3 de agosto de 1492, a primeira viagem de Cristóvão Colombo
Foi na noite de 3 de agosto de 1492, que Cristóvão Colombo (1451–1506), içou velas a partir da cidade portuária de Palos de la Frontera em Espanha, para iniciar a sua primeira viagem em busca do caminho marítimo para as Índias, a terra do ouro e das especiarias. Dois meses depois, chegará ao Novo Mundo. Essa viagem foi iniciada com três navios, uma nau maior, designada de Santa Maria, apelidada de Gallega, com cerca de 25 metros de comprimento por oito de largura, 102 toneladas e um mastro principal com 23 metros, era a maior embarcação da frota. A bordo deveriam seguir cerca de 40 marinheiros. Juntamente duas caravelas mais pequenas, designadas de Pinta e Santa Clara, esta última apelidada de Niña em homenagem a seu proprietário Juan Niño de Moguer. Mas foi em Portugal que Cristóvão Colombo começou a conceber o seu projecto de viagem para o Ocidente, inspirado pelo ambiente febril de navegações, descobrimentos, comércio e desenvolvimento científico, que converteram a cidade de Lisboa da segunda metade do século XV, num rico e activíssimo porto marítimo e mercantil de dimensão internacional, e por sua vez Portugal no País dos mais audazes, melhores e experientes marinheiros, com os maiores conhecimentos náuticos da época. Sobre Cristóvão Colombo, não existiu qualquer controvérsia sobre a origem italiana do navegador até ao final do século XIX, quando surgiram as hipóteses mais díspares. Entre outras teorias ainda mais absurdas, tentou-se fazê-lo natural da Córsega. No final desse século, Garcia de la Riegla, de Pontevedra, na Galiza, publicou uma série de documentos que apresentavam nomes de pessoas da região e de raça judia da primeira metade do século XV com os mesmos nomes da família de Colombo - a despeito destes apenas serem conhecidos através da documentação genovesa - que supostamente teriam imigrado para Génova após o nascimento de Colombo. Surgiu ainda a tese de que Cristóvão Colombo teria origens portuguesas e nascido em Cuba no Alentejo. Apesar de tudo, Cristóvão Colombo, filho de um tecelão genovês, tornou-se navegador por necessidade, com a falência da empresa do pai, descobriu no comércio marítimo um novo meio de vida. Não se conhece no entanto qualquer documento dos arquivos portugueses que mencione o navegador. O único documento em português que o refere é um suposto salvo-conduto do rei D. João II datado de 1488 e guardado no Arquivo Geral das Índias, cuja autenticidade é, no entanto, duvidosa. O registo da presença de Colombo em Portugal é estabelecido a partir das biografias escritas pelo seu filho Fernando e pelo cronista e teólogo Bartolomeu de las Casas, assim como do Documento Assereto, que assinala a sua presença em Lisboa e na Madeira no Verão de 1478, indicando a sua intenção de se deslocar para Lisboa em agosto de 1479. Em todo o caso, supõe-se que Colombo tenha vivido cerca de nove anos em terras de Portugal, entre 1476 e 1485, para onde terá vindo aos vinte e cinco anos, ao atingir a maioridade. Este período da sua vida resume-se às suas viagens, ao casamento, e ao grande projecto que começou a acalentar. Em 1477, estabeleceu-se em Lisboa, junto com o seu irmão Bartolomeu, que era cartógrafo. O grandioso projecto de Colombo, terá surgido não de forma repentina, mas gradual, provavelmente em colaboração com o seu irmão Bartolomeu. Após o processo de formação e maturação, este projecto tinha por objectivo atravessar o Oceano Atlântico, único conhecido à época, em direcção à Ásia.
Um dos retratos de Cristóvão Colombo 1451–1506
(col. Metropolitan Museum New York)
Lanterna esférica de sinalização marítima idêntica às da época
de Cristóvão Colombo (col. pess.)
Embarcações portuguesas da época dos descobrimentos que Cristóvão Colombo conheceu,
extracto de ilustração das Tábuas dos Roteiros da Índia de D. João de Castro (col. priv.)
Casa museu onde terá vivido Cristóvão Colombo na Ilha do Porto Santo, Madeira (arq. pess.)
