Esta não é a história total das Marchas Populares de Lisboa, mas uma grande parte dela na sua essência. Pois a história de algo ou alguém nunca é totalmente completa nem definitiva. A origem das Marchas Populares de Lisboa, remonta a antigas tradições e existem muitas versões sobre o tema, todas elas relacionadas com festejos de origem pagã das celebrações do solstício do Verão. Estas festividades, mais tarde associadas aos Santos Populares, nomeadamente a Santo António, têm a sua origem num espaço que fica entre o sagrado e o profano. Santo António, de seu nome Fernando de Bulhões, nasceu em Lisboa em 15 de agosto entre 1191 e 1195. Registos há de pequenos grupos na cidade de Lisboa, que para comemorar o Santo António realizavam uma tourada em Lisboa desde finais do século XVI, primeiro no Terreiro do Paço e, mais tarde, no Rossio. Formas de divertimentos de outros tempos. Esta iniciativa era da Câmara Municipal de Lisboa, uma das mais esperadas e era acompanhada por música, outros divertimentos e folia. Os músicos sentavam-se num estrado de madeira, sustentado por um poste, espetado no centro da praça. E assim eram as comemorações populares do dia de Santo António em Lisboa. A tourada deixou de ser realizada depois do Grande Terramoto de 1755, quando foi dado ao Rossio outros destinos. Já em finais do século XVIII grupos de bairros de Lisboa deslocavam-se com archotes pelas ruas, cantando em competição, durante as comemorações de Santo António, as designadas popularmente Marchas ao Flambó, uma adaptação das francesas Marches au Flambeaux. As Marches aux Flambeaux ou seja marchas dos archotes, adaptada da tradição francesa, com origem provável segundo alguns entendidos nas danças de Entrudo ou nas comemorações da tomada da Bastilha. Estas Marchas ao Flambó, eram organizadas por cada bairro, mercado ou local onde se festejasse o Santo António. Formadas por pequenos grupos, com cerca de trinta a quarenta participantes, que desfilavam sem grande aparato de apresentação ou de coreografia, geralmente dirigidos por um ensaiador ou marcador, que os orientava utilizando um apito, exibindo-se os marchantes, preferencialmente, às portas e em frente das janelas dos Paços Reais, dos palácios da nobreza ou das casas ricas. Nestas marchas os archotes foram substituídos por balões coloridos de papel iluminados com velas e fogos de artifício, costumes trazidos da China no século XVII. Estas marchas populares foram naturalmente influenciadas pelas quadrilhas ou contra dança. Caracterizada originalmente como uma dança a quatro pares, a quadrilha constituiu uma adaptação da countrydance inglesa, impropriamente traduzida para o francês como "contredance" e, finalmente, traduzida para a língua portuguesa como contra-dança. Estas quadrilhas ou contra-dança, que, de um modo geral, com as modificações que lhe foram introduzidas, acabariam por dar forma às marchas populares e aos próprios corsos carnavalescos que antecedem a chegada da Primavera. Graças à sua coreografia variada, interessante e vistosa, com evoluções em coluna, em túnel, com cruzamentos, em quadrilhas, e frequentemente fitas entrelaçando ao redor de um mastro, exibição conhecida também por dança das fitas.
Estas Marchas ao Flambó, exibiam-se pela cidade de Lisboa, com passagem obrigatória pelo Rossio e Praça da Figueira, para serem apreciadas pela multidão que aí se aglomerava. Cantavam habitualmente a "Marcha do Balão", que musicalmente é, na verdade, uma contra dança (muito difundida pelas pautas vendidas nas casas de música da época), já registada na tradição oral de várias províncias, associada quase sempre a este tipo de cortejos músico-coreográficos, um pouco por todo o país, o que diz bem da popularidade e expansão do fenómeno. Já o escritor inglês William Thomas Beckford (1760 - 1844), na sua obra sobre viagens, aquando da sua passagem por Portugal em 1787, refere os festejos de Santo António como uma noite de muita animação e grandes festividades por toda cidade de Lisboa.
