Dos sistemas de iluminação a azeite, passando pelo gás até à electricidade
A problemática da iluminação pública em Portugal e especialmente na cidade de Lisboa, constituiu uma preocupação desde a 1ª Dinastia, altura em que o rei D. Fernando I (1345 - 1383), manifestou o seu cuidado e preocupação, relativamente ao perigo que a escuridão da noite lisboeta representava nas suas ruas estreitas e labirínticas. É para isso criado por D. Fernando I, o primeiro corpo de agentes policiais, os chamados "Quadrilheiros", com um efectivo de 20 elementos, tendo recebido um Regimento. A lei datada de 12 de setembro 1383, que refere no seu preâmbulo a grande criminalidade que grassava na cidade de Lisboa. Este Regimento era constituído por “homens comuns, escolhidos pela sua seriedade, para dar conta de ocorrências nas diferentes zonas da cidade”. Em 1689, durante o reinado de D. Pedro II (1648 - 1706), é emitido um decreto para o Senado analisar a questão da iluminação pública da cidade de Lisboa. No entanto, no último quartel do século XVIII, a noite de Lisboa era ainda território de marginalidade e insegurança, vigiada pelo serviço civil dos Quadrilheiros. O medo do desconhecido impedia os lisboetas de saírem assim que o sol se punha, não só receosos da criminalidade, mas também dos condenados pela Igreja de actos subversivos nocturnos, a fama e os medos incutidos como a das mulheres acusadas de bruxaria ou os judeus. Até quase ao final do século XVIII, sair à noite significava colocar-se em perigo e, ao mesmo tempo, sob suspeita. As saídas nocturnas à rua, para quem tinha de o fazer e arriscava, tinham de ser feitas levando consigo uma lanterna de mão funcionando a azeite ou vela, muitas vezes fazendo-se acompanhar de um empregado à frente para a transportar, nessa aventura que eram as saídas nocturnas pela cidade de Lisboa.
Após o Terramoto de 1755 grandes mudanças acontecem na toponímia da cidade de Lisboa, novas ruas e praças mais amplas surgem na parte baixa da cidade, a mais atingida pela catástrofe. Projectos arquitectónicos que se executam e outros que não passaram do papel. As pequenas e labirinticas ruas pequenas, apenas se mantêm em algumas zonas da capital não atingidas pelo Terramoto, surgindo no resto da cidade largas e longas ruas, com nova disposição. Houve necessidade de iluminar durante a noite estas novas artérias da capital. Por volta das décadas de 1780 e 1790, com praticamente toda a cidade já reconstruída, o então intendente-geral da polícia, Diogo Inácio de Pina Manique (1733 - 1805), ordenou a realização de um ensaio, obrigando os comerciantes a construir e pagar as suas próprias lamparinas e lampiões. Este novo método surtiu efeito e bons resultados. Perante tais resultados e com o objectivo de iluminar as ruas e praças mais importantes da cidade de Lisboa, será a rainha D. Maria I (1734 - 1816), a oferecer os primeiros candeeiros a azeite para a iluminação publica. Desta forma a Lisboa dos finais do século XVIII passa a ser iluminada por lampiões, dotados de um sistema engenhoso para baixar e erguer baseado nos engenhos de alavanca usados para captação de água tradicionais em Portugal, as "cegonhas", sendo por isso designados de "candeeiros de cegonha". Estes candeeiros eram providos de lampiões com lamparinas a azeite de parca profusão, pagas não pelo Estado, mas através de um imposto cobrado aos cidadãos para manter este sistema. Fez-se então publicar na Gazeta de Lisboa de 15 de dezembro de 1780: "Por um edital do Intendente Geral da Polícia, que se acha fixado nos logares publicos d'esta capital, se faz saber que as principaes ruas d'ella serão illuminadas desde o dia 17 d'este mez. S. Magestade houve por bem fazer a despeza dos lampeões, e cada morador das ruas, em que elles serão postos, deverá contribuir com um quartilho d'azeite em cada espaço de 27 dias". Estes famosos candeeiros com lampiões de inspiração francesa, muito idênticos aos usados à época em Paris e outras cidades francesas. Eram constituídos por lampiões e dotados de um sistema muito engenhoso de sustentação, foram usados até ao início da iluminação a gás. Assim pela primeira vez, da noite se faz dia, em algumas artérias da cidade de Lisboa. Estes lampiões eram suspensos na extremidade de um braço metálico longo e curvo, de uma alavanca de ferro, girando em torno do seu ponto de apoio, sobre uma consola de ferro, montada sobre coluna ou frade de pedra, ou nas paredes dos edifícios, tendo no outro braço uma haste de ferro que descia até entrar numa caixa com fechadura que se trancava com uma chave; assim o lampião ficava distante da parede para melhor iluminar a rua; fazia-se descer, para acender, apagar, atiçar, limpar ou introduzir azeite na lâmpada, e depois de novo era elevado ao seu lugar. A iluminação pública a azeite constituiu um sinal de modernidade na cidade de Lisboa renascida da reconstrução pombalina. Abriam-se assim novos horizontes aos espaços públicos de então e à vida de uma capital. Apesar da experiência ter resultado com sucesso neste novo sistema de iluminação publica, o serviço foi suspenso em 1792 devido à falta de financiamento do azeite para os candeeiros, que era feito através de cobranças aos habitantes das ruas iluminadas. Excepto a iluminação particular de muitos palácios da cidade, a capital volta a estar mergulhada na escuridão.
Só passados 10 anos, em 1801, as ruas de Lisboa voltaram a ser iluminadas, novamente com os celebres "candeeiros de cegonha" com os seus lampiões a azeite, para satisfazer a vontade da rainha, depois da subida do número de assaltos e assassinatos durante esse período de trevas. Funcionários da Câmara Municipal de Lisboa (CML), tinham por função diariamente calcorrear ao final do dia, as ruas dos bairros da cidade acendendo um por um os candeeiros e ao raiar do dia apaga-los. O combustível então usado passa a ser o óleo de peixe ou de baleia, que tinha menos poder de iluminação e era muito mal cheiroso. Em 1802 Diogo Inácio de Pina Manique revelava que esperava que chegasse das “colónias” portuguesas (provavelmente o Brasil), para uso na iluminação de Lisboa, o “azeite de baleia e mamona”, referia que estas duas qualidades de azeite não eram tão susceptíveis de “descaminhos” como o azeite de oliveira. A rainha D. Maria I decreta que seja resolvida a questão da iluminação pública, que incluía a expansão de mais ruas, para além daquelas que estariam iluminadas desde 1792 e é criada a Guarda Real da Polícia. Há registo de que em 1834 contam-se em Lisboa 2303 candeeiros, que nem sempre acendem devido à escassez de recursos para manutenção e combustível. A partir de 1834, parece ter sido abandonado por completo o azeite de oliveira na iluminação pública de Lisboa, em prol do azeite de peixe, mas em 1838, a CML coloca um anúncio para arrematação do fornecimento de óleo de purgueira que era produzido em Cabo Verde. No ano de 1840, só para iluminar a cidade de Lisboa existiam 2.328 candeeiros, com lamparinas dotadas de reflectores de cobre para intensificar a luz, que consumiam entre 12.000 a 13.000 almudes de azeite por ano. Este importante beneficio para a cidade de Lisboa foi no entanto mal recebido por ladrões e criminosos que proliferavam e que anteriormente se aproveitavam da escuridão para actuar, por isso, nos primeiros tempos muitos foram os candeeiros que apareceram quebrados e vandalizados por esses amantes das trevas. Mas não deixou, este sistema de iluminação com os "candeeiros de cegonha" dotados dos seus lampiões alimentados a óleos, de estarem presentes em praticamente todos os principais locais públicos da cidade de Lisboa.
