Belém da C.R.G.E. em 1910
 (arq. AML)


Contestação contra a instalação da Fábrica de Gás de Belém numa ilustração de Raphael Bordallo Pinheiro
  na publicação Pontos nos ii de novembro de 1888 (arq. priv.)


Aspecto da Fábrica de Gás de Belém vista do rio em 1912, foto Eduardo Portugal (arq. AML)


Aspecto da Fábrica de Gás de Belém e a Torre em 1912 (arq. AML)


Descarga do carvão de vagões do caminho de ferro junto ao gasómetro de Belém 
na década de 1890 (arq. AML)


Queimadores a gás dotados de manga incandescente sistema 
Auer Welsbach e chaminés de vidro perfuradas adoptados 
para a maioria das ruas da cidade de Lisboa 
no início do séc. XX (arq. pess.)


Funcionamento de queimador a gás  com manga incandescente
 e chaminé de vidro perfurada, os bicos sistema Auer Welsbach 
do inicio do séc. XX (arq. priv.)


Candeeiro de iluminação pública com sistema de incandescente Auer Welsbach 
junto ao Arco do Rosário, junto ao Terreiro do Trigo no início do séc. XX
(arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública a gás em poste dotado de sistema de incandescência Auer Welsbach 
na Rua de Augusto Rosa, em 1900, foto José Artur Bárcia (arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública a gás com sistema de incandescência 
Auer Welsbach na Travessa da Espera com a Rua do Norte 
no Bairro Alto no início do séc. XX (arq. AML)


Candeeiros de iluminação pública a gás com queimador directo na Av. da Liberdade 
no início do séc. XX em postal ilustrado (col. pess.)


Sistema de iluminação pública e privada com a utilização dos novo sistema de mangas incandescentes 
na Praça D. João da Câmara no início do séc. XX, foto Alberto Carlos Lima (arq. AML)



Candeeiro de iluminação pública a gás ainda com sistema de queimador directo 
junto ao Palácio Coculim no Campo das Cebolas em finais do séc. XIX 
(arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública a gás dispondo ainda de  queimador directo 
na Tv. da Boa Hora no Bairro Alto em finais do séc. XIX (arq. AML)


Praça D. Pedro IV no Rossio ainda com iluminação pública a gás em meados de 1880 (arq. AML)



Candeeiro de iluminação publica a gás de parede, paragem de carros americanos
 nos finais do séc. XIX (arq. priv.)


Candeeiro de iluminação pública a gás em poste de ferro, dotado de manga de incandescência
 na Alam. das Linhas de Torres no Lumiar no início do séc. XX, foto Joshua Benoliel
 (arq. AML)



Candeeiro de iluminação publica a gás, paragem de carros eléctricos, junto ao Bairro Grandella
 na Estrada de Benfica no início do séc. XX, foto Alexandre Cunha (arq. AML)


Estrada de Benfica junto à igreja de Nª Srª do Amparo com iluminação pública a gás em 1904,
 foto Paulo Guedes (arq. AML)


Jardim e avenida na Porcalhota, já então Amadora com candeeiros de iluminação pública a gás 
em postal ilustrado início do séc. XX (arq. pess.)


Candeeiro de iluminação pública a gás na Av. da República na Porcalhota, já então Amadora, 
em postal ilustrado início do séc. XX (col. pess.)


Candeeiro de iluminação pública a gás numa rua junto à Ponte Pedrinha em Queluz 
no inicio do séc. XX em postal ilustrado (col. pess.)


Candeeiro de iluminação pública a gás em Queluz na Estrada de Ponte Pedrinha
 no início do séc. XX em postal ilustrado (col. pess.)



Candeeiros de iluminação pública junto à Cidadela de Cascais em finais do séc. XIX (arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública a gás em Cascais no Passeio à beira mar, junto da praia da Ribeira,
 em finais do XIX (arq. AML)


Vista a partir da Torre de Belém dos dois gasómetros deslocados no início do séc. XX 
para Vila Correia, onde permanecem activos até 1954, foto Eduardo Portugal 
(arq. AML)



A iluminação eléctrica seria uma das grandes invenções e novidades do século XIX. A primeira instalação conhecida de iluminação pública eléctrica em Portugal, foi feita com seis candeeiros com lâmpadas Jablochkoff (sistema de lâmpada de arco eléctrico), importados de Paris, idênticos aos que iluminavam a Praça da Ópera. Este sistema era formada por uma máquina geradora Gramme accionada por um motor a vapor. Todo o material eléctrico foi encomendado pelo rei D. Luiz I (1838 - 1889), habitual comprador de novidades técnicas e científicas. Era um tipo de lâmpadas formada por dois eléctrodos de carvão paralelos e justapostos, separados a uma pequena distância por uma substância isolante, encerrados em globos de vidro opalino. O arco eléctrico produzido quando os dois eléctrodos se aproximavam produzia uma luz branca, intensa, encandeaste, e mais duradoura, apesar do ligeiro ruído produzido pelo arco eléctrico. Um tipo de iluminação aconselhável para grandes espaços públicos. Estes candeeiros dotados com este tipo de lâmpadas, foram utilizados pela primeira vez no dia 28 de setembro de 1878, aquando das festas do 15º aniversário do príncipe D. Carlos (1863 - 1908), na Cidadela de Cascais. Por curiosidade, surgiram alguns percalços nesta experiência, o gerador adquirido para alimentar as lâmpadas colocadas na via pública avariou e foi necessário o empréstimo à última hora de equipamento de substituição por um navio inglês que estava fundeado ao largo de Cascais… Mas, à hora marcada e para gáudio e felicidade de Portugal, lá se acenderam as lâmpadas dos candeeiros e o Passeio junto à Cidadela, ali mesmo no coração de Cascais, transformou-se no primeiro lugar de Portugal a ser iluminado por electricidade! De Lisboa, eram feitas excursões em família para ver os então modernos candeeiros que funcionavam a electricidade, sem chama e que já não deixavam um cheiro desagradável no ar como a iluminação a gás. Este evento Real foi o grande impulso para electrificar Portugal e com isso os portugueses ficaram entusiasmados com a novidade. Foram depois estes candeeiros oferecidos pelo rei D. Luiz I, à Câmara Municipal de Lisboa e ligados na Praça de Camões no Chiado em 30 de outubro desse ano, onde se mantiveram a par com a iluminação pública a gás. A electricidade, antes do seu uso intenso, vai mudar a feição da cidade de Lisboa, nos cem anos seguintes. Foi preciso esperar alguns anos, até 1887, para que a Câmara Municipal de Lisboa celebrasse um contrato para a electrificação da Avenida da Liberdade e da Praça dos Restauradores com um novo modelo de candeeiros de lâmpadas de arco eléctrico. Um sistema de iluminação em tudo idêntico ao anterior já experimentado apenas dotado de um sistema mecânico que permitia a ignição dos dois eléctrodos de carvões paralelos e justapostos. Tal ocorreu em maio de 1889, quando a iluminação eléctrica foi instalada de forma definitiva na Praça dos Restauradores, na Avenida da Liberdade, Praça D. Pedro IV (Rossio), Rua do Ouro, Chiado e Praça do Município. Este processo de instalação de iluminação pública com sistema eléctrico foi-se verificando gradualmente até ao inicio do século XX nas principais artérias e Praças da capital. Das pequenas centrais de produção de electricidade, passa-se à primeira fábrica, em plena Avenida da Liberdade (no local onde hoje está o edifício do Hotel Victoria) e revela já a importância excepcional dos recentes candeeiros de iluminação pública de arco eléctrico. De referir que o sistema eléctrico nesta época era de Corrente Continua. Apesar de tal inovação, alguns candeeiros de iluminação pública a gás em Lisboa operavam ainda em alguns bairros e praças da capital. Ainda fazia parte do quotidiano da cidade de Lisboa verem-se os funcionários da Companhia do Gás, os "vaga lumes", nas suas funções diárias de acender e apagar os bicos de gás e fazer a manutenção dos candeeiros ainda existentes. Muitas vezes quando surgiam avarias nos candeeiros ou  no sistema de distribuição de gás, a iluminação era subsistida nesses locais por iluminação a petróleo. Em 1902, a CRGE (Companhias Reunidas de Gás e Electricidade) estende a toda a cidade de Lisboa a iluminação eléctrica. Constituída a partir da fusão da Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás e da Companhia Gás de Lisboa, em 1891, a Câmara Municipal de Lisboa havia-lhes concedido o direito de; "produzir, distribuir e vender gás e electricidade destinada à iluminação pública e particular e a outros usos domésticos e industriais na área municipal da cidade de Lisboa". Quando pensamos no processo de electrificação do país, rapidamente poderemos associar a iluminação dentro de casa, mas o primeiro passo deu-se na rua, com a iluminação pública. A CRGE, por acordo estabelecido, ficou obrigada a manter estes candeeiros de arco eléctrico acesos até à uma hora da manhã, sendo depois apagados e ficando apenas a iluminação a gás acesa até ao raiar do dia. Será a partir de 1902, com a generalização da electricidade, que são colocados novos candeeiros em determinados pontos da cidade de Lisboa. Na capital até pelo menos 1903, a iluminação pública eléctrica resumia-se a 38 candeeiros de lâmpadas sistema de arco eléctrico, colocados na Avenida da Liberdade e Praça dos Restauradores. Foram contemplados com essa inovação o Chiado, Rossio, Praça do Comércio e em algumas placas centrais das Avenidas Novas, a então Rua 24 de Julho, actual Avenida 24 de Julho até à Praça Afonso de Albuquerque em Belém. Era comum por vezes colocarem estes novos candeeiros de iluminação eléctrica ao lado dos velhos candeeiros de iluminação a gás. Utilizando os dois sistemas em simultâneo, cuja diversa gramática decorativa dotava a cidade, nesses pontos, de um ecletismo formal e singular. Igualmente a Vila de Sintra, que dispunha de candeeiros de iluminação pública a gás e petróleo nas suas artérias, instalados em finais do século XIX, a partir de 1904 passa a dispor de iluminação pública eléctrica. A então Companhia Cintra ao Oceano, que iria construir a linha de carros eléctricos de Sintra à Praia das Maçãs, após a conclusão da linha, disponibilizou-se para instalar a iluminação eléctrica nas localidades entre Sintra, São Pedro a Colares. Para isso a energia era fornecida por dínamos montados pela Westinghouseinstalados na zona da Ribeira de Sintra, accionados por máquinas a vapor construídas pela empresa de Berlim Franz Scheiffer, cada uma com 450 cavalos e alimentadas por caldeiras multitubulares da casa Belleville, de Saint Denis. As lâmpadas eléctricas vão a partir de então, iluminar as noites desta peculiar Vila dos arredores de Lisboa, com este moderno sistema de iluminação pública, algumas instaladas em luminárias de postes de ferro fundido, alguns ainda hoje existentes no jardim da Correnteza, fornecidos pela Casa Barros Queiroz. Esta Companhia iria ser a detentora do fornecimento de energia eléctrica à Vila de Sintra até finais da década de 20 quando a CRGE passou a ser detentora da distribuição geral. Depois da pompa de acender os primeiros candeeiros eléctricos em Cascais, o fascínio pela electricidade continuava a crescer e, no final do século XIX e início do século XX, surgem as primeiras empresas de produção e distribuição de energia eléctrica privadas na cidade de Lisboa: 