Esta tradição manteve-se com altos e baixos, principalmente na região de Lisboa onde as comemorações do Santo António têm o seu ponto alto. Estas marchas eram também designadas de "Ranchadas", tal tradição manteve-se até ao início do século XX. A partir de 1925 os festejos dos santos populares regressaram e passam a impor a sua tradição e colorido, reabrindo-se as portas do Mercado da Ribeira, fechadas ao povo desde 1916. Na década de 30, época em que muitas pessoas oriundas de outras cidades do país se juntavam em diversos bairros lisboetas. Assim, nasciam pequenas comunidades com origens em comum que por puro divertimento organizavam ranchos folclóricos, ranchos estes que nestes dias dedicados aos santos populares comemoravam com grandes arraiais. Para além das cerimónias litúrgicas, o figurino dos festejos renova-se no que respeita aos arraiais, ao enfeite de ruas, becos e pátios alfacinhas, e mesmo aos próprios "tronos de Santo António". Passam a ser incluídas nessas comemorações as Marchas Populares ou Ranchos, com o desfile colectivo dos moradores de cada bairro da capital, ao som de músicas alegres, a obedecer, tal como as letras, o trajo dos marchantes e a própria ornamentação dos arcos enfeitados com balões de papel coloridos e festões. Os temas são alusivos ao histórico ou referentes às características da cada bairro.
Imagem de Santo António junto à igreja em sua memória no local onde terá nascido em Lisboa
entre 1191 e 1195 (arq. priv.)
Imagem de Santo António de Lisboa
em madeira policromada e dourada
do século XVIII
(col. Museu de Santa Maria de Lamas)
Representação de comemorações populares de quadrilhas nos santos populares em Lisboa
nos finais do século XVIII por Roque Gameiro (col. pess.)
Representação de par de marchantes populares de rancho
nos finais do século XIX por Stuart de Carvalhais
(col. pess.)
Representação de marchantes populares de rancho
nos finais do século XIX (col. pess.)
Ranchada a caminho do Mercado da Praça da Figueira em 1904 na noite de Santo António
(col. pess.)
Grupo de foliões nos arraiais de Santo António em 1909 (arq. priv.)
Marchantes de bairro de Lisboa com arcos e balões em meados dos anos 20 (arq. AML)
Mas será por iniciativa de José Leitão de Barros (1896 - 1967), professor, cineasta, jornalista, dramaturgo e pintor, considerado o "pai das marchas populares", que em a 5 de junho de 1932, anunciou o primeiro concurso de marchas populares no jornal Notícias Ilustrado da sua autoria, que juntamente com o jornal Diário de Notícias dinamizaram esta iniciativa. Esta ideia surgiu a partir de um desafio proposto pelo então director do Parque Mayer, Dr. Campos Figueira de Gouveia (1898 - 1970), o próprio José Leitão de Barros e António Joaquim Tavares Ferro (1895 - 1956). Isto porque era necessário arranjar um espectáculo capaz de mobilizar a atenção dos lisboetas. Todas as colectividades de cada bairro de Lisboa foram convidadas a participar e toda a produção ficou a cargo do Parque Mayer. A primeira edição das Marchas Populares de Lisboa, teve apenas três bairros a participar: Alto do Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique. Alguns núcleos bairristas como Alfama, Alcântara e Madragoa desfilaram a convite de Leitão de Barros. Todas as marchas desfilaram pelas ruas de Lisboa e terminaram numa actuação conjunta no cine-teatro Capitólio no Parque Mayer. Alto do Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique foram as marchas ou ranchos como também se chamavam na altura, participantes, ainda sem o tom alfacinha como tema central, mas já em formato de competição. Campo de Ourique, com os seus trajes minhotos, foi o vencedor da primeira edição. A Marcha do Alto do Pina obteve o 1º prémio na categoria Pitoresco e a Marcha do Bairro Alto ganhou o prémio Alegria. No dia 5 de junho de 1932, o jornal Notícias Ilustrado relatava o entusiasmo e a alegria com que os alfacinhas receberam o primeiro desfile das Marchas Populares escrevendo: "Pelo entusiasmo que lavra entre os componentes daquelas colectividades, avalia-se desde já o sucesso formidável que vai ter a revivescência das velhas marchas populares que de cada bairro da cidade nas noites festivas dos Santos populares se encontravam no chafariz da antiga rua Formosa".