Em Portugal, as negociações para a então moderna iluminação a gás iniciam-se em 1835. Várias propostas foram apresentadas à CML desde 1835 a 1846 para efectivar o novo tipo de iluminação. Porém, é de salientar que desde o início de 1840, ainda antes da iluminação da cidade de Lisboa com gás, Joaquim Pedro de Quintela (1801 - 1869), 2º Barão de Quintela e 1º Conde de Farrobo, instala no seu Palácio das Laranjeiras em Sete Rios, os primeiros candeeiros a gás, como sinal de exuberância. Nesta primeira experiência de iluminação a gás com equipamento trazido de Inglaterra, apenas era iluminado o palácio, os seus jardins e o Teatro Thalia ou da Laranjeiras, um pequeno teatro existente na propriedade, o que causou grande espanto à população. É a primeira experiência da utilização do gás de iluminação em Portugal, num período da história em que o Pais está social e politicamente mais calmo. Pelos bons resultados deste novo sistema de iluminação e por influência governamental, em 1846 a rainha D. Maria II (1819 - 1853), autoriza o concurso para a iluminação gás da cidade de Lisboa. Contudo, só em 1848 é atribuída a concessão da iluminação pública de Lisboa à então fundada Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz. Eram accionistas desta companhia o conde de Farrobo e Luiz de Castro Guimarães. Ainda antes da assinatura desta concessão, já em 1847 tinham sido arrendados os terrenos e edifícios na Praia da Boavista, para ai se instalar a fábrica de gás da Companhia. O facto de esta indústria se localizar num dos pontos mais baixos da cidade permitia a subida do gás aos pontos mais elevados da cidade sem o emprego de grande pressão. A proximidade do rio Tejo facilitava a entrada do carvão vindo de Newcastle utilizado na fábrica e favorecia o encaminhamento para o rio dos fumos decorrentes da fabricação do gás, minorando assim o efeito de poluição nas zonas residenciais. Dada a localização estratégica, o carvão era descarregado no então denominado Cais do Carvão, seguindo para as instalações da fábrica, onde era destilado por um processo de retortas, seguindo-se depois as operações de lavagem, arrefecimento, condensação e depuração, antes do armazenamento do gás nos gasómetros. Desde então, esta empresa inicia a produção de gás de cidade, a partir do carvão, na fábrica da Boavista. Foram instaladas canalizações inicialmente com tubagem em material vidrado no subsolo, desde a fábrica de produção de gás até aos pontos da cidade a iluminar, onde era utilizada tubagem de chumbo. Os candeeiros de iluminação pública a gás tinham características diferentes dos anteriores, sendo estes modelos igualmente dotados com lanternas de inspiração francesa. Para além dos candeeiros para parede suspensos em braços de ferro fundido, havia ainda os candeeiros idênticos colocados em postes de ferro e outros assentes com bases em pedra calcaria, colocados nos passeios e nas praças públicas. Este novo sistema de iluminação pública a gás, consistia num bico de queima directa dentro das lanternas. A principal questão da iluminação era o padrão de luz que os diferentes sistemas podiam garantir. Os bicos de queima directa em leque tinham um poder iluminante de 9,60 velas, para um consumo de 150 litros de gás por hora. Nas noites de 29 e 30 de julho de 1848 a população da cidade de Lisboa saiu em massa à rua, para assistir à inauguração da iluminação a gás no Chiado, com os primeiros 28 candeeiros, foi a primeira zona da capital a ser iluminada por este novo sistema, marcando assim um passo gigante na modernização da cidade e da noite. Na noite de 30 de julho de 1848, o Largo dos Remolares no Cais do Sodré, a Rua de São Paulo e a Rua da Boavista foram artérias também pioneiras no projecto de iluminação das ruas de Lisboa com candeeiros a gás. Cerca de 30 candeeiros da Companhia Lisbonense d'Iluminação a Gaz, criada dois anos antes, alumiaram algumas ruas da cidade (além das acima referidas, a Baixa e o Chiado) que depois desta experiência, estendeu-se a outras zonas da cidade. A "Revista Universal Lisbonense", no seu número de 3 de agosto, referia-se aos primeiros dias deste "ensaio da illuminação por meio de gaz" como algo "digno de ver-se"! Este entusiasmo foi tal, que foram elaborados projectos com propostas para o uso de candeeiros em forma de candelabros exuberantes e artísticos, dotados de lanternas com bicos de gás, para a iluminação das Praças do Rossio, futura D. Pedro IV, no entanto não passaram de projectos e candeeiros com lanternas mais simples acabaram por iluminar e dar vida nocturna a estas praças de Lisboa.