1891 - Companhias Reunidas Gás e Electricidade (CRGE)

1903 - Central da Boavista

1908 - Central do Ouro

1909 - Central do Desterro

1914 - Central Tejo

1919 - União Eléctrica Portuguesa





Modelo de lâmpada de arco eléctrico sistema Jablochkoff 
utilizado em Cascais em 1875 (col. pess.)


Passeio junto à Cidadela de Cascais onde se acenderam as primeiras lâmpadas 
de iluminação pública eléctrico sistema Jablochkoff 
em Portugal em 28 de setembro de 1878 
(arq. priv.)



Iluminação pública eléctrica por sistema Jablochkoff na Praça de Camões no Chiado em 1880 
aquando das comemorações do Tricentenário de Luiz de Camões
 por Casanova in revista O Occidente (arq. pess.)



Desenho de poste para candeeiro
 de iluminação pública com 
lâmpada de arco eléctrico 
ser colocado na
 Avenida da Liberdade 
em 1887(arq. AML)



Desenho de poste candeeiro de iluminação 
pública com dupla lâmpada 
de arco eléctrico e dotado 
de painel central 
destinado a publicidade 
em 1887 
(arq. AML)


Lâmpada de arco eléctrico adoptada para iluminação pública 
e seu maquinismo para ignição de 1898 (col. pess.)



Iluminação com lâmpada de arco eléctrico de finais do séc. XIX 
(arq. Lumière de l'oeil)


Iluminação pública com sistema de arco eléctrico a par com a iluminação a gás 
na Praça dos Restauradores em 13 de junho de 1895, foto Chavez Cruz
(arq. AML)


Candeeiros de iluminação pública com sistema de arco eléctrico e a gás na Praça D. Pedro IV no Rossio
 por volta de 1890 em postal ilustrado e colorido (arq. pess.)



Rua do Ouro no início do séc. XX, vendo-se a iluminação publica com sistema de arco eléctrico 
a par com a iluminação a gás (arq. AML)



Praça de Camões em 1900 com a iluminação pública a gás e sistema de arco eléctrica (arq. AML)



Central eléctrica movida a vapor idêntica às utilizadas em Lisboa no final do séc. XIX (arq. pess.)


O "vaga lumes", funcionário da Companhia do Gás fazendo a manutenção de um candeeiro a gás 
na Praça do Comércio em Lisboa no início do séc. XX (arq. AML)


Sistema de substituição provisório de petróleo em candeeiro de iluminação pública a gás
 na Rua dos Caetanos junto ao Conservatório em 1918, foto Joshua Benoliel
(arq. AML)


Desenho de modelo de lâmpadas de arco eléctrico de 1901 
para candeeiros iluminação pública em Lisboa
(arq. AML)


Iluminação pública a gás e sistema de arco eléctrico no início da Rua 24 de Julho em 1901, 
foto José Chaves Cruz (arq. AML)


Desenho de candeeiro eléctrico 
para iluminação pública 
da Av. da Liberdade 
do início do séc. XX, para 
a Companhia de Gás de Lisboa
(arq. AML)


Sistema de iluminação pública a gás e de arco eléctrico no mesmo poste 
utilizado na Av. da Liberdade em 1903, foto Ferreira da Cunha 
(arq. AML)


Movimentos da Av. da Liberdade com a iluminação pública eléctrica e a gás em 1905,
 litografia de João Christino (arq. pess.)


Hotel Avenida Palace na Praça dos Restauradores no início do séc. XX sob a iluminação pública 
da luz do gás e do sistema de arco eléctrico, foto José Artur Leitão Bárcia (arq. AML)


A iluminação pública eléctrica e gás na Av. da Liberdade com a Rua Barata Salgueiro 
no início do séc. XX, foto Paulo Guedes (arq. AML)


Candeeiros de iluminação pública com sistema de arco eléctrico na Rua Garrett no Chiado em 1907, 
foto Alberto Carlos Lima (arq. AML)


Praça do Comércio com candeeiros de iluminação pública sistema de arco eléctrico e gás 
no início do séc. XX, foto Paulo Guedes (arq. AML)



Manutenção de um sistema de lâmpada de arco eléctrico 
de um candeeiro de iluminação pública em 1908
(arq. pess.)