No ano seguinte de 1933 nas Marchas Populares de Lisboa participam doze bairros, cada um com a sua marcha, música, traje, coreografia de acordo com um tema inspirado num costume local ou característica do seu bairro. As canções eram populares e as suas letras estavam sujeitas a aprovação por parte da autarquia. Rapidamente, estas Marchas Populares de Lisboa passaram a fazer parte das tradições cidade e ajudaram, de certa forma, a criar uma identidade inspirada nos aspectos urbanos e rurais da vida dos lisboetas. Este processo foi apelidado pelo investigador de História Contemporânea do Instituto de Ciências Sociais, Daniel Melode "folclorização do Estado Novo Português". Na opinião deste historiador as marchas populares são: "(…) um exemplo singular de folclorização [que] ambicionam instalar uma tradição lisboeta, mas paradoxalmente recorrem, num momento inicial, a elementos pretensamente folclóricos de proveniência exógena (rural), e só depois reforçam os traços directamente associados à cidade". Em alguns casos, porém, era dado um particular realce ao elemento etnográfico como sucedia com as tradições saloias dos bairros de Benfica e Olivais ou então, ao carácter peculiar da colónia ovarina que habita o pitoresco bairro da Madragoa. Essa primeira marcha popular de 1932, no quadro dos festejos do Santo António, foi pois criada igualmente na sequência das comemorações do 28 de maio e da parada militar na Avenida da Liberdade. Visou-se associá-la à imagem, aos projectos e aos valores do regime do Estado Novo a partir de 1934. A ideia estava lançada e bem aceite por toda a cidade de Lisboa, tornando-se a cada ano, as marchas, na maior manifestação etnográfica dos festejos de Santo António, com os desfiles e exibições habituais na Avenida da Liberdade e Parque Eduardo VII, à conquista do prémio para a melhor marcha, sempre muito festejado por quem o alcança. Porém, o desfile anual das Marchas Populares de Lisboa na Avenida da Liberdade no dia 13 de junho, não é só uma celebração. É tradição em Lisboa, a "marcha popular" ser constituída por vinte e quatro pares de marchantes a que se juntam quatro aguadeiros e um "cavalinho" composto por oito elementos, tocando um clarinete, um saxofone alto, dois trompetes, um trombone, um bombardino, um contrabaixo e uma caixa. Para além daqueles, podem ainda ser incorporados o porta-estandarte, duas crianças como mascotes, um par de padrinhos e dois ensaiadores. Todas as marchas devem incluir o festão e o balão ou o manjerico e exibir o "Trono de Santo António" ou o "Arraial". Em 1934, cerca de 300 mil pessoas assistiram ao desfile de 12 bairros e 800 marchantes, desde o Terreiro do Paço até ao Parque Eduardo VII. De referir como curiosidade que nesta época as marchas desfilavam no sentido contrário ao que conhecemos hoje, ou seja, subiam a Avenida da Liberdade em vez de descer. No ano seguinte, foi a primeira vez que todas as marchas cantaram uma composição comum, a Grande Marcha de Lisboa "Ai! Vai Lisboa", de Raúl Ferrão e Norberto de Araújo. Foi vencedora neste ano de 1935 a Marcha de Benfica, onde a actriz Beatriz Costa convidada, desfilou na Avenida da Liberdade montada num burro. Alguns membros do governo incluindo o Presidente do Conselho António de Oliveira Salazar (1889 - 1970), assistiram a este evento de uma das janelas do Teatro Nacional D. Maria II. Também neste ano foram instituídas regras: fixou-se o número de marchantes, de músicos e de acompanhantes. Ao êxito de 1935, e em grande parte devido ao ambiente de conflitos internacionais que se vivia, a Guerra Civil Espanhola e a mais tarde Segunda Guerra Mundial, seguiu-se um longo interregno, com excepção para os anos de 1940, com a celebração dos Centenários da Independência e da República, e de 1947, data do 8.º Centenário da Conquista aos Mouros. Este desfile das Marchas Populares de Lisboa faz parte da memória colectiva de Portugal. Como exemplos encontramos em êxitos do cinema português como nos filmes "A Canção de Lisboa" (1933) de José Cotinelli Telmo, ou o "Pátio das Cantigas" (1942) de Francisco Ribeiro, onde estão claramente presentes esta tradição e revelam uma característica importante da identidade colectiva da cidade de Lisboa.