Em pouco mais de um ano, a cidade de Lisboa recebe cerca de 400 candeeiros com lanternas funcionado a gás que se misturam, em algumas ruas, com os 2168 candeeiros de iluminação pública no sistema de "cegonha" ainda a azeite. Para além dos modelos de candeeiros standard usados, passam a ser adoptados diferentes estilos de candeeiros e lanternas consoante o local a instalar. A luz do gás era de tom branco, bastante viva, sem fumo, mas o gás tinha um cheiro desagradável. Muitos autores nas suas obras, descrevem o ambiente nocturno da cidade com uma névoa causado pela combustão do gás, e o cheiro, que embora característico para alguns era pesado e até nocivo à saúde, como no caso de Cesário Verde (1855 - 1886). Dos bairros mais pobres da capital, acorrem à Baixa de Lisboa os deslumbrados pelo novo milagre da iluminação. A nova iluminação a gás, fomentou igualmente o aumento dos frequentadores de teatros, de soirées e de passeios nocturnos, nomeadamente no famoso Passeio Público que passa a ter outra vida com a iluminação a gás. Ficou celebre na primeira peça de teatro de Revista representado em Portugal, no Theatro do Gymnasio em 11 de janeiro de 1851, sob o título programático de "Lisboa em 1850", numa rabula em que surgiam os antigos candeeiros de iluminação publica da cidade funcionando a azeite e os modernos candeeiros funcionando a gás. O que marcava a diferença da cidade de Lisboa do passado e da Lisboa moderna de então. Em agosto de 1851, com a chegada do gás, ficaram também célebres as iluminações do Passeio Público, com luminárias exclusivas para o efeito, tendo-se registado a visita de 15612 pessoas em 3 noites. Refira-se que quando havia iluminações no Passeio Público, a entrada era paga, e para que a gente do povo não gozasse o espectáculo de graça, as grades eram vedadas por grandes coberturas de lona. No inicio da década de 1850 é construída uma elevação na fachada da Fábrica de Gás da Boavista, na Rua da Boavista, aprovada pela CML em 16 de maio de 1850, com o objectivo de dissimular este complexo industrial e equipamentos, onde a actividade era cada vez mais intensa. No ano de 1852 existiam na Fábrica de Gás da Boavista cinco gasómetros e dois grupos de fornos, no totalizando 120 retortas, o que permitia fornecer gás a uma grande parte da cidade tanto para a iluminação publica como doméstica. Mesmo durante a fase das terríveis epidemias da Cólera Morbus e da Febre Amarela que assolaram a cidade de Lisboa entre 1856 e 1857, vitimando e afastando muita da população do centro da cidade, era a iluminação a gás, de tom mais claro e vivo, que dava alguma vida às noites soturnas e vazias da capital. Foi este novo sistema de iluminação permitiu que os rituais do dia de trabalho e da noite de descanso se reconfigurassem. Tornou a noite da Lisboa boémia mais democrática, aberta a todas as classes sociais. A Lisboa Queirosiana surge com as suas artérias iluminadas a gás, assim como o famoso Passeio Público, tão bem descritas, de forma realista em detalhe, por Eça de Queirós (1845 - 1900), nos seus romances de intriga e critica social lisboeta, tal como em "A Capital" e "Os Maias". Igualmente outros grandes autores descrevem estes ambientes de Lisboa iluminada a gás como Camilo Castelo Branco (1825 - 1890), em "A Queda de um Anjo". Terá a iluminação da cidade sido pensada mais como uma medida de controlo e afirmação por parte da autoridade do que uma forma de tornar Lisboa mais cosmopolita. No entanto, acabou por possibilitar a experimentação de uma liberdade individual em vez da segurança comunitária para a qual nasceu, uma realidade paralela e marginal ao dia. Os novos candeeiros de iluminação pública, iluminavam a zona central da cidade de Lisboa e a pouco e pouco foram-se estendendo a toda a cidade, chegando às zonas de Alcântara, Junqueira, Belém, Bairro Alto e Patriarcal (actual Praça do Príncipe Real). À época, as luminárias da cidade de Lisboa funcionavam a gás, azeite ou petróleo que entretanto surgira, mais tardiamente em alguns casos. Nas noites seguintes continuava o “alvoroço”, a nova luz "abria a noite", para muitos tinha chegado a Portugal a inovação, para outros era uma nova desgraça que ia arruinar as indústrias do azeite, estragar e esburacar as ruas da cidade.
Entre 1875 e 1877 a Companhia mandou construir na Fábrica de Gás da Boavista uma fachada neogótica, projecto da autoria de João Eduardo Ahrens, que ocultava as instalações da fábrica do lado do Aterro da Boavista. Os candeeiros adoptados para a iluminação pública da cidade de Lisboa, tinham armações de base rectangular em que o sistema (de espalhador) era aceso manualmente pelos serventes da Companhia do Gás, chamados popularmente "vaga-lumes" ou de forma mais depreciativa chamados "caga lume". Estes funcionários, figuras típicas da cidade de Lisboa, inicialmente com chapéu de abas reviradas, mais tarde usando chapéu de pala, batina curta e escadinha ambulante, percorriam as ruas da cidade ao cair da tarde, para acender os bicos de gás da iluminação pública e ao raiar da aurora, repetiam o mesmo caminho, apagando-os. Estas figuras acabariam por fazer parte do imaginário colectivo do quotidiano típico da cidade de Lisboa. Entretanto com o aumento deste novo tipo de iluminação, a distribuição do gás passa a ser feita através de um sistema em rede de canalizações subterrâneas de tubos de ferro. Como a tubagem de distribuição de gás inicial tinha muito desgaste e exigia renovações constantes, entre 1876 e 1877 é substituída parte da antiga canalização de material vidrado, que era muito frágil, por tubagem de ferro fundido. Esta nova tubagem era fornecida por diversas empresas como a Fábrica Perseverança, pela Fábrica Henrique Burnay & Cª, ou ainda a Fundição Vulcano, a Empresa Industrial Portuguesa de Santo Amaro, entre outras. Um dos principais problemas da distribuição de gás iluminante era o amoníaco que continha. A solução encontrada foi a construção no subsolo de poços ligados à rede, para recolher as águas amoniacais prejudiciais à saúde eram periodicamente recolhidas com uma bomba de aspiração manual. De referir como curiosidade que o consumo destas águas amoniacais, ocorrido na época, quer por seres humanos quer até por cães vadios, chegou a causar vítimas mortais. Com o objectivo de iluminar de forma mais intensa algumas das praças da cidade de Lisboa, passam a ser utilizados em algumas das lanternas dos candeeiros de iluminação pública desses espaços bicos de queimadores directos dotados de sistema de difusor intensivo de luz, que consistia na utilização de um vidro prismático sob os queimadores que ampliava a luz irradiada. Melhoramentos nos sistema de iluminação pública importados de França, para estes locais de grande convívio e passeios dos lisboetas. Podiam-se encontrar este novo sistema nos candeeiros da Praça de Camões, Praça dos Restauradores, Praça D. Pedro IV, e Terreiro do Paço, locais de grande movimento e vida social da capital. Nesta altura alargou-se também a rede de distribuição de gás para a zona dos Olivais. Entretanto, as freguesias mais periféricas do centro de Lisboa e Vilas dos arredores como Sintra, eram iluminadas ainda por candeeiros a azeite e mais tarde a petróleo, que aos poucos acabaram por ser substituídos. A iluminação feita a petróleo era mais potente face à iluminação feita a azeite e a ampliação produzida pela chaminé de vidro existente nos candeeiros aumentava o seu poder iluminante, mas não superava a iluminação feita a gás. Este sistema de iluminação pública a petróleo terá sido aplicado primeiro em 1862 e foi usado na capital e seus arredores como até aos anos de 1923 para iluminação de azinhagas e estradas nas zonas mais periféricas da capital.
