(arq. pess.)
A busca da conservação de sons vem de tempos longínquos. O facto de podermos registar a voz de alguém ou o som de um instrumento, depois podermos ouvi-lo quando queremos e onde queremos é algo que é relativamente recente. Continuando uma crescente evolução dos suportes de armazenamento e gravação no séc. XXI.
Assim, a 18 de agosto de 1877, o inventor americano Thomas Alva Edison (1847-1931), consegue gravar e reproduzir os sons gravados, fazendo a primeira experiência com o celebre poema "Mary has a little lamb", chamou ao seu invento o fonógrafo. Após algumas polémicas com o autor do invento, é Edison quem patenteia o invento. O fonógrafo era constituído por um cilindro giratório revestido de uma folha de estanho e este cilindro por sua vez accionado manualmente por uma manivela de progressão axial por sistema de parafuso, havendo uma separação do estilete de gravação do da reprodução.
Thomas Alva Edison 1847 - 1931 e o seu fonógrafo patenteado
(arq. pess.)
Fonógrafo de Edison (col. priv.)
Este novo aparelho de Thomas Edison foi patenteado em 19 de fevereiro de 1878, mas encontrou dificuldades iniciais para a sua comercialização. O novo aparelho provocou interesse da parte de músicos e editores, o próprio Thomas Edison mesmo relutava na utilização do invento para fins de entretenimento. Após vários aperfeiçoamentos este novo aparelho é melhorado e começa a ser comercializado com sucesso, utilizando para melhor a qualidade do som cilindros de cera mineral, o ozocerite e o estilete de aço por um de safira em forma de goiva. Com o aperfeiçoamento deste aparelho dá-se inicio a sua produção em série e comercialização para praticamente em todo o mundo. Estes aparelhos começam a ser comercializados em Portugal mas para um publico restrito, atendendo ao seu preço elevado para a época. Existiram versões destes aparelhos muito diversificadas para além da versão standard.
Cartaz publicitário ao fonógrafo de Edison (col. pess.)
Anúncio português ao fonógrafo Edison de 1904 (col. pess.)
Modelo de fonógrafo comercial e cilindro de cera marca Edison (col. pess.)
Demonstração da colocação de um cilindro num fonógrafo (arq. pess.)
Cilindros para fonógrafo de cera marca Edison e invólucros de finais do séc. XIX (col. priv.)
Modelo raro de fonógrafo tipo Edison de finais do séc. XIX (col. priv.)
Enquanto se grava sons em cilindros, em 1888 o inventor Emile Berliner (1851-1919) muda a forma dos cilindros para discos planos de 17 cm de diâmetro que giravam a 70 rotações por minuto e duravam cerca de 2 minutos, estes discos de goma - laca passam a ser comercializados a partir de 1892, discos estes de uma só face. Com eles surge também o gramofone a corda. Não se sabe ao certo qual o primeiro disco a ser gravado em Portugal, porém a maioria dos entendidos defende que terá sido realizado em 1903 por um inglês, Edward Moll, que gravou no Quartel dos Marinheiros em Alcântara, algumas interpretações da Banda dos Marinheiros da Armada Real, gravação essa levada depois para Hamburgo onde terá sido feito um disco de uma só face com a etiqueta da Gramophone, conhecida em Portugal por "Cara de anjo", por no lado não gravado do disco surgir impresso um anjo reclinado. A partir de 1907 a Columbia Gramophone apresentou pela primeira vez um disco de dupla face. Com este avanço técnico surgem também os designados gramofones que utilizam estes discos. Vários fabricantes surgem, como por exemplo a famosa marca His Master's Voice (A Voz do Dono), hoje normalmente abreviado para HMV, é uma marca registada famosa no negócio de música e por muitos anos foi o nome de uma marca de uma grande gravadora e fabricante de aparelhos de som. O nome foi cunhado em 1899 com o título de uma pintura do cachorro Nipper de Jack Russell Terrier que escuta um gramofone. Na pintura original, o cachorro estava escutando um fonógrafo de cilindro. Foram diversos os estabelecimentos em Portugal a comercializar este novo equipamento de vários fabricantes e que fazia a delicia do publico. Houve modelos de gramofones muito diversificados e de vários tamanhos, em que os seus fabricantes primavam pelos estilos das caixas de base até aos funis, que os fabricaram nos mais diversos tipos de materiais e decorações. Era considerado um luxo possuir um destes aparelhos.