Iluminação pública em 1909 com sistema de arco eléctrico e a gás junto 
ao Museu Nacional dos Coches em Belém, foto Paulo Guedes 
(arq. AML)


Aspecto nocturno com a iluminação pública a gás e eléctrica 
da Praça D. Pedro IV no Rossio em 1908 (col pess.)



Vista de Lisboa à noite e a iluminação pública da capital aquando do avistamento do cometa Halley
 em 19 de maio de 1910 (arq. pess.)




Candeeiros de iluminação pública a petróleo na Vila de Sintra em finais do séc. XIX (col. pess.)




Um dos dínamos Westinghouse da Companhia Cintra ao Oceanoinstalados na zona da Ribeira de Sintra 
 que forneciam electricidade à Companhia e à Vila de Sintra em 1904 
(arq. pess.)


Candeeiro de iluminação pública sistema de arco eléctrico numa rua de Sintra
 no início do séc. XX (arq. priv.)



Modelo de candeeiro de iluminação pública eléctrico no jardim da Correnteza
 na Vila de Sintra, instalados no início do séc. XX 
e preservados na actualidade 
(foto Paulo Nogueira)



Na cidade de Lisboa, depois de várias pequenas centrais que foram construídas, começou a construção da Central Tejo ou da Junqueira em Belém, de maiores dimensões e mais potente. Os primeiros edifícios construídos em 1909, que já não existem, constituíam a primitiva Central Tejo que se manteve a trabalhar até 1921. Foi desenhada e projectada pelo engenheiro Lucien Neu e a sua construção ficou a cargo da firma Vieillard & Touzet (este último, Fernand Touzet, discípulo de Gustave Eiffel). Dadas as necessidades, as instalações da central foram crescendo sucessivamente consoante as necessidades e de mais maquinaria, as naves das caldeiras de baixa pressão começaram a ser construídas em 1914, no início da Primeira Grande Guerra Mundial e foram concluídas em 1930, até chegar ao ponto de alimentar os concelhos à volta de Lisboa. Mesmo assim, o desenvolvimento económico e social do país parecia não permitir o crescimento da energia eléctrica, apesar de o debate sobre a produção de hidroeletricidade conquistar posição. Entretanto Thomas Alva Edison (1847 - 1931), responsável pelo desenvolvimento do primeiro modelo de lâmpada eléctrica  incandescente comercial, com pequenas dimensões, simbolizava um meio pratico e barato de gerar e distribuir luz eléctrica, calor e energia. Já em 1879, ele tinha realizado uma experiência usando um bulbo de vidro a vácuo com filamento de carvão, que ficava isolado dentro do bulbo, evitando a combustão. O filamento era aquecido a ponto de emitir luz, mas a luz emitida era avermelhada, fraca e de pouca durabilidade. Este tipo de lâmpada foi melhorado com o uso de várias ligas metálicas mais duráveis e de maior luminosidade que o carvão até chegar ao uso do tungsténio. As novas lâmpadas eléctricas de incandescência seriam inicialmente comercializadas para uso doméstico, só mais tarde se faria a sua utilização na iluminação pública. Foi um sistema muito mais prático e revolucionário neste tipo de iluminação. A cidade de Lisboa e seus arredores não seriam excepção ao seu uso na iluminação pública, mas muitas seriam ainda as artérias da cidade que continuariam até muito tarde a ser iluminadas a gás com o sistema de manga incandescente a par com a iluminação pública eléctrica. A CRGE dominava toda a produção de gás, electricidade e comercialização de produtos e de equipamentos na região de Lisboa. As duas fábricas de gás à época, a da Boavista e Belém, produziram em conjunto, todo o gás consumido na cidade de Lisboa e arredores até 1914. Após uma violenta explosão na casa das caldeiras ocorrida na fábrica de gás da Boavista no dia 10 de outubro de 1914, que causou 18 vitimas mortais e cerca de 60 feridos, é considerado o perigo desta industria numa zona densamente povoada da cidade o que dita o encerramento deste unidade de produção de gás em Lisboa. A maior situação de crise da iluminação pública vivida num aspecto da vida das ruas que gradualmente se foi tornando comum, foi a que se viveu durante os anos de 1917 a 1921. Em Lisboa a supressão mais inesperada dá-se em 1917 quando de súbito a iluminação a gás é cortada alegando-se as dificuldades no abastecimento da matéria prima, o carvão, fundamental à indústria que a fornece à Câmara Municipal. 


Edifícios primitivos da Central Tejo na Junqueira das Companhias Reunidas de Gás e Electricidade 
em 1916, foto Joshua Benoliel (arq. AML)


Central Tejo na Junqueira, já ampliada, vista do rio em meados dos anos 30 (arq. AML)


Interior de uma das salas de máquinas da Central Tejo em meados dos anos 30 (arq. AML)


Mapa da rede de alimentação eléctrica de Lisboa e arredores em 1932 (arq. priv.)


Tipos de lâmpadas eléctricas de incandescência com filamento metálico 
para uso doméstico e público do início do séc. XX (arq. priv.)


Iluminação pública com sistema de manga incandescente a gás e sistema eléctrico 
na Rua das Portas de Santo Antão junto ao Coliseu dos Recreios 
no início do séc. XX (arq. AML)


Iluminação pública com sistema de manga incandescente a gás
 na Rua António Maria Cardoso em 1911, 
foto Joshua Benoliel(arq. AML)


Anúncio de 1910 das Companhias Reunidas de Gaz e Electricidade 
e comercialização de produtos e equipamentos (arq. pess.)


Incêndio no edifício da Fábrica de Gás da Boavista em 1914, 
foto Joshua Benoliel (arq. AML)


Iluminação pública com sistema eléctrico e com mangas de incandescência a gás na Rua da Prata,
 junto à Igreja de São Nicolau e Rua da Vitória em 1917, foto Joshua Benoliel (arq. AML)



Os poucos candeeiros de iluminação pública a gás que restaram na cidade de Lisboa, passam a ser adaptados com um novo sistema de mangas incandescentes de menores dimensões mas com mais poder de iluminação que os anteriores. Para dar manutenção e manter o funcionamento destes candeeiros, ainda era possível ver os funcionários Companhia de gás, os famosos e populares "vaga lumes" nas suas tarefas diárias de acender e apagar os candeeiros pelas ruas da cidade, profissão que brevemente deixaria de fazer sentido. O processo mais vasto e rápido de substituição da iluminação pública a gás da cidade de Lisboa, que aliás não conduziu a uma extinção total, dá-se entre 1928 e 1929, quando as lâmpadas eléctricas de incandescência metálica. Nos bairros mais típicos  mantiveram-se os antigos candeeiros com lanternas de ferro fundido, outrora funcionando a gás mas agora providos de lâmpadas de incandescência eléctrica e instalação eléctrica adaptada para o efeito pelo exterior. Por curiosidade, nestes bairros mais típicos da capital, como Alfama, alguns dos candeeiros de iluminação pública mesmo a funcionar a electricidade, devido à adaptação, eram acesos por um funcionário e pagados, à semelhança do sistema antigo de gás. Alguns dos candeeiros de poste em ferro fundido são adaptados com um sistema de armaduras apropriado para receber as lâmpadas de incandescência eléctrica características deste período, como o designado "bico de pato", "o aro", etc.. Também muitas das localidades dos arredores da capital passam a dispor de iluminação pública eléctrica com a adaptação dos antigos candeeiros a gás ao novo sistema. Neste período os novos candeeiros eléctricos para iluminação pública de Lisboa em poste metálico, dispondo de globos designados de new-lux, vulgarmente apelidados de "cabeça de nabo" e os apelidados "limões" de inspiração norte-americana, no início em vidro e mais tarde em material plástico, substituem assim milhares de lanternas e bicos de gás existentes em muitas artérias e praças de Lisboa. Muitos dos antigos candeeiros em poste de ferro fundido, que funcionavam a gás, passam a dispor igualmente destes globos new lux. Os candeeiros tradicionais de iluminação pública que se mantiveram, com as suas típicas lanternas em ferro, ficaram muito associados, até à actualidade, aos bairros históricas da capital e ao fado, em numerosas situações com ele relacionado, muitas vezes descritas e imortalizadas com "à luz de um candeeiro". Com o aumento da potência eléctrica, para além da evolução dos tipos de candeeiros também as fontes luminosas utilizadas evoluíram. Desaparece o "vaga-lumes" da maioria das ruas da capital, passando o sistema a funcionar com temporizadores ajustáveis. Em 1928, fica estabelecido no novo contrato de concessão que, num futuro próximo, a fábrica de gás vai ser novamente deslocada. Esse processo inicia-se em 1934, altura em que é definido como local ideal para a construção da nova fábrica um espaço na margem do Tejo junto à Quinta da Matinha, próximo à Refinaria de Cabo Ruivo, as condições em 1945, segundo publicidade da época, são já exemplares. Durante o processo de construção da Fábrica da Matinha, toda a produção das "Companhias Reunidas de Gás e Electricidade" é garantida pela fábrica de Belém, que só termina a sua laboração em 6 de setembro de 1949. Entretanto o sistema de Corrente Alterna passa a dominar para o uso doméstico. Em 1933, surge em Portugal a primeira fábrica de lâmpadas eléctricas de filamento, a marca Lumiar, que produz lâmpadas para a iluminação doméstica e pública, rivalizando com as marcas internacionais.