Coube a um conjunto de empresários lançar este projecto em Portugal, sendo actualmente o gás o mais antigo serviço público privado existente em Portugal. A partir de meados do século XIX o gás de cidade passa a ser consumido inclusive ao nível doméstico, tendo a fábrica da Boavista que aumentar a sua capacidade de fornecimento. Face à inevitabilidade do surgimento de uma companhia concorrente, em 1887 é criada a Companhia Gaz de Lisboa. Nesse mesmo ano a Câmara de Lisboa realizou um concurso para a total iluminação a gás da cidade. O contrato foi atribuído à "Societé d’ Éclairage du Centre" que criou para esse fim uma nova companhia, "Gaz de Lisboa". Em 1888, iniciaram-se os trabalhos de construção da nova fábrica de gás em Belém dotada de um novo gasómetro telescópico, isto após o fracasso da fusão com a companhia "Lisbonense de Iluminação a Gaz", instalada na Boavista. Apesar da localização junto à Torre de Belém ter sido fortemente contestada na época, surgindo até movimentos contra em 1888 e publicações com fortes criticas, algumas com caricaturas da autoria de Raphael Bordallo Pinheiro (1846 - 1905), alusivas à questão. No entanto foi sempre alegado e defendido que a sua proximidade ao rio era indispensável para a descarga de matéria-prima. Um ano depois, esta empresa constrói a sua fábrica em Belém, com uma dimensão ligeiramente maior que a fábrica da Boavista da sua concorrente, que se manteve me actividade até tarde. O terreno tinha 38 600 m2 cedidos pela CML, mediante renda, além de 4000 m2 comprados à Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes. Devido aos efeitos da concorrência, a Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz e a Companhia Gaz de Lisboa fundem-se, em 1891, passando a designar-se Companhias Reunidas de Gás e Electricidade - CRGE. Inicia-se, assim, um ciclo de produção de gás de cidade, igualmente conhecido como gás iluminante, que vem beneficiar a população, melhorando as suas condições de vida em vários níveis. Com o prolongamento da Linha de Cascais e a construção do porto de Lisboa, é construído um ramal para o transporte do carvão via caminho de ferro para as instalações desta fábrica. Será em 1896, por acordo entre a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes e a Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz e a Companhia Gaz de Lisboa, a então já CRGE, que todas as estações da Linha de Cascais passam a dispor de fornecimento e instalação de iluminação com bicos incandescentes a gás nos seus edifícios e plataformas de embarque. No início do século XX, passam os primeiros bicos de gás a ser substituídos por um novo sistema de camisa rígida incandescente sistema Auer Welsbach. Estas camisas eram feitas de uma rede de fios de algodão, embebida em óxido de magnésio, a qual incandescia, atingindo rapidamente o rubro-brando e produzindo uma luz muito clara. Eram protegidas por uma chaminé de vidro dotada de orifícios de ventilação, chaminés estas que ampliavam igualmente a luz produzida. Com a instalação deste novo sistema de iluminação em 1909, a CML racionalizou as despesas relativas eléctricas e a gás, melhorando assim a iluminação pública em geral. Este sistema de iluminação garantia um poder iluminante de 38,4 velas para um consumo de 80 litros de gás, menos de metade do preço do sistema anterior de queimadores directos. Sistema este que passa a ser utilizado tanto na iluminação pública como na privada domestica. Apesar do novo sistema a gás iluminante, muitos dos candeeiros da iluminação pública, em algumas artérias de Lisboa, continuaram a usar os antigos queimadores directos. As noites nas ruas da capital ganhavam outra vida com esta claridade artificial como quase de luz do dia se trata-se. Os locais de entrada e saída dos "carros americanos" e mais tarde eléctricos da CCFL (Companhia Carris de Ferro de Lisboa), situavam-se junto aos postes de candeeiros da iluminação publica e distinguiam-se pela cor diferente assim como a indicação de "PARAGEM" nos vidros das lanternas, visíveis durante a noite. Aos poucos, até algumas localidades mais limítrofes da cidade de Lisboa passaram a ter iluminação publica a gás com o novo sistema incandescente, como o Lumiar, a Alameda da Linhas de Torres, Benfica, em especial a Estrada das Garridas, muito utilizada à época para acesso às localidades em redor desta freguesia de Lisboa. Igualmente o gás de iluminação chega a zonas mais periféricas da cidade de Lisboa como a Porcalhota, actual cidade da Amadora, Queluz, Belas, Vilas Sintra e Cascais. Seria a cidade de Lisboa a primeira em Portugal a ter gás de iluminação, seguindo-se outras cidades, entre elas, Matosinhos, Évora, Aveiro, Setúbal, Braga, Leiria, Santarém, Porto… O gás na iluminação pública foi rei e senhor da cidade durante a segunda metade do século XIX. No início do século XX, a fábrica de gás em Belém suscita novamente a indignação pública pelo facto de estar situada junto à Torre de Belém, um monumento de beleza e interesse histórico. Como resposta a essas manifestações públicas, dá-se a deslocação dos dois gasómetros para um local mais afastado, para Vila Correia, onde permanecem activos até 1954.
A iluminação eléctrica seria uma das grandes invenções e novidades do século XIX. A primeira instalação conhecida de iluminação pública eléctrica em Portugal, foi feita com seis candeeiros com lâmpadas Jablochkoff (sistema de lâmpada de arco eléctrico), importados de Paris, idênticos aos que iluminavam a Praça da Ópera. Este sistema era formada por uma máquina geradora Gramme accionada por um motor a vapor. Todo o material eléctrico foi encomendado pelo rei D. Luiz I (1838 - 1889), habitual comprador de novidades técnicas e científicas. Era um tipo de lâmpadas formada por dois eléctrodos de carvão paralelos e justapostos, separados a uma pequena distância por uma substância isolante, encerrados em globos de vidro opalino. O arco eléctrico produzido quando os dois eléctrodos se aproximavam produzia uma luz branca, intensa, encandeaste, e mais duradoura, apesar do ligeiro ruído produzido pelo arco eléctrico. Um tipo de iluminação aconselhável para grandes espaços públicos. Estes candeeiros dotados com este tipo de lâmpadas, foram utilizados pela primeira vez no dia 28 de setembro de 1878, aquando das festas do 15º aniversário do príncipe D. Carlos (1863 - 1908), na Cidadela de Cascais. Por curiosidade, surgiram alguns percalços nesta experiência, o gerador adquirido para alimentar as lâmpadas colocadas na via pública avariou e foi necessário o empréstimo à última hora de equipamento de substituição por um navio inglês que estava fundeado ao largo de Cascais… Mas, à hora marcada e para gáudio e felicidade de Portugal, lá se acenderam as lâmpadas dos candeeiros e o Passeio junto à Cidadela, ali mesmo no coração de Cascais, transformou-se no primeiro lugar de Portugal a ser iluminado por electricidade! De Lisboa, eram feitas excursões em família para ver os então modernos candeeiros que funcionavam a electricidade, sem chama e que já não deixavam um cheiro desagradável no ar como a iluminação a gás. Este evento Real foi o grande impulso para electrificar Portugal e com isso os portugueses ficaram entusiasmados com a novidade. Foram depois estes candeeiros oferecidos pelo rei D. Luiz I, à Câmara Municipal de Lisboa e ligados na Praça de Camões no Chiado em 30 de outubro desse ano, onde se mantiveram a par com a iluminação pública a gás. A electricidade, antes do seu uso intenso, vai mudar a feição da cidade de Lisboa, nos cem anos seguintes. Foi preciso esperar alguns anos, até 1887, para que a Câmara Municipal de Lisboa celebrasse um contrato para a electrificação da Avenida da Liberdade e da Praça dos Restauradores com um novo modelo de candeeiros de lâmpadas de arco eléctrico. Um sistema de iluminação em tudo idêntico ao anterior já experimentado apenas dotado de um sistema mecânico que permitia a ignição dos dois