Emile Berliner 1851 - 1919 e o seu gramofone patenteado
( arq. pess.)
Gramofone de Emile Berliner (col. priv.)
Modelo de gramofone comercial de Berliner (col. priv.)
Banda dos Marinheiros da Armada Real que gravou o primeiro disco em Portugal em 1903 (arq. pess.)
Disco de uma só face da etiqueta Gramophone
ou "Cara de Anjo", frente gravada e verso
(col. pess.)
Página do catálogo de loja de gramofones em Lisboa, início do séc. XX (col. pess.)
Símbolo da etiqueta da marca "His Master's Voice"
e instruções dos seus aparelhos (col. priv.)
Página de catálogo de gramofones do início do séc. XX (col. pess.)
Modelo de gramofone do início do séc. XX (col. priv.)
Publicidade de 1910 do representante e venda em Lisboa
da Companhia Franceza do Gramophone (arq. pess.)
Gramofone da His Master,s Voice e discos de meados dos anos 10 (col. pess.)
Publicidade da His Master's Voice e os seus gramofones de móvel em 1928
do Grande Bazar do Porto e Lisboa (col. pess.)
Gramofone de móvel, de meados dos anos 20 (col. priv.)
Os discos de 50 e 60 cm de diâmetro, com cerca de 15 min. são comuns na década de 1910. Em 1925 a velocidade dos discos passa de 80 para 78 rotações por minuto. Os gramofones ou grafonolas, estariam em moda até meados dos finais do anos 20, altura em que aparecem os primeiros gira discos eléctricos, já em meados dos anos 30. São muitas as marcas a comercializar este novo tipo de equipamento e são numerosas as representações em Portugal. Em 1933 é desenvolvida a gravação em estéreo fonia pela firma EMI, gravando discos em 78 rotações. Após a II Guerra Mundial o uso do vinil vem sobrepor-se a goma-laca, permitindo este novo material que o sulco dos discos fossem mais estreitos podendo assim reduzir a velocidade e aumentar a duração, permitindo tocarem cerca de 23 min. de ambos os lados a 33 1/3rpm. Este novo disco é designado LP Long Play e é introduzido pela etiqueta Columbia. Até 1946 os discos que se comercializavam em Portugal eram todos de importação com excepção dos que eram gravados directamente nas estações de rádio, sobretudo na Emissora Nacional, apenas para difusão radiofónica. A partir de 1947 surge em Portugal a primeira fabrica de discos no Porto, a Fabrica Portuguesa de Discos, que prensava apenas os discos, utilizando matrizes que eram fabricadas no estrangeiro, feitas a partir de fitas magnéticas gravadas em Portugal nos estúdios de radiodifusão. Só a partir de 1957 se começaram a produzir em Portugal as matrizes de cobre que permitiam a duplicação das gravações. O panorama musical muda em meados de 1958 com a introdução dos discos de 45 rotações por minuto estereofónicos, as firmas Decca e Pye são as primeiras a introduzir este tipo de disco no mercado, 25 anos depois dos primeiros discos estéreo de 78 rotações por minuto da EMI.
Publicidade portuguesa da marca de grafonolas e discos ODEON de 1930
(col. priv.)
Gramofone portátil dos anos 30 (col. pess.)
Capa de disco da Fabrica Portuguesa de Discos
(col. D. Hélder da Câmara)
Publicidade do rádio-gramofone estereofónico Saba de 1959 (arq. pess.)
Discos de vinil de 45 e 33 rpm (col. pess.)