No ano seguinte de 1933 nas Marchas Populares de Lisboa participam doze bairros, cada um com a sua marcha, música, traje, coreografia de acordo com um tema inspirado num costume local ou característica do seu bairro. As canções eram populares e as suas letras estavam sujeitas a aprovação por parte da autarquia. Rapidamente, estas Marchas Populares de Lisboa passaram a fazer parte das tradições cidade e ajudaram, de certa forma, a criar uma identidade inspirada nos aspectos urbanos e rurais da vida dos lisboetas. Este processo foi apelidado pelo investigador de História Contemporânea do Instituto de Ciências Sociais, Daniel Melode "folclorização do Estado Novo Português". Na opinião deste historiador as marchas populares são: "(…) um exemplo singular de folclorização [que] ambicionam instalar uma tradição lisboeta, mas paradoxalmente recorrem, num momento inicial, a elementos pretensamente folclóricos de proveniência exógena (rural), e só depois reforçam os traços directamente associados à cidade". Em alguns casos, porém, era dado um particular realce ao elemento etnográfico como sucedia com as tradições saloias dos bairros de Benfica e Olivais ou então, ao carácter peculiar da colónia ovarina que habita o pitoresco bairro da Madragoa. Essa primeira marcha popular de 1932, no quadro dos festejos do Santo António, foi pois criada igualmente na sequência das comemorações do 28 de maio e da parada militar na Avenida da Liberdade. Visou-se associá-la à imagem, aos projectos e aos valores do regime do Estado Novo a partir de 1934. A ideia estava lançada e bem aceite por toda a cidade de Lisboa, tornando-se a cada ano, as marchas, na maior manifestação etnográfica dos festejos de Santo António, com os desfiles e exibições habituais na Avenida da Liberdade e Parque Eduardo VII, à conquista do prémio para a melhor marcha, sempre muito festejado por quem o alcança. Porém, o desfile anual das Marchas Populares de Lisboa na Avenida da Liberdade no dia 13 de junho, não é só uma celebração. É tradição em Lisboa, a "marcha popular" ser constituída por vinte e quatro pares de marchantes a que se juntam quatro aguadeiros e um "cavalinho" composto por oito elementos, tocando um clarinete, um saxofone alto, dois trompetes, um trombone, um bombardino, um contrabaixo e uma caixa. Para além daqueles, podem ainda ser incorporados o porta-estandarte, duas crianças como mascotes, um par de padrinhos e dois ensaiadores. Todas as marchas devem incluir o festão e o balão ou o manjerico e exibir o "Trono de Santo António" ou o "Arraial". Em 1934, cerca de 300 mil pessoas assistiram ao desfile de 12 bairros e 800 marchantes, desde o Terreiro do Paço até ao Parque Eduardo VII. De referir como curiosidade que nesta época as marchas desfilavam no sentido contrário ao que conhecemos hoje, ou seja, subiam a Avenida da Liberdade em vez de descer. No ano seguinte, foi a primeira vez que todas as marchas cantaram uma composição comum, a Grande Marcha de Lisboa "Ai! Vai Lisboa", de Raúl Ferrão e Norberto de Araújo. Foi vencedora neste ano de 1935 a Marcha de Benfica, onde a actriz Beatriz Costa convidada, desfilou na Avenida da Liberdade montada num burro. Alguns membros do governo incluindo o Presidente do Conselho António de Oliveira Salazar (1889 - 1970), assistiram a este evento de uma das janelas do Teatro Nacional D. Maria II. Também neste ano foram instituídas regras: fixou-se o número de marchantes, de músicos e de acompanhantes. Ao êxito de 1935, e em grande parte devido ao ambiente de conflitos internacionais que se vivia, a Guerra Civil Espanhola e a mais tarde Segunda Guerra Mundial, seguiu-se um longo interregno, com excepção para os anos de 1940, com a celebração dos Centenários da Independência e da República, e de 1947, data do 8.º Centenário da Conquista aos Mouros. Este desfile das Marchas Populares de Lisboa faz parte da memória colectiva de Portugal. Como exemplos encontramos em êxitos do cinema português como nos filmes "A Canção de Lisboa" (1933) de José Cotinelli Telmo, ou o "Pátio das Cantigas" (1942) de Francisco Ribeiro, onde estão claramente presentes esta tradição e revelam uma característica importante da identidade colectiva da cidade de Lisboa.
José Leitão de Barros 1896 - 1967 (arq. priv.)
Vista geral aérea do Parque Mayer em meados dos anos 30 (arq. priv.)
Fachada cine-teatro Capitólio em meados dos anos 40 (arq. priv.)