eléctrodos de carvões paralelos e justapostos. Tal ocorreu em maio de 1889, quando a iluminação eléctrica foi instalada de forma definitiva na Praça dos Restauradores, na Avenida da Liberdade, Praça D. Pedro IV (Rossio), Rua do Ouro, Chiado e Praça do Município. Este processo de instalação de iluminação pública com sistema eléctrico foi-se verificando gradualmente até ao inicio do século XX nas principais artérias e Praças da capital. Das pequenas centrais de produção de electricidade, passa-se à primeira fábrica, em plena Avenida da Liberdade (no local onde hoje está o edifício do Hotel Victoria) e revela já a importância excepcional dos recentes candeeiros de iluminação pública de arco eléctrico. De referir que o sistema eléctrico nesta época era de Corrente Continua. Apesar de tal inovação, alguns candeeiros de iluminação pública a gás em Lisboa operavam ainda em alguns bairros e praças da capital. Ainda fazia parte do quotidiano da cidade de Lisboa verem-se os funcionários da Companhia do Gás, os "vaga lumes", nas suas funções diárias de acender e apagar os bicos de gás e fazer a manutenção dos candeeiros ainda existentes. Muitas vezes quando surgiam avarias nos candeeiros ou no sistema de distribuição de gás, a iluminação era subsistida nesses locais por iluminação a petróleo. Em 1902, a CRGE (Companhias Reunidas de Gás e Electricidade) estende a toda a cidade de Lisboa a iluminação eléctrica. Constituída a partir da fusão da Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás e da Companhia Gás de Lisboa, em 1891, a Câmara Municipal de Lisboa havia-lhes concedido o direito de; "produzir, distribuir e vender gás e electricidade destinada à iluminação pública e particular e a outros usos domésticos e industriais na área municipal da cidade de Lisboa". Quando pensamos no processo de electrificação do país, rapidamente poderemos associar a iluminação dentro de casa, mas o primeiro passo deu-se na rua, com a iluminação pública. A CRGE, por acordo estabelecido, ficou obrigada a manter estes candeeiros de arco eléctrico acesos até à uma hora da manhã, sendo depois apagados e ficando apenas a iluminação a gás acesa até ao raiar do dia. Será a partir de 1902, com a generalização da electricidade, que são colocados novos candeeiros em determinados pontos da cidade de Lisboa. Na capital até pelo menos 1903, a iluminação pública eléctrica resumia-se a 38 candeeiros de lâmpadas sistema de arco eléctrico, colocados na Avenida da Liberdade e Praça dos Restauradores. Foram contemplados com essa inovação o Chiado, Rossio, Praça do Comércio e em algumas placas centrais das Avenidas Novas, a então Rua 24 de Julho, actual Avenida 24 de Julho até à Praça Afonso de Albuquerque em Belém. Era comum por vezes colocarem estes novos candeeiros de iluminação eléctrica ao lado dos velhos candeeiros de iluminação a gás. Utilizando os dois sistemas em simultâneo, cuja diversa gramática decorativa dotava a cidade, nesses pontos, de um ecletismo formal e singular. Igualmente a Vila de Sintra, que dispunha de candeeiros de iluminação pública a gás e petróleo nas suas artérias, instalados em finais do século XIX, a partir de 1904 passa a dispor de iluminação pública eléctrica. A então Companhia Cintra ao Oceano, que iria construir a linha de carros eléctricos de Sintra à Praia das Maçãs, após a conclusão da linha, disponibilizou-se para instalar a iluminação eléctrica nas localidades entre Sintra, São Pedro a Colares. Para isso a energia era fornecida por dínamos montados pela Westinghouse, instalados na zona da Ribeira de Sintra, accionados por máquinas a vapor construídas pela empresa de Berlim Franz Scheiffer, cada uma com 450 cavalos e alimentadas por caldeiras multitubulares da casa Belleville, de Saint Denis. As lâmpadas eléctricas vão a partir de então, iluminar as noites desta peculiar Vila dos arredores de Lisboa, com este moderno sistema de iluminação pública, algumas instaladas em luminárias de postes de ferro fundido, alguns ainda hoje existentes no jardim da Correnteza, fornecidos pela Casa Barros Queiroz. Esta Companhia iria ser a detentora do fornecimento de energia eléctrica à Vila de Sintra até finais da década de 20 quando a CRGE passou a ser detentora da distribuição geral. Depois da pompa de acender os primeiros candeeiros eléctricos em Cascais, o fascínio pela electricidade continuava a crescer e, no final do século XIX e início do século XX, surgem as primeiras empresas de produção e distribuição de energia eléctrica privadas na cidade de Lisboa:
1891 - Companhias Reunidas Gás e Electricidade (CRGE)
1903 - Central da Boavista
1908 - Central do Ouro
1909 - Central do Desterro
1914 - Central Tejo
1919 - União Eléctrica Portuguesa
Na cidade de Lisboa, depois de várias pequenas centrais que foram construídas, começou a construção da Central Tejo ou da Junqueira em Belém, de maiores dimensões e mais potente. Os primeiros edifícios construídos em 1909, que já não existem, constituíam a primitiva Central Tejo que se manteve a trabalhar até 1921. Foi desenhada e projectada pelo engenheiro Lucien Neu e a sua construção ficou a cargo da firma Vieillard & Touzet (este último, Fernand Touzet, discípulo de Gustave Eiffel). Dadas as necessidades, as instalações da central foram crescendo sucessivamente consoante as necessidades e de mais maquinaria, as naves das caldeiras de baixa pressão começaram a ser construídas em 1914, no início da Primeira Grande Guerra Mundial e foram concluídas em 1930, até chegar ao ponto de alimentar os concelhos à volta de Lisboa. Mesmo assim, o desenvolvimento económico e social do país parecia não permitir o crescimento da energia eléctrica, apesar de o debate sobre a produção de hidroeletricidade conquistar posição. Entretanto Thomas Alva Edison (1847 - 1931), responsável pelo desenvolvimento do primeiro modelo de lâmpada eléctrica incandescente comercial, com pequenas dimensões, simbolizava um meio pratico e barato de gerar e distribuir luz eléctrica, calor e energia. Já em 1879, ele tinha realizado uma experiência usando um bulbo de vidro a vácuo com filamento de carvão, que ficava isolado dentro do bulbo, evitando a combustão. O filamento era aquecido a ponto de emitir luz, mas a luz emitida era avermelhada, fraca e de pouca durabilidade. Este tipo de lâmpada foi melhorado com o uso de várias ligas metálicas mais duráveis e de maior luminosidade que o carvão até chegar ao uso do tungsténio. As novas lâmpadas eléctricas de incandescência seriam inicialmente comercializadas para uso doméstico, só mais tarde se faria a sua utilização na iluminação pública. Foi um sistema muito mais prático e revolucionário neste tipo de iluminação. A cidade de Lisboa e seus arredores não seriam excepção ao seu uso na iluminação pública, mas muitas seriam ainda as artérias da cidade que continuariam até muito tarde a ser iluminadas a gás com o sistema de manga incandescente a par com a iluminação pública eléctrica. A CRGE dominava toda a produção de gás, electricidade e comercialização de produtos e de equipamentos na região de Lisboa. As duas fábricas de gás à época, a da Boavista e Belém, produziram em conjunto, todo o gás consumido na cidade de Lisboa e arredores até 1914. Após uma violenta explosão na casa das caldeiras ocorrida na fábrica de gás da Boavista no dia 10 de outubro de 1914, que causou 18 vitimas mortais e cerca de 60 feridos, é considerado o perigo desta industria numa zona densamente povoada da cidade o que dita o encerramento deste unidade de produção de gás em Lisboa. A maior situação de crise da iluminação pública vivida num aspecto da vida das ruas que gradualmente se foi tornando comum, foi a que se viveu durante os anos de 1917 a 1921. Em Lisboa a supressão mais inesperada dá-se em 1917 quando de súbito a iluminação a gás é cortada alegando-se as dificuldades no abastecimento da matéria prima, o carvão, fundamental à indústria que a fornece à Câmara Municipal.