O historiador norte-americano Vignaud tentou demonstrar que Colombo apenas procurava alcançar umas distantes ilhas do Atlântico, mas não chegar às Índias, tendo alterado por isso o projecto, após as descobertas que fez. Esta tese é normalmente descartada pelos historiadores colombinos de maior competência, já que para descobrir umas simples ilhas não era necessário negociar de forma tenaz com monarcas, promover opiniões de sábios e técnicos, exigindo honras e compensações tão exorbitantes. Tratava-se pois, de uma empresa nova, arriscada e de importância bem maior que uma comum expedição. Segundo conta o seu filho Fernando, o pai Cristóvão Colombo, começou por pensar que se os portugueses navegavam já tão grandes distâncias para o sul, poderia fazer o mesmo para o oeste, enumerando os factores que o fizeram pensar na existência de terras a ocidente como a esfericidade da Terra e as leituras de autores clássicos, como Aristóteles, Estrabão e Plínio que afirmavam a curta distância entre a Espanha e África, e a Índia. O mais provável, no entanto, é que não se tenha inspirado nesses autores, mas sim que os tenha lido depois, por forma a fundamentar o seu projecto. Os supostos papéis do sogro que a sogra Isabel Moniz, lhe terá entregue, teriam juntado indícios materiais, como troncos de árvores e cadáveres de espécies desconhecidas arrastados pelo mar. Assim como as notícias que obteve de marinheiros que afirmavam ter encontrado terras a oeste e as várias tentativas para descobrir supostas ilhas do Atlântico, comuns por aqueles anos. Colombo observou nas suas viagens e permanências nas ilhas atlânticas estes indícios, assim como as condições dos ventos e correntes marítimas, adquiriu as noções para reconhecer a proximidade de terra firme e as rotas mais favoráveis, tudo o que terá aprendido com a experiência portuguesa.
Mapa de Colombo, oficina de Bartolomeu e Cristóvão Colombo, Lisboa, de 1490
(col. Bibliothèque Nationale de France, Paris)
(col. Bibliothèque Nationale de France, Paris)
Cristóvão Colombo propôs a D. João II rei de Portugal essa empresa, o projecto de alcançar as Índias pelo Atlântico em 1484, mas o soberano português rejeitou a proposta, Colombo apresentou o mesmo projecto à coroa de Espanha, em 1485, que apesar de alguns entraves é aceite. Economicamente debilitada pela expulsão dos mouros e dos judeus, a Espanha precisava urgentemente de novas fontes de riqueza. Até mesmo a vaga perspectiva de encontrar ouro no novo caminho marítimo era bem-vinda, dai ter sido aceite e financiado este projecto da sua viagem junto dos Reis Católicos, após a conquista de Granada, com a ajuda do confessor da rainha Isabel de Castela. Os termos da sua contratação tornavam-no almirante dos mares da Índia a descobrir e governador e vice-rei das terras do Oriente a que se propunha chegar, em competição com os portugueses que exploravam a Rota do Cabo. Alguns historiadores têm procurado demonstrar que o navegador mentia propositadamente a Castela para ajudar Portugal e que tinha a igualmente ajuda do mercador, navegador, geógrafo e cosmógrafo italiano Américo Vespúcio (1454 -1512), ao serviço do Reino de Portugal e de Espanha, nessa missão.
As embarcações utilizadas por Cristóvão Colombo, eram propriedade de Juan de la Cosa e dos irmãos Pinzón (Martín Alonso e Vicente Yáñez), mas os monarcas espanhóis forçaram os habitantes de Palos, que caíra em desgraça junto à coroa por pagamento irregular de impostos, a contribuir com as três embarcações para a expedição. Cristóvão Colombo navegou inicialmente nessa noite de 3 de agosto de 1492, para as ilhas Canárias, que eram propriedade espanhola, onde reabasteceu as provisões e fez reparos.
As embarcações utilizadas por Cristóvão Colombo, eram propriedade de Juan de la Cosa e dos irmãos Pinzón (Martín Alonso e Vicente Yáñez), mas os monarcas espanhóis forçaram os habitantes de Palos, que caíra em desgraça junto à coroa por pagamento irregular de impostos, a contribuir com as três embarcações para a expedição. Cristóvão Colombo navegou inicialmente nessa noite de 3 de agosto de 1492, para as ilhas Canárias, que eram propriedade espanhola, onde reabasteceu as provisões e fez reparos.
D. João II rei de Portugal 1455-1495 (col. priv.)
Apresentação de Cristóvão Colombo aos réis católicos Fernando II de Aragão e à rainha Isabel I de Castela,
por Emanuel Gottlieb Leutze (col. priv.)
Cristóvão Colombo no conselho de Salamanca em 1487 expondo os seus planos do projecto (col. pess.)
Américo Vespúcio 1454 -1512 (col. pess.)