Enquanto se gravava sons em cilindros e discos, o dinamarquês Valdemar Poulsen (1869-1942), patenteia, em 1898, o primeiro sistema de gravação magnético o "Telegraphone". Esta máquina de Poulsen ganhou o Grande Prémio da Exposição Mundial de Paris em 1900. Na máquina original a gravação era feita em fio de aço do tipo usado nas cordas dos pianos. O arame saía de um carreto onde estava enrolado e passava por um electroíman que o magnetizava segundo um padrão que variava de acordo com os sons captados por um microfone, enrolando-se noutro cilindro. Para ser reproduzido o som gravado era só passar o arame magnetizado pelo electroíman e por indução magnética geravam-se correntes eléctricas que eram transformadas no som original nos auscultadores. Este sistema era de fraca qualidade, embora melhorado ao longo dos anos, manteve-se até aos anos 40, quando foi substituída pela fita de plástico revestida a oxido de ferro. Foi um sistema mais utilizado para gravações a nível profissional havendo versões domesticas mas não foi um sistema comercializado.
(col. do Deutsches Museum)
A partir de 1935 é produzida na Alemanha a primeira fita de gravação magnética pela firma BASF, para uma maquina da AEG Telefunken, tratava-se de uma fita de plástico revestido num dos lados com um pó de oxido de ferro, permitindo uma diminuição do peso, o aumento de fidelidade, a duração da gravação e a manipulação das gravações. Os estúdios gravavam em bobines de fita magnética em mono que depois passavam para as matrizes para a prensagem dos discos. Este sistema de gravação passa a ser usado também pelo público com aparelhos domésticos e semi-profissionais comercializados a partir dos anos 50 mantendo-se a sua comercialização até tarde. Nos anos 60, a empresa holandesa PHILIPS introduziu no mercado a cassete, uma pequena caixa que continha os carretos e a fita magnética, transformando a gravação doméstica e a profissional também dos 30 anos seguintes. A partir do sistema de cassete surge a marca Walkman da SONY, criado em 1979. Um aparelho de pequenas dimensões, portátil, com a capacidade de reproduzir e gravar audio. O modelo Walkman original típico em azul e prateado, modelo TPS-L2, alimentado com pilhas, dotado de um sistema de microfone integrado e para de auscultadores, foi colocado à venda no Japão em 1 de julho de 1979 e não tardou em chegar a todos o os pontos do mundo. O sucesso deste aparelho foi tal que foram vendido cerca de 1,5 milhões entre 1979 e 1981. Todas as grandes marcas de aparelhagens de audio doméstico começam a produzir estes equipamentos de leitor e gravação de cassetes audio e a integra-los nos seus sistemas de Alta Fidelidade. A cassete seria um suporte de gravação de audio de grande sucesso até ao aparecimento e desenvolvimento de outras modernas gerações de suportes audio.
Gravador doméstico de fita magnética dos anos 50, (col. pess.)
Gravador portátil profissional de fita magnética dos anos 70 (arq. pess.)
Cassete áudio de meados anos 90 (col. pess.)
Leitor gravador de cassetes áudio, meados dos anos 90 (col. pess.)
Em meados da década de 70 a Sony e a PHILIPS aliaram-se para desenvolver um disco digital de apenas 11,5 cm de diâmetro e com a duração de uma hora de um só lado. A partir de 1983 começou a ser comercializado este suporte digital com o nome Compact Disc ou simplesmente CD. Este suporte seria anunciado como o "som superior eterno", pois o disco não sofria desgaste, não era tocado por nenhuma agulha como o vinil e por ser digital era de superior qualidade. Dez anos depois o CD ainda não se tinha conseguido impor, a qualidade de som era inferior ao disco de vinil, havia o problema do manuseamento, era preciso ter cuidado para não riscar a face gravada etc. O CD acabou por se impor não pela sua qualidade mas simplesmente por ser mais barato o seu fabrico do que os discos de vinil.
Suportes de Compact Disc Digital Audio e leitor gravador (col. pess.)
Em simultâneo a empresa nipónica SONY, apresenta em finais da década de 80 o DAT, Digital Audio Tape, uma cassete totalmente diferente e de qualidade de som superior ao CD, mas devido ao seu preço e à falta de cassetes DAT pré-gravadas, apenas teve sucesso nos meios profissionais.