Novo sistema de iluminação pública incandescente a gás adoptado para certas artérias 
da cidade de Lisboa a partir de meados dos anos 20, foto Eduardo Portugal 
(arq. AML)


Funcionamento de queimador a gás com novo sistema
 de mangas incandescentes adoptado 
para certas artérias da cidade de Lisboa 
a partir de meados dos anos 20 
(arq. Lumière de l'oeil)


Funcionário da Companhia do gás os "vaga-lumes",
 fazendo a manutenção de um candeeiro 
de iluminação pública a gás em Alfama,
 aguarela de Alberto de Sousa 
(col. priv.)


Iluminação pública a gás com o novo sistema incandescente 
no Bairro da Bica em finais dos anos 20,
 foto Eduardo Portugal (arq. AML)


Tipo de lâmpadas de incandescência metálica 
para iluminação pública que passa
 a ser usada a partir de finais 
dos anos 20 (arq. pess.)


Luz de lâmpada eléctrica de incandescência metálica (arq. priv.)


Pormenor do sistema de electrificação dos antigos candeeiros 
de iluminação pública em Alfama em 1927, 
foto Mário Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)



Sistema de electrificação dos candeeiros de Alfama em 1927, 
junto ao Beco do Outeirinhofoto Mário Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)


Antigo candeeiro de ferro em poste adaptado com armadura "bico de pato"
 para lâmpada de incandescência eléctrica nos finais do anos 20, 
foto Eduardo Portugal (arq. AML)


Antigo candeeiro de ferro em poste adaptado com armadura em "aro"
para lâmpada de incandescência eléctrica nos finais do anos 20, 
foto Eduardo Portugal (arq. AML)


Sistema de iluminação pública com lâmpadas eléctricas de incandescência 
nos antigos postes de candeeiros a gás na Rua 5 de Outubro
 em Carcavelos nos anos 20, em postal ilustrado
(col. pess.)


Antigo candeeiro de iluminação pública em poste de ferro adaptado 
com lâmpada eléctrica de incandescência do final dos anos 20, 
no Largo frente à estação da Amadora (arq. priv.)


Candeeiro de iluminação pública em poste metálico com lâmpada eléctrica 
de incandescência e globo new lux nos finais dos anos 20
(arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública em poste metálico com lâmpada eléctrica 
de incandescência e globo "limão" nos finais dos anos 20 
(arq. AML)


Nova iluminação pública eléctrica na Praça dos Restauradores e Av. da Liberdade 
em finais dos anos 20, foto Horácio Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)


Iluminação pública ao anoitecer na Praça dos Restauradores no início dos anos 30, 
foto Horácio Novais (arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)


Iluminação pública eléctrica no Rossio em meados dos anos 30 numa noite de nevoeiro (arq. AML)


Candeeiros de iluminação pública eléctrica com os célebres globos new lux 
em postes metálicos junto ao viaduto da linha de caminho de ferro
 em Entrecampos em 1934 (arq. AML)


Aspecto nocturno com os candeeiros eléctricos de iluminação pública globo "limão"
 na Praça D. Pedro IV no Rossio em finais dos anos 30, foto Horácio Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)


Iluminação pública a gás com o novo sistema de mangas incandescentes num bairro típico de Lisboa
 no início dos anos 40, foto Horácio Novais (arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)


Fotograma com cena da personagem Narciso e o velho candeeiro, imortalizada por Vasco Santana 
no filme Pátio das Cantigas de 1942 (arq. priv.)


Cartaz dos anos 60 alusivo ao fado e a presença 
do típico candeeiro de Lisboa (col. pess.)



Publicidade à nova Fabrica de Gás da Matinha da CRGE de 1945 
(arq. priv.)




Anúncio das lâmpadas e material eléctrico de fabrico nacional Lumiar (arq. pess.)




Os diferentes modelos de candeeiros de iluminação pública dotados de lâmpadas eléctricas de incandescência, implementados no final dos anos 20, começam a surgir nas diversas artérias e praças da cidade durante a década de 30, substituindo em alguns casos as antigas lanternas em ferro fundido dos candeeiros a gás. Desde finais dos anos 30 e início dos anos 40, houve uma preocupação por parte das entidades competentes com a qualidade de luz dos candeeiros de iluminação pública e das fontes de luz da capital, de forma a satisfazer o aumento da intensificação da circulação quer de veículos quer de pões. O aumento da potência eléctrica também permite o uso de fontes de luz mais potentes. As versões de candeeiros de iluminação pública que foram utilizadas na Exposição do Mundo Português em 1940, em postes metálicos de grandes dimensões, dotadas de lanternas reflecto-difusoras, que se mantiveram na Praça do Império, eram inovadores e diferentes do que até então Lisboa tinha visto. Assim surgem modelos em que a luz dos focos luminosos é dirigida através de dispositivos ópticos adequados à difusão da luz por forma  a não ofuscar os condutores de veículos automóveis. Surgem  para isso modelos de lanternas especificas, as reflecto-difuoras e reflecto-reflectoras, consoante o local e a especificidade. Os modelos de candeeiros de iluminação pública passam a dispor de colunas mais altas e de materiais diferentes, como o metal e o betão, mudando consideravelmente o aspecto das zonas urbanas que servem. Ainda assim foi frequente assistir aos blackouts e como tal ver a cidade de Lisboa às escuras em 1943, durante os exercícios de medidas levados a cabo perante as ameaças de ataques aéreos durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns recantos dos bairros mais antigos e populares de Lisboa ainda mantinham a iluminação a gás com o sistema de mangas de incandescência, muitos foram os grandes fotógrafos da época que nos seus registos de arquivo dessa Lisboa antiga e prestes a desaparecer, os guardaram para a posteridade. Nos finais da década de 40 e ao longo das décadas de 50 e 60, entre as famílias lisboetas, sair de casa à noite para "ir ver as montras" como se dizia, era ritual comum. Na época do Natal então, iluminações decorativas com muita cor e movimento, animavam ainda mais as ruas da cidade. Todos estes modelos de candeeiros dotados de globos new-lux, que se tornaram igualmente típicos desde os anos 30, foram largamente utilizados em quase toda a cidade de Lisboa e arredores, iluminando artérias, importantes praças e jardins. Até finais dos anos 40 e no período do pós Segunda Guerra Mundial, a cidade de Lisboa, os seus arredores e até outras cidade do Pais, são dotadas de novos e modernos sistemas de iluminação pública e respectivos postes de suporte dos candeeiros. Surgem igualmente neste período diversos modelos de postes de suporte em especial os de betão com mistura de brita, que passam a dominar muitas das paisagens urbanas. A preocupação esta cada vez mais no aumento da potencia e na qualidade da luz, consoante os locais, ruas, avenidas da cidade de Lisboa, com mais ou menos movimentos, jardins e zonas habitacionais a iluminar.