Aspecto do porto de Palos em meados do séc. XV (col. priv.)
As três embarcações de Cristóvão Colombo, Santa Maria, Pinta e Niña (col. priv.)
A 6 de setembro, partiu de San Sebastián de la Gomera, para o que acabou por ser uma viagem de cinco semanas através do oceano. A terra foi avistada às duas horas da manhã de 12 de outubro de 1492, por um marinheiro chamado Rodrigo de Triana (também conhecido como Juan Rodríguez Bermejo) a bordo da Pinta. Cristóvão Colombo chamou a ilha descoberta San Salvador, (actual Bahamas), enquanto os nativos a chamavam Guanahani. Exactamente qual era a ilha nas Bahamas, é um assunto não resolvido nem esclarecido. As candidatas principais são Samana Cay, Plana Cays e San Salvador (assim chamada em 1925, na convicção de que era a San Salvador de Colombo). Os indígenas que ai encontrou, os lucaians, taínos ou aruaques, eram pacíficos e amigáveis. Em 11-12 de outubro de 1492, Cristóvão Colombo escreveu no seu diário de bordo: "Pode ser que esta seja a minha última anotação; que eles lancem à água o diário de bordo. Talvez eles o esqueçam e, um dia, a rainha saberá que eu não era um fantasista, um sonhador fora da realidade. Eu vi uma luz. Como se alguém movimentasse uma tocha".
Convencido de que havia chegado ao planeado destino, baptizou a nova terra de Índias Ocidentais e com a permissão da coroa espanhola tomou posse de tudo como "vice-rei". No livro Os Nascimentos, de 2010, o escritor uruguaio Eduardo Galeano descreveu assim a chegada de Colombo ao então designado Novo Mundo: "Cai de joelhos, chora, beija o solo. Avança tremendo, pois há mais de um mês dorme pouco ou nada, e a golpes de espada derruba uns arbustos. Depois, ergue o estandarte. De joelhos, os olhos no chão, pronuncia três vezes os nomes de Isabel e Fernando. Ao seu lado, o escrivão Rodrigo de Escobedo, homem de letra lenta, levanta a ata. Tudo pertence, desde hoje, a esses reis distantes: o mar de corais, as areias, os rochedos verdíssimos de musgo, os bosques, os papagaios e esses homens de barro que ainda não conhecem a roupa, a culpa, nem o dinheiro, e que contemplam, atordoados, a cena. (...) Em seguida, correrá a voz pelas ilhas: 'Venham ver os homens que chegaram do céu!'".
Convencido de que havia chegado ao planeado destino, baptizou a nova terra de Índias Ocidentais e com a permissão da coroa espanhola tomou posse de tudo como "vice-rei". No livro Os Nascimentos, de 2010, o escritor uruguaio Eduardo Galeano descreveu assim a chegada de Colombo ao então designado Novo Mundo: "Cai de joelhos, chora, beija o solo. Avança tremendo, pois há mais de um mês dorme pouco ou nada, e a golpes de espada derruba uns arbustos. Depois, ergue o estandarte. De joelhos, os olhos no chão, pronuncia três vezes os nomes de Isabel e Fernando. Ao seu lado, o escrivão Rodrigo de Escobedo, homem de letra lenta, levanta a ata. Tudo pertence, desde hoje, a esses reis distantes: o mar de corais, as areias, os rochedos verdíssimos de musgo, os bosques, os papagaios e esses homens de barro que ainda não conhecem a roupa, a culpa, nem o dinheiro, e que contemplam, atordoados, a cena. (...) Em seguida, correrá a voz pelas ilhas: 'Venham ver os homens que chegaram do céu!'".
Desembarque de Cristóvão Colombo em São Salvador (col. priv.)
Representação do primeiro desembarque em terra de Cristóvão Colombo na América
por Dióscoro Teófilo Puebla Tolín, 1862 (col. Museo del Prado Madrid Espanha)
Primeiros contactos de Cristóvão Colombo com os indígenas (col. priv.)
Cristóvão Colombo escreveu no seu diário, do dia 12 de outubro de 1492: "Acredito que os nativos me consideram um deus, e os navios são para eles monstros que emergiram do fundo do mar durante a noite. A aparência deles igualmente surpreende-nos, porque são diferentes de todas as raças humanas que vimos até agora. Sem dúvida, são bondosos e pacíficos. Acredito que não conhecem o ferro. Eles tampouco sabiam o que fazer com as nossas espadas".