Gravador/ leitor e cassetes de áudio sistema DAT (foto do fabricante)
Em 1993 a SONY apresenta um novo suporte digital com uma qualidade próxima da de um CD, o Mini-Disc. Este suporte apresentou-se como uma alternativa viável à cassete analógica, que nos anos 90 ainda era mais popular, acesso directo as faixas, re-gravável um milhão de vezes, sem perdas de qualidade, digital, etc, até porque o CD gravável não estava ainda ao alcance de todos, só gravavam uma vez e eram caros, assim como os seus equipamentos. Mais tarde já em meados da década de 90 a marca PHILIPS começa a comercializar gravadores de CD domésticos, fazendo concorrência aos MD. Em 1996 aparece um novo suporte de gravação de vídeo que traz a novidade do som surround. O DVD Digital Versatil Disc, foi a tecnologia que mais rapidamente teve sucesso junto dos consumidores, enquanto o CD demorou cerca de quinze anos para se impor, o DVD apenas precisou de três.
Leitor/ gravador de Mini Disc (foto do fabricante)
Enquanto que neste começo de século os sistemas de alta definição tentam ganhar posição no mercado, não estando ainda decidido quem ira suceder ao CD e DVD, formatos baseados em computador, sem partes móveis, fortemente comprimidos como o MP3 ou WUMA, que derivam de MPEG (Motion Picture Experts Group) Audio Layer-3, um formato de arquivo que permite ouvir músicas no computador com óptima qualidade.
Formatos estas que ganham terreno, principalmente nos consumidores mais jovens e a internet proporcionou isso mesmo. O cartão smartmedia, um dos muitos formatos em que é possível gravar música em MP3, WAV, ou outro formato com compressão estão a ganhar terreno e qualidade. A tecnologia esta sempre em constante evolução, como disse o poeta; "sempre que um homem sonha o mundo pula e avança...", por isso mesmo a história da tecnologia fica e ficará sempre em aberto, o que é hoje já não é amanhã. Como tal, novos sistemas, formatos e tecnologias de gravação áudio cada vez mais sofisticadas têm surgido e irão surgir no futuro. A história da tecnologia da gravação audio, como da tecnologia em geral não fica por aqui, terá sempre continuação...
Mini leitor de MP3 e cartão de memória 4 GB
(foto do fabricante)
Base de mesa para MP3 com colunas (foto do fabricante)
Modelo de MP3 e auscultadores em forma de pulseira maleável,
carregado com energia do corpo humano
(foto do fabricante)
Texto:
Paulo Nogueira
SILVA, Jorge Guimarães in publicação online telefonia.no.pt
"The Life of Thomas Edison", American Memory, Library of Congress.
BRAIN, Marshall. "Como funcionam as gravações analógica e digital", Publicado em How Stuff Works.
BRAIN, Marshall. "Como funcionam os CDs", Publicado em How Stuff Works.
POULSAN, Valdemar, "US PAT No. 661,619 Method of Recordings and Reproducing Sounds or Signals" Magnetic Tape Recorder.
Parabéns pelo artigo. Faltou a referencia aos formatos de alta definição actuais, como o FLAC, o mais popular entre eles. Nos formatos físicos também a referência ao SACD, menos popular, mas de qualidade superior. Para finalizar, sou adepto, tendo renovado o meu giradiscos há um ano e meio, o velhinho vinil que não pára de surpreender, e que deixa os ouvidos habituados ao digital, a perguntar-se que afinal antes, havia execelentes razões para passar bons e gratos tempos a ouvir música em audição dedicada, um hábito caído em desuso.
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário. De facto esses novos formatos à época em que este artigo foi escrito ainda não estavam muito em uso ou eram pouco comuns, no entanto agradeço a referência que vem e bem em forma de actualização das novas tecnologias. É que tal como foi dito no artigo, a história da tecnologia fica sempre em aberto e o que é hoje não será já amanhã.
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