Candeeiros de iluminação pública com globos new lux na Praça do Brasil, actual Largo do Rato em 1935,
 foto Eduardo Portugal (arq. AML)



Praça D. Pedro IV no Rossio já dotada de candeeiros de iluminação pública com lâmpadas 
de incandescência eléctricas e os denominados globos "limão" 
em meados dos anos 40 (arq. AML)


Novos candeeiros de iluminação pública de Lisboa com globo "limão" no Largo D. João da Câmara 
em meados dos anos 40 (arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública dotado de lâmpada eléctrica com globo denominado "limão" 
na esquina da Rua Garrett e a Rua do Carmo  no Chiado 
em meados dos anos 40 (arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública
 em poste de ferro, dotado de
 lanternas reflecto-difusoras
 em Belém em 1940
(arq. pess.)


Candeeiros em postes metálicos de iluminação pública na Praça do Império durante 
  a Exposição do Mundo Português em 1940, foto Horácio Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)


Iluminação pública com sistema de mangas incandescência a gás na Rua do Alto Longo em 1943,
 foto Eduardo Portugal (arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública em poste de ferro utilizando o sistema de mangas 
de incandescência a gás no Bairro da Bica em meados dos anos 40 (arq. AML)


Iluminação pública com manga de incandescência a gás na Rua do Século 
em meados dos anos 40, foto Horácio Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)


Candeeiro de iluminação pública com mangas de incandescência a gás na Rua Academia das Ciências
 em 1943, foto Eduardo Portugal (arq. AML)


Sistema de candeeiro de iluminação pública eléctrico 
na Rua Jardim do Tabaco em 1944, 
foto Eduardo Portugal (arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública com globo new lux em 1945,
 junto ao Mercado da Praça da Figueira, 
foto Eduardo Portugal (arq. AML)


Iluminação pública e natalícia da Rua Augusta em 1947, foto Estúdio Mário Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)



Candeeiros de iluminação pública com globos new-lux no jardim do Estoril  em finais dos anos 40, 
foto Mário Novais (arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)



Largo e estação do Cais do Sodré com um novo sistema de iluminação pública 
em finais dos anos 40, foto Amadeu Ferrari (arq. AML)


Poste de betão para candeeiro de
 iluminação pública dotado de
 lanternas reflecto-reflectoras 
numa avenida de grande
 movimento em 1947 
(arq. pess.)


Poste de ferro para candeeiro de
 iluminação pública dotado de
 lanterna reflecto-reflectora
 numa rua de Lisboa 
em 1949 (arq. pess.)



Nas principais artérias da Baixa lisboeta e Chiado no início da década de 1950, são adoptados dois tipos de modelos de candeeiros de iluminação pública em forma de lanternas suspensas por um braço, muito decorativo em ferro forjado, ostentando o símbolo da CML, de características muito clássicas, que até hoje fazem parte dessas artérias. O uso desta técnica do ferro forjado na concepção de candeeiros de iluminação pública, é utilizado em mais modelos de candeeiros de parede e poste na cidade de Lisboa. De notar que estes modelos de candeeiros são colocados numa posição mais elevada, relativamente aos anteriores, de forma a aumentar o poder de iluminação e devido à potência das então modernas lâmpadas utilizadas, as lâmpadas de vapor de mercúrio. Desde finais da década de 40 e início da década de 50, surge a utilização das lâmpadas de vapor de mercúrio na iluminação pública da cidade de Lisboa e arredores, em substituição das antigas lâmpadas de incandescência. A lâmpada de vapor de mercúrio, possui gotas de mercúrio no seu interior. No entanto, quando está em funcionamento, este componente é vaporizado a altas pressões. Como o processo de accionamento desta lâmpada ocorre de forma lenta, devido ao aquecimento gradual do meio interno para a vaporização do mercúrio, a sua luminosidade aumenta graduadamente e apenas estabiliza após algum tempo. Este tipo de lâmpada tinha a vantagem de aquecer menos e assim, dissipar menos energia em forma de calor para o ambiente. Convém mencionar ainda que este dispositivo emite uma luz de aparência branca-azulada. No inicio das década de 1950, um novo estilo arrojado e único de candeeiros de iluminação pública em poste metálico dotado de lâmpadas de vapor de mercúrio, surge no mobiliário urbano nas avenidas laterais da zona ajardinada central do Parque Eduardo VII, segundo o  projecto do arquitecto Francisco Caetano Keil Coelho do Amaral (1910 - 1975). Apesar destas inovações técnicas que foram surgindo, a iluminação a gás perdurou nas ruas de Lisboa até 1965, ano em que foram substituídas as últimas luzes a gás pela electricidade no Bairro Alto, Bairro de Santa Catarina e na zona do Campo de Santana. Aos poucos as tradicionais lanternas em ferro fundido do tempo da iluminação a gás de Lisboa são convertidas para sistema eléctrico por algumas oficinas que recebem essa empreitada como a Francisco Máximo de Almeida em Pedrouços, entre outras. Devido às mudanças das fontes de iluminação passam algumas das famosas e típicas lanternas dos candeeiros de iluminação pública a ser dotadas de vidros foscos para melhor difusão da luz, outras no entanto mantêm o seus aspecto típico com vidros translucidos. A cidade de Lisboa e os novos bairros que vão proliferando um pouco por todo o lado, nomeadamente nos seus arredores, começam a apresentar um aspecto moderno muito idêntico ao que se via pelo resto da Europa. Com a evolução dos tempos e das tendências estéticas, muitos destes candeeiros dos anos 30 e 40 do século XX foram desaparecendo do quotidiano da cidade e dos seus arredores, dando lugar a outros modelos, sempre adaptados às situações e locais a iluminar. No sentido de melhorar as condições dos espaços públicos, no caso especifico da cidade de Lisboa, por forma a adaptar às necessidades dos novos tempos, muito foram e continuam sendo os estudos e projectos apresentados pela CML aos longo das décadas. Desses estudos e projectos o mobiliário urbano está incluído, do qual fazem parte os candeeiros de iluminação pública, nesse sentido muitas propostas foram apresentadas, algumas das quais não passaram de projectos por falta de viabilidade, etc. Num desses projectos apresentados, em meados dos anos 60 é adoptada uma nova versão de candeeiros de iluminação pública para as zonas ajardinadas da Avenida da Liberdade, com inspiração clássica e revivalista, fazendo lembrar de certo modo as antigas lanternas dos candeeiros do tempo do Passeio Público no século XIX, em substituição dos anteriores candeeiros de globo tipo "limão" de finais dos anos 20. Estes candeeiros mantiveram-se e passaram a ser um ex-libris até à actualidade desta zona da cidade de Lisboa. Com a inovação tecnológica das fontes de iluminação, surgem no início dos anos 70 as lâmpadas de vapor de sódio na iluminação pública de Lisboa, eram lâmpadas de descarga cuja luminescência era produzida por um vapor de sódio. Exteriormente idênticas, distinguimos entre as lâmpadas de vapor de sódio de baixa pressão, que emitem uma luz de cor amarela, e as lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão, ligeiramente mais alaranjadas. Este tipo de lâmpadas foram  desenvolvidas com o objectivo de superar o rendimento das lâmpadas conhecidas e melhorar a iluminação pública de um modo geral. Aos poucos e até meados dos anos 70, este tipo de iluminação foi sendo implementado em alguns candeeiros de iluminação pública da cidade de Lisboa e seus arredores, dependendo da localização dos pontos de luz. Os dois sistemas de iluminação pública, utilizando lâmpadas de mercúrio e de vapor de sódio, vão manter-se a par por alguns anos, quer na cidade de Lisboa e arredores, quer em praticamente todo o Pais devido à sua eficácia e qualidade de iluminação.