Os poucos candeeiros de iluminação pública a gás que restaram na cidade de Lisboa, passam a ser adaptados com um novo sistema de mangas incandescentes de menores dimensões mas com mais poder de iluminação que os anteriores. Para dar manutenção e manter o funcionamento destes candeeiros, ainda era possível ver os funcionários Companhia de gás, os famosos e populares "vaga lumes" nas suas tarefas diárias de acender e apagar os candeeiros pelas ruas da cidade, profissão que brevemente deixaria de fazer sentido. O processo mais vasto e rápido de substituição da iluminação pública a gás da cidade de Lisboa, que aliás não conduziu a uma extinção total, dá-se entre 1928 e 1929, quando as lâmpadas eléctricas de incandescência metálica. Nos bairros mais típicos mantiveram-se os antigos candeeiros com lanternas de ferro fundido, outrora funcionando a gás mas agora providos de lâmpadas de incandescência eléctrica e instalação eléctrica adaptada para o efeito pelo exterior. Por curiosidade, nestes bairros mais típicos da capital, como Alfama, alguns dos candeeiros de iluminação pública mesmo a funcionar a electricidade, devido à adaptação, eram acesos por um funcionário e pagados, à semelhança do sistema antigo de gás. Alguns dos candeeiros de poste em ferro fundido são adaptados com um sistema de armaduras apropriado para receber as lâmpadas de incandescência eléctrica características deste período, como o designado "bico de pato", "o aro", etc.. Também muitas das localidades dos arredores da capital passam a dispor de iluminação pública eléctrica com a adaptação dos antigos candeeiros a gás ao novo sistema. Neste período os novos candeeiros eléctricos para iluminação pública de Lisboa em poste metálico, dispondo de globos designados de new-lux, vulgarmente apelidados de "cabeça de nabo" e os apelidados "limões" de inspiração norte-americana, no início em vidro e mais tarde em material plástico, substituem assim milhares de lanternas e bicos de gás existentes em muitas artérias e praças de Lisboa. Muitos dos antigos candeeiros em poste de ferro fundido, que funcionavam a gás, passam a dispor igualmente destes globos new lux. Os candeeiros tradicionais de iluminação pública que se mantiveram, com as suas típicas lanternas em ferro, ficaram muito associados, até à actualidade, aos bairros históricas da capital e ao fado, em numerosas situações com ele relacionado, muitas vezes descritas e imortalizadas com "à luz de um candeeiro". Com o aumento da potência eléctrica, para além da evolução dos tipos de candeeiros também as fontes luminosas utilizadas evoluíram. Desaparece o "vaga-lumes" da maioria das ruas da capital, passando o sistema a funcionar com temporizadores ajustáveis. Em 1928, fica estabelecido no novo contrato de concessão que, num futuro próximo, a fábrica de gás vai ser novamente deslocada. Esse processo inicia-se em 1934, altura em que é definido como local ideal para a construção da nova fábrica um espaço na margem do Tejo junto à Quinta da Matinha, próximo à Refinaria de Cabo Ruivo, as condições em 1945, segundo publicidade da época, são já exemplares. Durante o processo de construção da Fábrica da Matinha, toda a produção das "Companhias Reunidas de Gás e Electricidade" é garantida pela fábrica de Belém, que só termina a sua laboração em 6 de setembro de 1949. Entretanto o sistema de Corrente Alterna passa a dominar para o uso doméstico. Em 1933, surge em Portugal a primeira fábrica de lâmpadas eléctricas de filamento, a marca Lumiar, que produz lâmpadas para a iluminação doméstica e pública, rivalizando com as marcas internacionais.
Os diferentes modelos de candeeiros de iluminação pública dotados de lâmpadas eléctricas de incandescência, implementados no final dos anos 20, começam a surgir nas diversas artérias e praças da cidade durante a década de 30, substituindo em alguns casos as antigas lanternas em ferro fundido dos candeeiros a gás. Desde finais dos anos 30 e início dos anos 40, houve uma preocupação por parte das entidades competentes com a qualidade de luz dos candeeiros de iluminação pública e das fontes de luz da capital, de forma a satisfazer o aumento da intensificação da circulação quer de veículos quer de pões. O aumento da potência eléctrica também permite o uso de fontes de luz mais potentes. As versões de candeeiros de iluminação pública que foram utilizadas na Exposição do Mundo Português em 1940, em postes metálicos de grandes dimensões, dotadas de lanternas reflecto-difusoras, que se mantiveram na Praça do Império, eram inovadores e diferentes do que até então Lisboa tinha visto. Assim surgem modelos em que a luz dos focos luminosos é dirigida através de dispositivos ópticos adequados à difusão da luz por forma a não ofuscar os condutores de veículos automóveis. Surgem para isso modelos de lanternas especificas, as reflecto-difuoras e reflecto-reflectoras, consoante o local e a especificidade. Os modelos de candeeiros de iluminação pública passam a dispor de colunas mais altas e de materiais diferentes, como o metal e o betão, mudando consideravelmente o aspecto das zonas urbanas que servem. Ainda assim foi frequente assistir aos blackouts e como tal ver a cidade de Lisboa às escuras em 1943, durante os exercícios de medidas levados a cabo perante as ameaças de ataques aéreos durante a Segunda Guerra Mundial. Alguns recantos dos bairros mais antigos e populares de Lisboa ainda mantinham a iluminação a gás com o sistema de mangas de incandescência, muitos foram os grandes fotógrafos da época que nos seus registos de arquivo dessa Lisboa antiga e prestes a desaparecer, os guardaram para a posteridade. Nos finais da década de 40 e ao longo das décadas de 50 e 60, entre as famílias lisboetas, sair de casa à noite para "ir ver as montras" como se dizia, era ritual comum. Na época do Natal então, iluminações decorativas com muita cor e movimento, animavam ainda mais as ruas da cidade. Todos estes modelos de candeeiros dotados de globos new-lux, que se tornaram igualmente típicos desde os anos 30, foram largamente utilizados em quase toda a cidade de Lisboa e arredores, iluminando artérias, importantes praças e jardins. Até finais dos anos 40 e no período do pós Segunda Guerra Mundial, a cidade de Lisboa, os seus arredores e até outras cidade do Pais, são dotadas de novos e modernos sistemas de iluminação pública e respectivos postes de suporte dos candeeiros. Surgem igualmente neste período diversos modelos de postes de suporte em especial os de betão com mistura de brita, que passam a dominar muitas das paisagens urbanas. A preocupação esta cada vez mais no aumento da potencia e na qualidade da luz, consoante os locais, ruas, avenidas da cidade de Lisboa, com mais ou menos movimentos, jardins e zonas habitacionais a iluminar.