Cartaz anunciando as Marchas Populares
em página do jornal Notícias Ilustrado
de 5 de junho de 1932
(arq. Hemeroteca Municipal de Lisboa)
Marchantes de bairro popular de Lisboa com o seu arco nos anos 30
(arq. priv.)
A Marcha do Alto do Pina em 1932 que obteve o 1º prémio na categoria de Pitoresco
(arq. priv.)
A Marcha de Alfama em 1932 organizada
pela Academia Recreativa Leais Amigos
(arq. priv.)
A Marcha de Alcântara em 1932 organizada
pela Sociedade Filarmónica Alunos Esperança
(arq. priv.)
Páginas do jornal Notícias Ilustrado de 5 de junho de 1932 alusivas às Marchas Populares de Lisboa
(arq. Hemeroteca Municipal de Lisboa)
Postal ilustrado dos anos 30 por Stuart de Carvalhais
com marchante e quadra popular alusiva
às Marchas Populares de Lisboa
(col. pess.)
Capa do programa das Marchas dos Bairros das Festas de Lisboa de 1934
(col. priv.)
Cartaz das Festas de Lisboa de 1934 por Stuart de Carvalhais
(arq. priv.)
Marcha Popular do Alto do Pina de 1934 (arq. DN)
Marcha de Sete Rios em 1934 (arq. DN)
Marchas Populares ou Marchas Nocturnas
em 1934 por Almada Negreiros
(col. priv.)
Reportagem sobre as festas da cidade publicada pela revista Ilustração
em 16 de junho de 1934 (arq. Hemeroteca Municipal de Lisboa)
Cartaz das Festas de Lisboa de 1935 (col. priv.)
Marcha da Mouraria de 1935 na Avenida da Liberdade (arq. DN)
Marcha de Alcântara de 1935 (arq. DN)
Marcha de Benfica, a vencedora do ano de 1935 no Rossio (arq. AML)
Letra da Marcha "Ai! Vai Lisboa" de 1935 (col. priv.)
Júri das Marchas Populares de Lisboa em 1935 (arq. DN)
Páginas do jornal Diário de Lisboa anunciando as marchas de Lisboa de finais dos anos 30
(arq. priv.)
Marcha do Bairro Alto em 1939 (arq. DN)
Marcha de Benfica de 1940 na Avenida da Liberdade (arq. DN)
Letra da Marcha "Olha Mangerico" de 1940 (col. priv.)
Marcha de São Vicente de 1947 no Palácio dos Desportos (arq. DN)
Marcha da Graça de 1947 na Avenida da Liberdade (arq. DN)
Letra da "Marcha do Centenário" de 1947 (col. priv.)
Cartaz do filme "A Canção de Lisboa" de José Conttinelli Telmo de 1933 (col. priv.)
Fotogramas do filme português "A Canção de Lisboa" de 1933
com alusão às Marchas Populares de Lisboa (arq. priv.)
Cartaz do filme português "O Pátio das Cantigas"
de Francisco Ribeiro de 1942 (col. priv.)
Fotogramas do filme português "O Pátio das Cantigas" de 1942
com alusão às Marchas Populares de Lisboa (arq. priv.)
Nos anos 50, as marchas adquirem um enorme prestígio, tendo sido assistidas pelos mais altos dirigentes do Estado e começando a ser apadrinhadas por vedetas da rádio e do teatro, tal como hoje acontece por figuras públicas e da televisão. Desde o seu início, os temas musicais das Marchas Populares de Lisboa têm sido cantados e imortalizados na voz de muitos cançonetistas e actores famosos portugueses, como Beatriz Costa, Amália Rodrigues, Laura Alves, Maria Fernanda Soares, Júlia Barroso, António Calvário, Ada de Castro entre muitos outros. Em 1952, a novidade é a deslocação do desfile para o percurso que actualmente conhecemos, do Marquês de Pombal aos Restauradores. Após um período instável, a partir de 1963, e até 1970, o desfile ocorreu sem interrupções. Na década de 60 começam as exibições em recinto fechado, no Pavilhão dos Desportos, no Parque Eduardo VII, embora haja registos de exibições anteriormente ainda na época da designação de Palácio dos Desportos. Com o advento da televisão, este espectáculo passa a ser transmitido primeiro pela RTP, único canal de televisão em Portugal, a partir de 1963, e mais tarde pelos canais privados que surgem a partir de 1992. Cabe no entanto nos últimos anos ao canal estatal, RTP, a transmissão deste evento para todo o mundo na noite de 12 de junho. Nessa altura, do início da década de 60, registou-se um dos percursos mais longos, do Parque ao Terreiro do Paço, com passagem pelas Avenidas Sidónio Pais e Fontes Pereira de Melo. Em 1965, aparecem os carros alegóricos e, em 1969, as mascotes, crianças, que acompanham a marcha vestidas a rigor. Já no início dos anos 70, assiste-se ao progressivo declínio das Marchas Populares de Lisboa, que chegaram mesmo a extinguir-se depois da Revolução do 25 de Abril, por estarem associadas ao regime do Estado Novo. Só em 1980 as Marchas Populares de Lisboa regressam à Avenida, mantendo um ritmo anual até à actualidade.
