quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

OS AÇORES NA HISTÓRIA DA AVIAÇÃO


                            A importância do porto da Horta na história da aviação  
 


                                                                                                                                                                        
 

Pela sua situação geográfica, em pleno Oceano Atlântico, à mesma latitude dos continentes europeu e americano, o arquipélago dos Açores desempenhou um papel importante na história das comunicações aéreas entre o velho e o novo continente. Em especial o porto da cidade da Horta na ilha do Faial, porto este que conheceu um período de prosperidade entre 1804 e 1896, nomeadamente com a exportação de laranjas e vinho verdelho produzido na ilha do Pico, assim como porto de reabastecimento de mantimentos dos barcos baleeiros norte americanos e reabastecimento de carvão aos navios a vapor. No final desse período com a construção do porto comercial em 1876, e a instalação mais tarde das companhias dos cabos telegráficos submarinos em 1893.


                                                     Baleeiros norte americanos no porto da horta, meados de 1900 (arq. pess.)                                  

                                                     

                                             Porto da Horta na ilha do Faial nos inícios dos ano 40 (arq. pess.)



                                                                                                                                                                               
Como marcos importantes das travessias transoceânicas por este porto passadas, destacam-se quatro acontecimentos que foram também os mais representativos, do ponto de vista aeronáutico, para a história do arquipélago.
Assim, em 17 de maio de 1919, completando a primeira etapa do primeiro voo transoceânico entre a América e a Europa, chegou ao porto da cidade da Horta o hidroavião NC 4 Curtiss Flyer, designado de "Liberty", hidroavião este da marinha americana pilotado pelo comandante Albert Cushing Read (1887 - 1967). Este voo histórico teve início no dia 8 do mesmo mês e foi o precursor de uma época de proezas aéreas, que tiveram lugar nas duas décadas seguintes, e às quais o nome do arquipélago ficou intimamente ligado. Ainda nesse mesmo ano de 1919 um outro hidroavião que viajava entre a Inglaterra e os Estados Unidos da América, fez escala na baía da Horta, a partir de então passaram a suceder-se as travessias oceânicas e a utilizarem as ilhas dos Açores como escala, nomeadamente com amaragens na baía do porto da Horta no Faial.


                                                                                    Hidroavião NC 4 Curtss Flyer (arq. priv.)

        



   Postal alusivo à travessia transatlântica em 1919 
  com hidroavião NC 4 Curtiss Flyer (col. priv.)


                
                                                         
                                                                        Comandante Albet Cushing Read 1887 - 1967 (arq. pess.)

                          
                                                 

Após um interregno de dez anos, período durante o qual a história da aviação ficou marcada pelas travessias oceânicas sem escala, os Açores e particularmente o porto da cidade da Horta, voltaram a ser um ponto de confluência dos voos transatlânticos. Em 21 de maio de 1932, uma das máquinas mais célebres em toda a história da aviação, o luxuoso e imponente Dornier DO X, que nessa época era o maior hidroavião do mundo, fez escala no porto desta cidade, antes de seguir para Vigo na Espanha. De origem alemã, conhecido também como  "Flugschiff" ("Barco Voador"). Com os seus 40 metros de comprimento, 48 de envergadura, 10 metros de altura, pesava cerca de 50 toneladas e com a capacidade de alojamento para 70 passageiros, o DO X, equipado com 12 motores de 610 Cv, que podia atingir uma velocidade de 210 km/h, tendo saído de Holyrood (Terra Nova) no dia 21, amarou junto a costa na freguesia da Ribeirinha e seguiu depois para o porto da Horta.


                                                                      Hidroavião Dornier DO X sobrevoando o Oceano (arq. pess.)

 
                                                                                        Hidroavião Dornier DO X  amarado (arq. priv.)

                  

                 
                                                           Passageiros desembarcando do hidroavião Dornier DO X (arq. pess.)

                 

                            
Mas um dos feitos mais importantes dessa época de pioneirismo da aviação também está ligado ao arquipélago dos Açores. Trata-se do famoso raide aéreo da esquadrilha do Marechal italiano Ítalo Balbo (1896 - 1940), comandante de um voo colectivo de 24 hidroaviões Savoia Marchetti S 55X que efectuou uma dupla travessia do Atlântico, o que constituiu uma proeza inaudita naquela época. A primeira etapa do raide foi a ligação Portobello (Itália) a Chicago. De regresso à Europa, a  esquadrilha visitou a Horta e Ponta Delgada, onde tiveram uma recepção apoteótica, antes de rumarem a Lisboa.
                    
         
                                                                             Hidroavião Savoia Marchetti S 55X (arq. pess.)     



                                                                                      Recepção da esquadrilha de hidroaviões
                                                                                           do Marechal Ítalo Balbo (arq. pess.)

                                                                                                         
                                                         

                                                                                      Marechal Ítalo Balbo 1896 -1940 (arq. pess.)