Nas principais artérias da Baixa lisboeta e Chiado no início da década de 1950, são adoptados dois tipos de modelos de candeeiros de iluminação pública em forma de lanternas suspensas por um braço, muito decorativo em ferro forjado, ostentando o símbolo da CML, de características muito clássicas, que até hoje fazem parte dessas artérias. O uso desta técnica do ferro forjado na concepção de candeeiros de iluminação pública, é utilizado em mais modelos de candeeiros de parede e poste na cidade de Lisboa. De notar que estes modelos de candeeiros são colocados numa posição mais elevada, relativamente aos anteriores, de forma a aumentar o poder de iluminação e devido à potência das então modernas lâmpadas utilizadas, as lâmpadas de vapor de mercúrio. Desde finais da década de 40 e início da década de 50, surge a utilização das lâmpadas de vapor de mercúrio na iluminação pública da cidade de Lisboa e arredores, em substituição das antigas lâmpadas de incandescência. A lâmpada de vapor de mercúrio, possui gotas de mercúrio no seu interior. No entanto, quando está em funcionamento, este componente é vaporizado a altas pressões. Como o processo de accionamento desta lâmpada ocorre de forma lenta, devido ao aquecimento gradual do meio interno para a vaporização do mercúrio, a sua luminosidade aumenta graduadamente e apenas estabiliza após algum tempo. Este tipo de lâmpada tinha a vantagem de aquecer menos e assim, dissipar menos energia em forma de calor para o ambiente. Convém mencionar ainda que este dispositivo emite uma luz de aparência branca-azulada. No inicio das década de 1950, um novo estilo arrojado e único de candeeiros de iluminação pública em poste metálico dotado de lâmpadas de vapor de mercúrio, surge no mobiliário urbano nas avenidas laterais da zona ajardinada central do Parque Eduardo VII, segundo o projecto do arquitecto Francisco Caetano Keil Coelho do Amaral (1910 - 1975). Apesar destas inovações técnicas que foram surgindo, a iluminação a gás perdurou nas ruas de Lisboa até 1965, ano em que foram substituídas as últimas luzes a gás pela electricidade no Bairro Alto, Bairro de Santa Catarina e na zona do Campo de Santana. Aos poucos as tradicionais lanternas em ferro fundido do tempo da iluminação a gás de Lisboa são convertidas para sistema eléctrico por algumas oficinas que recebem essa empreitada como a Francisco Máximo de Almeida em Pedrouços, entre outras. Devido às mudanças das fontes de iluminação passam algumas das famosas e típicas lanternas dos candeeiros de iluminação pública a ser dotadas de vidros foscos para melhor difusão da luz, outras no entanto mantêm o seus aspecto típico com vidros translucidos. A cidade de Lisboa e os novos bairros que vão proliferando um pouco por todo o lado, nomeadamente nos seus arredores, começam a apresentar um aspecto moderno muito idêntico ao que se via pelo resto da Europa. Com a evolução dos tempos e das tendências estéticas, muitos destes candeeiros dos anos 30 e 40 do século XX foram desaparecendo do quotidiano da cidade e dos seus arredores, dando lugar a outros modelos, sempre adaptados às situações e locais a iluminar. No sentido de melhorar as condições dos espaços públicos, no caso especifico da cidade de Lisboa, por forma a adaptar às necessidades dos novos tempos, muito foram e continuam sendo os estudos e projectos apresentados pela CML aos longo das décadas. Desses estudos e projectos o mobiliário urbano está incluído, do qual fazem parte os candeeiros de iluminação pública, nesse sentido muitas propostas foram apresentadas, algumas das quais não passaram de projectos por falta de viabilidade, etc. Num desses projectos apresentados, em meados dos anos 60 é adoptada uma nova versão de candeeiros de iluminação pública para as zonas ajardinadas da Avenida da Liberdade, com inspiração clássica e revivalista, fazendo lembrar de certo modo as antigas lanternas dos candeeiros do tempo do Passeio Público no século XIX, em substituição dos anteriores candeeiros de globo tipo "limão" de finais dos anos 20. Estes candeeiros mantiveram-se e passaram a ser um ex-libris até à actualidade desta zona da cidade de Lisboa. Com a inovação tecnológica das fontes de iluminação, surgem no início dos anos 70 as lâmpadas de vapor de sódio na iluminação pública de Lisboa, eram lâmpadas de descarga cuja luminescência era produzida por um vapor de sódio. Exteriormente idênticas, distinguimos entre as lâmpadas de vapor de sódio de baixa pressão, que emitem uma luz de cor amarela, e as lâmpadas de vapor de sódio de alta pressão, ligeiramente mais alaranjadas. Este tipo de lâmpadas foram desenvolvidas com o objectivo de superar o rendimento das lâmpadas conhecidas e melhorar a iluminação pública de um modo geral. Aos poucos e até meados dos anos 70, este tipo de iluminação foi sendo implementado em alguns candeeiros de iluminação pública da cidade de Lisboa e seus arredores, dependendo da localização dos pontos de luz. Os dois sistemas de iluminação pública, utilizando lâmpadas de mercúrio e de vapor de sódio, vão manter-se a par por alguns anos, quer na cidade de Lisboa e arredores, quer em praticamente todo o Pais devido à sua eficácia e qualidade de iluminação.