A falta de defesa provou-se fatal para os nativos. Cristóvão Colombo não encontrou nem ouro, nem outras mercadorias. Para poder apresentar um êxito à coroa espanhola, decidiu escravizar a população da ilha. No mesmo diário de 12 de outubro de 1492, anotou: "Levarei seis desses homens na viagem de volta, para apresentá-los ao rei e à rainha. Eles devem aprender a nossa língua"
Colombo também explorou a costa nordeste de Cuba, onde viriam a desembarcar em 28 de outubro (segundo os próprios cubanos o nome é derivado da palavra Taíno, "cubanacán", significando "um lugar central"), e o litoral norte de Hispaniola, em 5 de dezembro. Foi aqui, que a nau Santa Maria terá encalhado na manhã do Natal de 1492 e teve de ser abandonada. Colombo foi recebido pelos nativos e o cacique nativo Guacanagari, que lhe deu permissão para deixar alguns de seus homens para trás; deixou 39 homens e fundou a povoação de La Navidad, no local da actual Môle Saint-Nicolas, Haiti. Antes de regressar a Espanha, Colombo também sequestrou entre 10 a 25 nativos levando-os com ele, destes apenas sete ou oito dos índios nativos chegaram a Espanha vivos, vindo a causar forte impressão em Sevilha. No entanto esses seis indígenas iniciais, transformaram-se em centenas de milhares. No final da conquista espanhola, a população das Índias Ocidentais estava dizimada. Entretanto, a posição de Cristóvão Colombo foi fortemente contestada na corte, não sendo vista com bons olhos a excessiva autonomia da sua acção nas terras do designado Novo Mundo. De facto, a administração de Colombo falhara rotundamente, pois nunca conseguira impor uma ordem estável nas possessões do Novo Mundo, em que os tumultos violentos se sucediam; além disso, ele usava com frequência de uma incompreensível severidade para com os colonos. Deste modo, foi afastado por um enviado dos monarcas, preso e embarcado para Espanha em 1500. Colombo realizaria mais três viagens ao Novo Mundo, sem saber que não se tratava da Índia, mas sim, do continente que um cartógrafo alemão, Martin Waldseemüler (1475-1522), viria a baptizar a partir de 1507, com o nome do navegador italiano Américo Vespúcio: América.
Cristóvão Colombo faria uma quarta viagem a além-Atlântico dois anos depois, mas, desprovido de títulos e de honras, morreria em Valladolid em 1506. Até ao fim dos seus dias, Colombo permaneceu convicto de que atingira a Ásia, pensando que Cuba, o território mais extenso que descobrira, era o continente. O seu lugar na História, porém, é ainda maior do que esse, pois associa-se à descoberta da América pela Europa moderna com o início da primeira viagem há precisamente 523 anos.
Cristóvão Colombo e seus homens são recebidos pelos habitantes da Ilha de Hispaniola (col. priv.)
Carta náutica da ilha de Hispaniola e Porto Rico (col. priv.)
Construção do forte e torre no povoamento de La Navidad por Cristóvão Colombo (col. pess.)
Ataque à torre de La Navidad por indígenas (col. priv.)
Recepção feita pelos réis católicos a Cristóvão Colombo em Barcelona após a descoberta da América (col. pess.)
Cristóvão Colombo, gravura de Johann Theodor DeBry,
século XVI (col. priv.)
Martin Waldseemüller 1475-1522 (col. priv.)
Mapa Universalis Cosmographia, de Waldseemüller's, 1507 (col. priv.)
Mapa da América por Joducus Hondius de 1606 (col. pess.)
Globo terrestre com a América do norte, central e do sul (arq. priv.)
Texto:
Paulo Nogueira
Fontes e bibliografia:
MONTEIRO, Jacinto. "Passagem de Colombo por Santa Maria". in revista Ocidente, vol. LVIII, Lisboa, 1960.
MONTEIRO, Jacinto. "O Episódio Colombino da Ilha de Santa Maria, nas suas Implicações com o Descobrimento da América". in revista Insulana, vol. XXII, 1º e 2º semestres, 1966, p.37-126.
GALEANO, Eduardo, Os Nascimentos, 2010
MONTEIRO, Jacinto. "Passagem de Colombo por Santa Maria". in revista Ocidente, vol. LVIII, Lisboa, 1960.
MONTEIRO, Jacinto. "O Episódio Colombino da Ilha de Santa Maria, nas suas Implicações com o Descobrimento da América". in revista Insulana, vol. XXII, 1º e 2º semestres, 1966, p.37-126.
GALEANO, Eduardo, Os Nascimentos, 2010
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