Grande Marcha de Lisboa de 1955 interpretada
por Maria Fernanda Soares (arq. PNP)
Marcha de São Vicente de 1950 na Avenida da Liberdade (arq. DN)
Desenhos de cromos para recortar com os figurinos das Marchas Populares de Lisboa
da revista Cavaleiro Andante de 1952 (col. priv.)
Cartaz das Festas de Lisboa de 1955 (col. priv.)
Desfile da Marcha de Benfica no Pavilhão dos Desportos,
em 1955 foto Judah Benoliel (arq. AML)
Capa de revista O Século Ilustrado alusivo às Marchas Populares dos anos 50 (col. priv.)
Pavilhão dos Desportos no Parque Eduardo VII em meados dos anos 60 (arq. AML)
Desfile de Marcha Popular de Lisboa no Pavilhão dos Desportos
em meados dos anos 60, foto Judah Benoliel (arq. AML)
Directo das Marchas Populares de Lisboa em 1963
na Avenida da Liberdade pela RTP (arq. RTP)
Marcha da Madragoa de 1963 (arq. DN)
Marcha do Alto do Pina de 1963 (arq. DN)
Marcha da Ajuda de 1966 na Avenida da Liberdade (arq. DN)
Marcha dos Olivais Sul de 1969 (arq. DN)
Ao longo do tempo e desde que as Marchas Populares de Lisboa se impuseram como grande acontecimento desta data, cenógrafos e estilistas, alguns conhecidos, são contratados para a elaboração de todos os elementos do desfile das marchas de cada bairro, assim como dos fatos dos marchantes. A partir de 1990 tomam ainda, se possível, maior relevo, integradas nas Festas de Lisboa, com o início dos festejos no dia 1 de junho e a prolongarem-se até ao dia 30. A partir de 1998 adoptou-se um novo figurino, com as celebrações a incidirem de 1 a 13 (finalizando com as marchas) abrangendo as áreas do Terreiro do Paço ao Largo do Chafariz de Dentro. Em 1999 optou-se pela noite do dia 12 até 30 de junho, com as festividades a decorrerem desde o Terreiro do Paço, local onde no século XVI era armada uma praça e efectuada uma corrida de toiros, a lembrar tempos antigos, até à Praça de D. Luís. Este calendário repetiu-se no ano 2000, contemplando as celebrações a zona ribeirinha e o Parque Eduardo VII. No ano de 2001 manteve-se a mesma data, mas agora com os festejos espalhados pela cidade, oferecendo a maior diversidade no que respeita a animação, mas tendo sempre como ponto central os bairros históricos de Lisboa. Actualmente, concorrem dezoito bairros (ou marchas), a que se junta a Marcha Infantil da Voz do Operário, saída pela primeira vez em 1966 e depois apenas em 1990 para continuar até hoje. Têm sido também habituais a presença de marchas convidadas como as Marchas dos Mercados, Santa Casa da Misericórdia entre outras de localidades fora de Lisboa. No ano de 2015, retiraram-se as Marchas da Baixa, do Beato e de São Domingos de Benfica. Ocorreu a fusão das marchas da Bela Flor e de Campolide (já ausente na edição de 2015), sendo criada a Marcha da Bela Flor-Campolide. Ao sorteio para entrada de novas marchas, concorreram as três últimas classificadas na edição de 2015 (Beato, Benfica e Baixa), Campolide (que acabou por fundir-se com a marcha da Bela Flor), Campo de Ourique (ausente desde 2005), Penha de França (ausente desde 2013), Parque das Nações (a tentar a primeira participação), Castelo (ausente desde 2014), Bairro da Boavista (a tentar a primeira participação) e Belém (ausente desde 2014). Em 2016 concorreram marchas de 20 bairros, estreou-se a Marcha do Bairro da Boavista (por sorteio), reentraram a concurso as Marchas da Penha de França, que participou pela última vez em 2013, e de Campo de Ourique, que já não participava desde 2005. Como estreante foi escolhida a Marcha do Bairro da Boavista, já as Marchas de Campo de Ourique e Penha de França protagonizaram os regressos, enquanto Benfica foi salva da exclusão pelo sorteio. Para além da principal apresentação no desfile da Avenida de Liberdade no dia 12 de junho, com a transmissão pela RTP1, também ocorreram apresentações das marchas antes, entre 3 e 5 de junho no espaço do Pavilhão Atlântico, actual MEO Arena em Lisboa. Tem sido alias tradição nos últimos anos haver esta primeira apresentação de todas as Marchas Populares de Lisboa a concurso no espaço do MEO Arena de Lisboa, numa apresentação que já contará para a classificação final e por fim o grande desfile tradicional na Avenida da Liberdade. Em 2016, as Marchas Populares de Lisboa tiveram como temas principais o 170.º Aniversário do nascimento de Rafael Bordalo Pinheiro e o 50.º Aniversário da construção da Ponte Sobre o Tejo (Ponte 25 de Abril). Foi vencedora a Marcha de Alfama ficando em primeiro lugar, logo seguida da Marcha da Penha de França em segundo lugar e Marcha do Alto de Pina em terceiro lugar. Neste ano de 2017, na 85 ª edição das Marchas Populares de Lisboa, o tema foi Lisboa Cidade do Mundo. Uma vez mais no desfile na Avenida da Liberdade participaram 20 marchas a concurso, mais 3 extra concurso. A vencedora foi a Marcha de Alfama, ficando assim este ano ordenados os resultados das Marchas Populares de Lisboa:
1º lugar: Marcha de Alfama
2º lugar: Marcha do Bairro Alto
3º lugar: Marcha da Madragoa
Nos últimos 85 anos das Marchas Populares de Lisboa, muitos foram os nomes que por elas passaram, quer como autores, compositores, cenógrafos, coreógrafos e até costureiras, que fizeram com que estas marchas hoje sejam e tenham o êxito que têm. Citar todos esses importantes nomes aqui desde 1932 até aos nossos dias, seria extenso e tarefa complicada, correndo o risco de alguns ficarem esquecidos. Mas fica aqui no entanto a grande homenagem a todas essas pessoas e às que nas gerações seguintes irão de certo continuar a dar vida, cor, música, ritmo e alegria às Marchas Populares de Lisboa. Independentemente de todas as dúvidas e opiniões que possam existir sobre qual a melhor marcha no desfile da Avenida, as marchas resistem, mais ou menos populares, com maior ou menor sofisticação, mas mantendo intacto o espírito do despique bairrista fazendo já parte das tradições da cidade de Lisboa e da memória colectiva de Portugal.
Para o ano haverá mais Marchas Populares de Lisboa e que ganhe sempre a melhor …
Marchas Populares de Lisboa contemporâneas (arq. priv.)
Figurinos para as Marchas Populares de Lisboa de 2004 (col. priv.)
Marcha do Castelo de 2009 na Avenida da Liberdade (arq. priv.)
Marcha do Lumiar de 2010 na Avenida da Liberdade (arq. priv.)
Marcha da Baixa de 2012 na Avenida da Liberdade (arq. priv.)
Marcha da Mouraria de 2013 na Avenida da Liberdade (arq. priv.)
Marcha da Bela Flor de 2015 na Avenida da Liberdade (arq. priv.)
Pavilhão Atlântico actual MEO Arena no Parque das Nações, em Lisboa (arq. priv.)
Desfila da Marcha da Madragoa no MEO Arena em Lisboa em 2016 (arq. priv.)