Modelo de candeeiro de iluminação pública eléctrica em forma de lampião clássico 
em ferro forjado na Rua Garrett no Chiado em 1951, 
foto Mário Novais (arq. AML)



Modelos de candeeiros de iluminação pública eléctrica em forma de lampiões 
clássicos em ferro forjado em 1951 (arq. priv.)



Candeeiro de parede em ferro forjado para iluminação pública dotado de lanterna reflecto-difusora
 numa rua de Lisboa em 1953 (arq. pess.)


Lâmpada eléctrica de vapor de mercúrio para iluminação pública 
de meados dos anos 50 (arq. priv.)


Luz de lâmpada eléctrica de vapor de mercúrio (arq. priv.)


Iluminação pública da Praça D. Pedro IV no Rossio com lâmpadas de vapor de mercúrio 
em meados dos anos 50 (arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)



Iluminação pública da Praça D. Pedro IV no Rossio com lâmpadas eléctricas de vapor de mercúrio  
em meados dos anos 50 (arq. pess.)



Candeeiros de iluminação pública new-lux duplos na Praça Duque de Saldanha,
 junto ao Cine-teatro Monumental em 1951, foto Firmino Marques da Costa
(arq. AML)



Candeeiro de iluminação pública dotado de lanterna reflecto-reflectora 
em poste de betão na Rua Cervantes em 1952 (arq. AML)


Modelos dos modernos candeeiros de iluminação pública das alamedas 
do Parque Eduardo VII em 1954 (arq. AML)


Iluminação pública das alamedas do Parque Eduardo VII com os seus candeeiros modernos
em meados dos anos 50, foto Horácio Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)



Iluminação pública à noite na Avenida Almirante Reis em 1955, foto Mário Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)



Postes de ferro para candeeiros de iluminação pública dotados de lanternas reflecto-reflectoras
 na Av. Infante Santo em 1960, foto Amadeu Ferrari (arq. AML)



Iluminação pública da Rua do Carmo no início dos anos 60 (arq. pess.)



Iluminação pública com lâmpadas de vapor de mercúrio na Praça do Comércio 
em meados dos anos 60 em postal ilustrado (arq. pess.)



Beco de Alfama sob a luz de um candeeiro a gás em 1950, 
foto Helena Corrêa de Barros (arq. AML)


Últimos candeeiros de iluminação pública a gás de Lisboa
 na esquina da Rua de Marcos Marreiros em 1960, 
foto Arnaldo Madureira (arq. AML)



Antigo candeeiro de iluminação pública em poste de ferro fundido 
dotado de vidro fosco junto à Sé de Lisboa nos anos 60 (arq. pess.)


Antigo candeeiro de iluminação pública já electrificado
 numa rua de Alfama nos anos 60 em postal ilustrado 
 (col. pess.)


Antigos candeeiros de iluminação pública na noite numa rua de Alfama, 
em finais dos anos 60, foto Artur Pastor (arq. AML)

  
A luz de um candeeiro de iluminação pública antigo em poste de ferro 
no Miradouro do Jardim de São Pedro de Alcântara 
no final dos anos 60 em postal ilustrado (col. pess.)



Candeeiro de iluminação pública em poste metálico com lanterna de ferro forjado na Rua do Alecrim
 junto ao Largo Barão de Quintela em finais dos anos 60, foto Artur Pastor (arq. AML)


Novo estilo de candeeiro de iluminação pública com poste em betão 
em meados dos anos 60 nos Olivais, foto Mário Novais
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)


Candeeiro de iluminação pública com reflector e lâmpada de vapor de mercúrio em poste de cimento 
na Rua Elias Garcia na Amadora em meados dos anos 60 (arq. AML)



Sistema de candeeiro de iluminação pública em poste metálico com reflector e lâmpada de vapor de mercúrio
 numa rua da Venda Nova na Amadora em meados anos 60 (arq. AML)


Candeeiro de iluminação pública em poste de betão com lanternas reflecto-reflectoras 
no Largo frente à estação de Santa Apolónia nos anos 60, foto Mário Novais
 (arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)



Estudo para os novos candeeiros de iluminação pública 
da Praça dos Restauradores em 1958 (arq. AML)


Modelo de candeeiro de iluminação publica em forma
 de lanterna clássica adoptado para as zonas centrais
 da Av. da Liberdade nos anos 60
(foto Paulo Nogueira)


Candeeiros de iluminação pública na Av. da Liberdade junto à entrada da estação do ML da Avenida 
em meados dos anos 60, foto Horácio Novais 
(arq. Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian)



Modelo de candeeiros com globo new lux da iluminação pública adoptados 
para o jardim Delfim Guimarães na Amadora em 1968 (arq. priv.)




Lâmpada eléctrica de vapor de sódio de alta pressão 
para iluminação pública de finais dos anos 60
(arq. priv.)


Luz de lâmpada eléctrica de vapor de sódio de alta pressão
(arq. priv.)


Tradicional candeeiro de iluminação pública com lâmpada eléctrica
 de vapor de sódio numa rua do Bairro Alto no início dos anos 70
(arq. pess.)


Sistema de iluminação pública na Av. dos Estados Unidos da América em 1971,
 foto Artur Pastor (arq. AML)


Tipo de candeeiros de iluminação pública adoptados no Cruzamento da Av. de Roma com a Av. João XXI 
em 1974, foto Artur Pastor (arq. AML)


Iluminação pública com lâmpadas eléctricas de vapor de sódio na Praça Duque de Saldanha 
sentido Av. da República em meados dos anos 70 (arq. pess.)


Candeeiros de iluminação pública de duas gerações na Praça do Comércio
 em meados dos anos 70 (arq. pess.)




Igualmente os sistemas de iluminação também foram sendo substituídos como no passado aconteceu. Em meados dos anos 80, durante década de 1990 e 2000, era normal observar dois tons de luz na iluminação pública da cidade de Lisboa, devido aos dois tipos de lâmpadas utilizados. Segundo estatísticas no final de 1992, existiam na cidade de Lisboa cerca de 49.222 candeeiros de iluminação pública. Destes, 36.600 possuíam lâmpadas de vapor de sódio (que irradiam luz amarela alaranjada), 11.363 utilizavam lâmpadas de vapor de mercúrio (que irradiam luz branca), 883 estavam providos de lâmpadas de tipo luz florescente e 376 continham lâmpadas de sódio baixa pressão, muito intensa. De salientar que estes dois sistemas de fonte de luz na iluminação pública, foram os mais utilizados e que se mantiveram mais anos em uso. Também novos designes de modelos de candeeiros para iluminação pública têm surgido, alguns mais arrojados que outros, uns que se mantiveram outros que foram retirados do serviço, mas sempre adaptados às zonas e  ambientes que vão servir tanto na capital como nos arredores. No entanto verifica-se a existência de uma preocupação em manter os antigos candeeiros que foram sendo preservados e até recriar esses modelos do passado para as zonas históricas da cidade. Aquando da Expo 98 foram desenhados modelos de candeeiros de iluminação pública exclusivos para servir a área daquele evento, modelos esses que ficaram até à criação do actual Parque das Nações, fazendo hoje parte do mobiliário urbano daquela espaço de lazer e residencial. No ano de 2012 um grupo de defesa do património que tem como objectivo impedir o abate de seis candeeiros históricos no Terreiro do Paço, em carta enviada ao então presidente da CML, António Costa, nessa petição é também pedida a reposição de candeeiros de finais do século XIX e do século XX, retirados daquele espaço e de outros pontos da cidade de Lisboa. Petição esta que parece ter surtido efeito, pois passou a haver algum cuidado em manter alguns exemplares, dos mais diversos tipos em zonas históricas da cidade. Certos locais e monumentos históricos mantiveram os seus exemplares de iluminação pública, sempre adaptados às novas tecnologias de iluminação, porque estes fazem parte do conjunto arquitectónico dos edifícios, como exemplo, os belos candeeiros em ferro fundido dotados de lampiões do Teatro Nacional D. Maria II no Rossio. Toda a iluminação pública da cidade de Lisboa é da responsabilidade camarária e está dividida em oito zonas, algumas das quais não faziam ainda parte da cidade de Lisboa oitocentista. 