Nos últimos tempos temos assistido a mais uma inovação tecnológica nos sistemas de iluminação, e uma vez mais a iluminação pública das grandes urbes e seus arredores, em especial a cidade de Lisboa, tem projectos de adopção desses novos sistemas. Assim, actualmente com os novos sistemas de tecnologia luz LED (sigla do inglês Ligth Emitting Diode), já tão vulgarizados, procura-se adaptar a iluminação dos espaços da cidade com um tipo de luz adequado, de tonalidade mais quente ou fria, isto dependendo se é uma zona histórica, zona verde, pedonal ou de maior trânsito rodoviário. A Câmara Municipal de Lisboa optou por LEDs branco quente 27000K, que contribuem para um ambiente extremamente confortável. A iluminação pública com a tecnologia LED permite a redução directa em cerca de 50% do consumo de energia e baixar drasticamente os custos com as avarias, devido à sua elevada fiabilidade e durabilidade. A superior qualidade da iluminação com com tecnologia LED permite reduzir o ruído luminoso nas cidades e melhorar o nível de iluminação nocturna, permitindo a captação de imagens nítidas e oferecendo um aumento de segurança. Os candeeiros de iluminação pública são um dos elementos mais significativos na paisagem urbana, uma paisagem que funciona 24 horas e que requer iluminação. Nos serviços de gestão da iluminação pública da CML, já existe um plano de inventariação de todo o material existente, que revelou a multiplicidade e variações dos elementos de iluminação pública em Lisboa. A implementação de um tipo de iluminação “normalizada” na cidade, pela CML, para as várias tipologias de espaço público e estrutura verde, facilitará a gestão e planeamento pelos serviços municipais. Apesar de nas zonas mais recentes se instalarem modelos de candeeiros de design moderno, já com a tecnologia LED, tem-se adaptado este novo sistema, como se fez no passado, aos diversos modelos antigos já existentes. Desta forma nas zonas mais antigas da cidade tenta-se manter os tradicionais e icónicos candeeiros com lanternas em ferro fundido, quer de braço quer de poste, outrora funcionando a gás, mas agora funcionado com tecnologia LED, voltando estes a possuir vidros translucidos como inicialmente. Igualmente o mesmo acontecendo com os típicos candeeiros com globos new-lux ou "cabeça de nabo" dos anos 20 e 30 do século XX, que se mantêm. Desde outubro de 2009, a CML deu inicio à substituição da iluminação convencional na Alameda Edgar Cardoso no Parque Eduardo VII e no Jardim Amália Rodrigues por iluminação tecnologia LED. Em 2017 calculou-se que havia 3 milhões de luminárias em Portugal, das quais 5% utilizavam a tecnologia LED. A EDP Distribuição estimava, em julho de 2019, ter mais de 600000 luminárias LED no continente português até ao final do ano, perfazendo cerca de 20% do número de focos de iluminação pública. A autarquia de Lisboa tem, aliás, levado a cabo um longo processo de substituição de sistemática das tradicionais lâmpadas pelas de tecnologia LED, de maior eficácia na iluminação e no consumo. Prevê-se que, até 2021, metade dos candeeiros de iluminação pública da cidade de Lisboa e arredores, assim como por todo o Pais, tenham sistema de iluminação tecnologia LED. Também já é recorrente nas novas instalações de iluminação em Lisboa, os responsáveis optarem por sistemas de controlo inteligentes que lhes permitam o controlo e gestão remota das luminárias que vão sendo instaladas. Hoje não conseguimos imaginar Lisboa sem iluminação pública nocturna e ao longo dos tempos muitos modelos de candeeiros, que fazem parte do mobiliário urbano, têm sido aplicados nas diversas avenidas, ruas, praças, edifícios e monumentos consoante as estéticas, necessidades e localização. Recentemente houve a preocupação e o cuidado por parte da autarquia de Lisboa, em colaboração com empresas privadas, de voltar a instalar candeeiros de iluminação pública clássicos na Praça do Comércio. A iluminação tradicional naquele que é o local da cidade de Lisboa mais recheado de factos históricos considerado a "sala das visitas" da cidade. Estes candeeiros em postes metálicos dotados de lanternas clássicas com tecnologia LED, rodeiam a Estátua Equestre de D. José I, e foram colocados seguindo a filosofia da CML de manutenção e recuperação deste importante legado histórico e cultural. Sair para a escuridão da noite deixou de ser um problema porque essa escuridão, simplesmente, já não existe. As mudanças na história da iluminação são imprescindíveis para a compreensão do quotidiano das populações. Sempre que todas as noites se acende a iluminação pública da cidade de Lisboa e arredores, uma longa história está por de trás desse simples acto.
Texto:
Paulo Nogueira
Fontes e bibliografia:
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BENEVIDES, Francisco da Fonseca, Memória sobre o poder iluminante de algumas substâncias, Imp. Nacional, Lisboa, 1874
DUARTE, António Soares, Indústrias de iluminação, Biblioteca de Instrução Profissional, Lisboa, 1900
CÂNICO, Francisco, Aspectos de Lisboa do Sec. XIX, Instituto de Coimbra, e do Instituto Português de Arqueologia, 1939
FERNANDES, Abílio, A Iluminação Pública in Mariano e Simões, Lisboa e a electricidade, EDP, Lisboa, 1992
DIAS, Marina Tavares, Lisboa Desaparecida, vol. 4, Quimera Editores, Coimbra, 1994
NOGUEIRA, Carlos, LACERDA Manuel, Lisboa em movimento: 1850 - 1920, Um projecto do Departamento de Intervenção Urbana da Sociedade Lisboa 94, Livros Horizonte, Lisboa, 1994
NORTON, José, O Milionário de Lisboa, 2ª edição, Livros d'Hoje, Publicações Dom Quixote, Alfragide, 2009
RNAE, Associação das Agências de Energia e Ambiente - Eficiência Energética na Iluminação Pública, 2011
Gostei imenso de ler!!
ResponderEliminarMuito interessante.!!
É extenso, mas mostra bem, por quantas etapas difíceis, Lisboa chegou, aos dias de hoje, com uma iluminação brilhante.
Obrigado Paulo pela partilha 🙏 deste belíssimo trabalho, com bonitas imagens elucidativas!!
MUITOS PARABÉNS 👏👏👏👏
Muito obrigado pelo seu comentário Isabel Vieira Mendonça e pelo interesse neste artigo.
EliminarFoi um trabalho de investigação exaustivo, quer de texto quer de imagens de cada época e sistemas usados através dos tempos, mas que demonstra bem a evolução a que muitos de nós, alguns, assistiu na cidade de Lisboa e seus arredores, de como da noite se fez, e ainda se faz dia...
Muito interessante!!!
ResponderEliminarÉ extenso, mas mostra bem, todas as etapas e dificuldades , que Lisboa, passou, até aos dias de hoje, para podermos benificiar de uma iluminação brilhante.
Obrigado pela partilha!!
Um maravilhoso trabalho de história, com bonitas imagens bastante elucidativas.
Muitos Parabéns 👏👏👏
Impressionante este artigo!! É uma tese muito bem elaborada sobre Lisboa e a sua história. Amor maior a Lisboa não há. Parabéns!
ResponderEliminarMuito obrigado pelo comentário e pelo interesse despertado em ler este artigo.
EliminarEntre outras motivações que me fizeram elaborar este artigo e o interesse no tema, está sim o amor maior a Lisboa, é incondicional.
No entanto existe como se pode comprovar, uma longa história por detrás de algo tão simples aparentemente como é a iluminação dos espaços públicos.
excelente artigo, muito obrigado pela partilha.
ResponderEliminarMuito obrigado pelo comentário e pela leitura do mesmo.
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