Aspecto da Avenida da Liberdade na noite do desfile das Marchas Populares de Lisboa de 2016
(foto Paulo Nogueira)
Marcha Infantil da Voz do Operário de 2016 na Avenida da Liberdade
(foto Paulo Nogueira)
Marcha de São Vicente de 2016 dedicada ao
170º Aniversário do nascimento de Rafael Bordalo Pinheiro
na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha de Alcântara de 2016 dedicada ao
50º Aniversário da construção da Ponte Sobre o Tejo
na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha da Ajuda de 2016 com os padrinhos o actor Paulo Vasco
e a apresentadora Maria João Gama na Avenida da Liberdade
(foto Paulo Nogueira)
Marcha do Bairro Alto de 2016 na Avenida da Liberdade (fotos Paulo Nogueira)
Marcha do Alto do Pina de 2016 na Avenida da Liberdade
(foto Paulo Nogueira)
Marcha do Bairro da Boa Vista em 2016 na Avenida da Liberdade
(fotos Paulo Nogueira)
Marcha de Alfama vencedora do desfile de 2016 na Avenida da Liberdade
(foto Nuno Pinto Fernandes)
Cartaz das Festas de Lisboa 2017 (arq. EGEAC)
Cartaz do desfile das Marchas Populares de Lisboa de 2017
(arq. EGEAC)
Marcha da Bica de 2017 na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha do Castelo de 2017 na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha da Penha de França de 2017 na Avenida da Liberdade
(fotos Paulo Nogueira)
Marcha de Carnide de 2017 na Avenida da Liberdade (arq. priv.)
Marcha de Carnide de 2017 na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha de Santa Engrácia de 2017 na Avenida da Liberdade
(foto Paulo Nogueira)
Marcha da Graça de 2017 na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha de Alcântara de 2017 na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha da Ajuda de 2017 na Avenida da Liberdade (arq. priv.)
Marcha da Ajuda de 2017 na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha de Belém de 2017 na Avenida Liberdade (fotos Paulo Nogueira)
Marcha de Benfica de 2017 na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha da Mouraria de 2017 na Avenida da Liberdade (foto Paulo Nogueira)
Marcha da Madragoa de 2017 na Avenida Liberdade (fotos Paulo Nogueira)
Marcha do Bairro Alto de 2017 na Avenida da Liberdade (fotos Paulo Nogueira)
Marcha de Alfama vencedora de 2017 no desfile da Avenida da Liberdade (arq. priv.)
Texto:
Paulo Nogueira
Fontes e bibliografia:
Jornal Notícias Ilustrado de 6 de junho de 1932
ARAÚJO, Norberto De, Colecção Peregrinações em Lisboa, Editora Parceria António Maria Pereira, Lisboa, 1939-1940
BARROS Jorge/ COSTA Soledade Martinho, Festas e Tradições Portuguesas, vol.V, edição Circulo de Leitores, Lisboa, 2002
Festas de Lisboa, EGAC, edição on line
Jornal Notícias Ilustrado de 6 de junho de 1932
ARAÚJO, Norberto De, Colecção Peregrinações em Lisboa, Editora Parceria António Maria Pereira, Lisboa, 1939-1940
BARROS Jorge/ COSTA Soledade Martinho, Festas e Tradições Portuguesas, vol.V, edição Circulo de Leitores, Lisboa, 2002
Festas de Lisboa, EGAC, edição on line
Adorei a forma como apresentou as Marchas!
ResponderEliminarEm 1932, o meu pai desfilou por Campolide (Céssias e Cartólas) e, como todas as outras marchas concorrentes também tirou um primeiro prémio.
Muito obrigado pelo seu comentário e apreciação deste trabalho. É gratificante quando para além de se abordar um tema e conseguir transmitir o seu conteúdo se conseguem igualmente reavivar boas memórias pessoais que cada um tem sobre eles.
EliminarParabéns por esta história extremamente completa das marchas de Lisboa.
ResponderEliminarMuito obrigado pelo comentário e apreciação.
EliminarFoi o objectivo deste trabalho reunir o maior número de material possível existente sobre este tema que tão querido é aos lisboetas e não só.
Boa noite, gostaria de o citar num estudo que estou a fazer, posso saber o seu nome por favor? colocarei na bibliografia : (Nome ??), (13 de junho, 2017). "Marchas Populares de Lisboa". [Histórias com História]. Link... muito obrigada.
ResponderEliminarBoa noite,
EliminarEsteja à vontade para citar o blogue e o meu nome que está no perfil. Agradeço a leitura e pedido para o trabalho que está a realizar sobre o tema.
Como pode ver o blogue pertence-me, existe o meu perfil e sou eu Paulo Nogueira, quem elabora e assina todos os artigos.
EliminarMuito obrigada, assim farei.
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