Modelo de candeeiro de iluminação pública na Av. da Liberdade em meados dos anos 80 (arq. AML)



Modelo de candeeiro de iluminação pública na Praça Afonso de Albuquerque em Belém 
nos finais dos anos 80 (arq. pess.)


As diferentes tonalidades da iluminação pública de Lisboa nos anos 90, foto Artur Pastor (arq. AML)


Antigo candeeiro de iluminação pública de ferro em poste 
com sistema de lâmpada de vapor de sódio
 no Miradouro de São Pedro de Alcântara
(arq. priv.)


Tipo de candeeiro de iluminação pública utilizado na Av. Santo Condestável nos anos 90 (arq. priv.)


Aspecto da iluminação pública à noite na Rua do Ouro (arq. priv.)


Três gerações de modelos de candeeiros de iluminação pública na Av. da Liberdade em 2016 (arq. priv.)


Candeeiros de iluminação pública frente à estação de Santa Apolónia em 2018 (foto Paulo Nogueira)



Candeeiros de iluminação pública num espaço verde em 2018, nos arredores de Lisboa em Oeiras
(foto Paulo Nogueira)



Antigos candeeiros de iluminação pública em poste de ferro
 com lâmpada de vapor de sódio no Castelo de São Jorge 
em 2018  (foto Paulo Nogueira)


Iluminação pública na Praça D. Pedro IV no Rossio em 2018 (foto Paulo Nogueira)



Candeeiro de iluminação pública adoptado para o Parque das Nações,
 em 2019 (foto Paulo Nogueira)


Iluminação pública na Rua da Prata ao amanhecer em 2019 
(foto Paulo Nogueira.)



Novos candeeiros de iluminação pública na Praça D. Pedro IV no Rossio em 2020 (foto Paulo Nogueira)


Um exemplar de candeeiro de iluminação pública denominado
new lux ou "cabeça de nabo" que ainda se mantêm 
na cidade de Lisboa na actualidade (arq. priv.)


Candeeiros de iluminação pública em postes de ferro fundido
 primitivos com globos new lux dos anos 20 preservados
 na Rua José Acúrcio das Neves em Lisboa 
na actualidade (foto Paulo Nogueira)


Candeeiro de iluminação pública em poste metálico
 com globo new lux dos anos 20 preservado 
na Rua Cap. Henrique Galvão em Lisboa 
na actualidade (foto Paulo Nogueira)


Duas gerações de modelos de candeeiros da iluminação pública 
em poste metálico com adaptação de globo new lux
 na Av. Frei Miguel Contreiras na actualidade
(foto Paulo Nogueira)


Antigo candeeiro de iluminação pública preservado de duplo braço 
com globos new lux na Rua da Palma na actualidade
(foto Paulo Nogueira)


Candeeiro de iluminação pública na Praça do Município frente ao edifício da CML (arq. priv.)



Antigos candeeiros de iluminação pública preservados 
nas arcadas dos ministérios da Praça do Comércio
(foto Paulo Nogueira)



Antigos candeeiros de iluminação pública em ferro fundido 
dotados de lampiões do Teatro Nacional D. Maria II 
que subsistem na actualidade
(foto Paulo Nogueira)

 

Nos últimos tempos temos assistido a mais uma inovação tecnológica nos sistemas de iluminação, e uma vez mais a iluminação pública das grandes urbes e seus arredores, em especial a cidade de Lisboa, tem projectos de adopção desses novos sistemas. Assim, actualmente com os novos sistemas de tecnologia luz LED (sigla do inglês Ligth Emitting Diode), já tão vulgarizados, procura-se adaptar a iluminação dos espaços da cidade com um tipo de luz adequado, de tonalidade mais quente ou fria, isto dependendo se é uma zona histórica, zona verde, pedonal ou de maior trânsito rodoviário. A Câmara Municipal de Lisboa optou por LEDs branco quente 27000K, que contribuem para um ambiente extremamente confortável. A iluminação pública com a tecnologia LED permite a redução directa em cerca de 50% do consumo de energia e baixar drasticamente os custos com as avarias, devido à sua elevada fiabilidade e durabilidade. A superior qualidade da iluminação com  com tecnologia LED permite reduzir o ruído luminoso nas cidades e melhorar o nível de iluminação nocturna, permitindo a captação de imagens nítidas e oferecendo um aumento de segurança. Os candeeiros de iluminação pública são um dos elementos mais significativos na paisagem urbana, uma paisagem que funciona 24 horas e que requer iluminação. Nos serviços de gestão da iluminação pública da CML, já existe um plano de inventariação de todo o material existente, que revelou a multiplicidade e variações dos elementos de iluminação pública em Lisboa. A implementação de um tipo de iluminação “normalizada” na cidade, pela CML, para as várias tipologias de espaço público e estrutura verde, facilitará a gestão e planeamento pelos serviços municipais. Apesar de nas zonas mais recentes se instalarem modelos de candeeiros de design moderno, já com a tecnologia LED, tem-se adaptado este novo sistema, como se fez no passado, aos diversos modelos antigos já existentes. Desta forma nas zonas mais antigas da cidade tenta-se manter os tradicionais e icónicos candeeiros com lanternas em ferro fundido, quer de braço quer de poste, outrora funcionando a gás, mas agora funcionado com tecnologia LED, voltando estes a possuir vidros translucidos como inicialmente. Igualmente o mesmo acontecendo com os típicos candeeiros com globos new-lux ou "cabeça de nabo" dos anos 20 e 30 do século XX, que se mantêm. Desde outubro de 2009, a CML deu inicio à substituição da iluminação convencional na Alameda Edgar Cardoso no Parque Eduardo VII e no Jardim Amália Rodrigues por iluminação tecnologia LEDEm 2017 calculou-se que havia 3 milhões de luminárias em Portugal, das quais 5% utilizavam a tecnologia LED. A EDP Distribuição estimava, em julho de 2019, ter mais de 600000 luminárias LED no continente português até ao final do ano, perfazendo cerca de 20% do número de focos de iluminação pública. A autarquia de Lisboa tem, aliás, levado a cabo um longo processo de substituição de sistemática das tradicionais lâmpadas pelas de tecnologia LED, de maior eficácia na iluminação e no consumo. Prevê-se que, até 2021, metade dos candeeiros de iluminação pública da cidade de Lisboa e arredores, assim como por todo o Pais, tenham sistema de iluminação  tecnologia LED. Também já é recorrente nas novas instalações de iluminação em Lisboa, os responsáveis optarem por sistemas de controlo inteligentes que lhes permitam o controlo e gestão remota das luminárias que vão sendo instaladas. Hoje não conseguimos imaginar Lisboa sem iluminação pública nocturna e ao longo dos tempos muitos modelos de candeeiros, que fazem parte do mobiliário urbano, têm sido aplicados nas diversas avenidas, ruas, praças, edifícios e monumentos consoante as estéticas, necessidades e localização. Recentemente houve a preocupação e o cuidado por parte da autarquia de Lisboa, em colaboração com empresas privadas, de voltar a instalar candeeiros de iluminação pública clássicos na Praça do Comércio. A iluminação tradicional naquele que é o local da cidade de Lisboa mais recheado de factos históricos considerado a "sala das visitas" da cidade. Estes candeeiros em postes metálicos dotados de lanternas clássicas com tecnologia LED, rodeiam a Estátua Equestre de D. José I, e foram colocados seguindo a filosofia da CML de manutenção e recuperação deste importante legado histórico e cultural. Sair para a escuridão da noite deixou de ser um problema porque essa escuridão, simplesmente, já não existe. As mudanças na história da iluminação são imprescindíveis para a compreensão do quotidiano das populações. Sempre que todas as noites se acende a iluminação pública da cidade de Lisboa e arredores, uma longa história está por de trás desse simples acto.