                                                                                 
                                                 Com a visita das esquadrilhas de Balbo concluiu-se, para o arquipélago dos Açores, o período dos raides transoceânicos, iniciando-se a época dos voos com vista ao desenvolvimento das carreiras aéreas comerciais. Assim, no intuito de estudar a viabilidade de futuras carreiras regulares transatlânticas, amarou em 21 de novembro de 1933 no porto da cidade da Horta, a serviço da companhia Pan American World Airways (PAN AM), o herói nacional americano e já Coronel, Charles Lindbergh (1902 - 1974), acompanhado da sua esposa, Anne Morrow (1906 - 2001), pilotando um monoplano Lockheed Sirius designado de "Tingmissartog", termo que no dialecto da Gronelândia, ilha onde o piloto fizera escala nesse voo à volta do Atlântico Norte, significa ("o que voa como um grande pássaro").
  

                                                                                                                 (arq. pess.)


                                                            Casal Lindbergh a bordo do seu hidroavião Lockheed Sirius (arq. priv.)



                                                                     Coronel Charles Lindbergh e esposa Anne Morrow (arq. priv.)
     
 
                                        
                                                                                                                                                                 
As negociações com o governo português continuaram, quando a PAN AM na primavera de 1937 cria a divisão do Atlântico, tendo em vista a linha aérea que ia ser operada pelos hidroaviões Boeing 314 ainda em construção. A partir de 1937 a PAN AM é autorizada a efectuar o voo de ensaio Nova York – Bermudas - Faial (Açores) - Lisboa - Marselha – Southampton. Concluídas as negociações com Portugal, a PAN AM inicia a construção de infraestruturas e ao abrigo desse acordo constrói no porto da Horta instalações aeroportuárias, de telecomunicações terra/avião equipadas com rádio goniómetro. Em Lisboa/Cabo Ruivo são instalados equipamentos e infraestruturas idênticas. É o inicio dourado da era dos hidroaviões Boeing 314 Clippers, que a partir de 21 de março de 1939, dão início as carreiras regulares entre a América do norte e a Europa, isto até ao ano de 1945. De destacar que o acidente mais grave com vitimas mortais envolvendo este tipo de aparelho, aconteceu a 22 de fevereiro de 1943, quando o hidroavião Boeing 314 designado de "Yankee Clipper" ao amarar em Lisboa nas águas do Tejo, sofreu um acidente, vitimando 24 pessoas entre passageiros e tripulantes. Nesse período, diversas companhias aéreas passaram a utilizar as águas das ilhas, nomeadamente o canal entre as ilhas do Pico e do Faial, como ponto de apoio para as suas rotas entre a Europa e a América do norte.

          

                                  Hidroavião Clipper da Boeing B-314 NC 18603 no porto da Horta, inicio dos anos 40 (arq. pess.)
                      
                                       

                                                                 Hidroavião Clipper da Boeing B-314 levantando voo (arq. pess.)
                              

Hidroaviões Clipper da Boeing B-314 amarados no porto da Horta, anos 40 (arq. pess.)
                                            

                                                                      Vista aérea do porto da Horta, ilha do Faial,  (arq. rev. LIFE)

             

                                                                            Passageiros desembarcando do hidroavião da PAN AM
                                                                                       na doca de Cabo Ruivo, Lisboa (arq. priv.)


      

Horário da PAN AM de 1939 (arq. priv.)
                                                           


                                                                                       Cartaz da PAN AM alusivo às ligações
                                                                                        entre Portugal e Espanha (arq. pess.)
                                                                                                  
        

                                                                                                                                                                                                                                                                                
A partir do final da II Guerra Mundial e com o fim dos hidroaviões, o porto da Horta passa somente a manter as actividades de entreposto comercial como antes e as escalas marítimas de reabastecimento, já na década de 60 iniciou-se o afluxo de iates e veleiros nas travessias entre o continente americano e a Europa. No interior do porto comercial, em 3 de junho de 1986, é inaugurada a marina do porto da Horta, o primeiro porto de recreio a ser inaugurado nos Açores. Em resultado disso, serão ampliadas as infraestruturas de uma nova gare marítima e ampliado o edifício do Clube Naval da Horta ai instalado, sendo inaugurado o novo terminal marítimo de passageiros em 29 de julho de 2012.


                                                          Vista geral do porto da Horta na ilha do Faial na actualidade (arq. pess.)



                                                     Projecto do novo porto da horta com marina para barcos de recreio (arq. priv.)


                         


Vista aérea do porto da Horta com a nova marina para barcos de recreio (arq. priv.)
                

                                                                                                                                   
                                                                Terminal marítimo de passageiros no porto da Horta (arq. priv.)





 

Texto:
Paulo Nogueira
  




Fontes e bibliografia:
SILVEIRA, Carlos M. Ramos da "O Faial na História da Aviação", in Arquivo Açoriano, vol. 16, parte 3,1972, p.477-544
TELO, António José, "Os Açores e o Controlo do Atlântico" (1898 - 1948), p. 557, Edições Asa, Porto, 1993
MESSIAS, Rui, Centenário: Açores e a Aviação, in Revista DI, nº 340, 18 de outubro de 2009, p. 16-17



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