Modulo óptico tecnologia LED de 50w, alta luminosidade 
para utilização em iluminação pública
(arq. do fornecedor)


Luminária de iluminação pública com módulo óptico tecnologia LED (arq. do fornecedor)



Globo para iluminação pública com modulo óptico tecnologia LED (arq. do fornecedor)


Luz de um candeeiro de iluminação pública tecnologia LED com tonalidade mais fria (arq. priv.)


Luz de um candeeiro de iluminação pública tecnologia LED com tonalidade mais quente (arq. priv.)


Candeeiro em poste metálico e braço duplo de iluminação pública com globos e tecnologia LED 
para zonas verdes (arq. priv.)


Moderno design de candeeiro de iluminação pública tecnologia LED
 na Av. da República em Entrecampos na actualidade 
(foto Paulo Nogueira)


Manutenção dos sistemas de iluminação pública com tecnologia LED na actualidade (arq. priv.)


Iluminação pública tecnologia LED para via rápida e pedonal na Av. dos Combatentes 
em Lisboa na actualidade (arq. priv.)


Antiga e tradicional lanterna em ferro para candeeiro de iluminação pública
 a gás em Lisboa adaptada a tecnologia iluminante LED (arq. priv.)




Antigo candeeiro de iluminação pública em Alfama 
com lanterna de vidros translucidos, dotado 
com tecnologia LED na actualidade
 (foto Paulo Nogueira)


Antigo candeeiro de iluminação pública na Rua dos Remédios em Alfama 
de vidros translucidos, dotado com tecnologia LED
na actualidade (foto Paulo Nogueira)


Antigos candeeiros de iluminação pública dotados de tecnologia LED no Miradouro de Santa Luzia 
na actualidade (foto Paulo Nogueira)



Iluminação pública tecnologia LED em uso nos antigos e tradicionais candeeiros
 a gás nas Escadinhas da Saúde na Mouraria na actualidade
(foto Ana Luísa Alvim)


Lâmpadas tecnologia LED em candeeiro de iluminação pública de Lisboa de duplo braço 
em poste com globos tipo new lux dos anos 20/30  na actualidade (arq. priv.)


Candeeiros de iluminação pública de duplo braço modelo de globo new lux 
com adaptação de tecnologia LED na Praça do Município em Lisboa 
na actualidade (arq. priv.)


Iluminação pública com tecnologia LED na Rua do Arsenal na actualidade (arq. priv.)



Modelos de candeeiros de iluminação pública, clássico e moderno
 com tecnologia LED na Rua dos Arameiros em Lisboa
 na actualidade (foto Paulo Nogueira)



Candeeiro de iluminação pública em poste metálico com adaptação de tecnologia LED 
numa rua de Lisboa na actualidade (arq. priv.)


Iluminação pública com tecnologia LED adaptada a modelo de candeeiros antigos em poste metálico 
no Largo Vitorino Damásio em Santos na actualidade (arq. priv.)



Candeeiros de iluminação pública com design moderno e tecnologia LED em postes metálicos
 na Rua Elias Garcia na Amadora na actualidade (arq. priv.) v



Candeeiros de iluminação pública tecnologia LED em poste metálico 
na Amadora na actualidade (foto Paulo Nogueira.)



Ambiente nocturno com candeeiros de iluminação pública de tecnologia LED
junto à Baía de Cascais na actualidade (arq. priv.)


Iluminação pública com tecnologia LED num jardim da Parede, 
no concelho de Cascais na actualidade (arq. priv.)


Modelo moderno de candeeiro de iluminação pública 
de dupla luminária com tecnologia LED
 na Rua dos Arameiros em Lisboa 
na actualidade
(foto Paulo Nogueira)


Candeeiros de iluminação pública tecnologia LED na Praça Marquês de Pombal em Lisboa 
na actualidade (foto Paulo Nogueira)


Antigo modelo de candeeiro de iluminação pública utilizado 
no Parque Eduardo VII na actualidade 
adaptado às novas tecnologias 
(foto Paulo Nogueira)


Aspecto diurno do Parque Eduardo VII com os seus típicos candeeiros de iluminação pública 
dotados de tecnologia LED das suas alamedas na actualidade (foto Paulo Nogueira)


Iluminação pública tecnologia LED na Alameda Edgar Cardoso no Parque Eduardo VII 
na actualidade (arq. pess.)


Iluminação pública tecnologia LED na Praça Marquês de Pombal e Parque Eduardo VII
 na actualidade (arq. priv.)


Um dos candeeiros clássicos de iluminação pública na Praça do Comércio 
recuperados na actualidade (arq. priv.)


Aspecto nocturno da iluminação pública tecnologia LED da Praça do Comércio 
com a recuperação de candeeiros tradicionais na actualidade (arq. priv.)


A iluminação pública na noite de Lisboa nas suas tonalidades na actualidade (arq. priv.)


Aspecto da iluminação publica de Lisboa e parte dos seus arredores na actualidade 
em vista aérea nocturna (arq. priv.)




Neste artigo, tal como nos demais deste blog, agradecem-se e serão sempre de louvar todas as correcções que possam existir, desde que sejam feitas de forma educada e construtiva.
Obrigado e boas leituras.




Texto: 

Paulo Nogueira


Fontes e bibliografia: 

MOREIRA, Augusto Xavier, Photografo, ALBUM PHOTOGRAPHICO DE LISBOA E ARRABALDES 1867

BENEVIDES, Francisco da Fonseca, Memória sobre o poder iluminante de algumas substâncias, Imp. Nacional, Lisboa, 1874

DUARTE, António Soares, Indústrias de iluminação, Biblioteca de Instrução Profissional, Lisboa, 1900

CÂNICO, Francisco, Aspectos de Lisboa do Sec. XIX, Instituto de Coimbra, e do Instituto Português de Arqueologia, 1939

FERNANDES, Abílio, A Iluminação Pública in Mariano e Simões, Lisboa e a electricidade, EDP, Lisboa, 1992 

DIAS, Marina Tavares, Lisboa Desaparecida, vol. 4, Quimera Editores, Coimbra, 1994

NOGUEIRA, Carlos, LACERDA Manuel, Lisboa em movimento: 1850 - 1920, Um projecto do Departamento de Intervenção Urbana da Sociedade Lisboa 94, Livros Horizonte, Lisboa, 1994

NORTON, José, O Milionário de Lisboa, 2ª edição, Livros d'Hoje, Publicações Dom Quixote, Alfragide, 2009

RNAE, Associação das Agências de Energia e Ambiente - Eficiência Energética na Iluminação Pública, 2011