Diz-se que errar é humano e o ser humano sempre cometeu erros, sem os erros, certamente não chegaríamos aos acertos. No entanto existem erros que ficam para a história. Seja um simples erro doméstico, a um erro no mundo do desporto, que pode levar a uma derrota, um erro a nível profissional ou técnico, que pode levar a uma verdadeira tragédia, outros erros resultaram em grandes descobertas quer a nível científico quer a nível de sucessos nas artes e letras. Ao longo da história da humanidade ocorreram vários erros com marcas, algumas profundas, que ficaram até aos nossos dias. São alguns desses erros mais marcantes da história da humanidade que aqui vão ser brevemente recordados.
"O ser humano não pode deixar de cometer erros; é com os erros, que os homens de bom senso aprendem a sabedoria para o futuro."
PLUTARCO
Misteriosa inclinação da Torre de Pisa
A Torre de Pisa, foi projectada ao que se julga pelo arquitecto Diotisalvi, para ser o campanário independente da Catedral de Pisa, localizada na Toscana, centro-oeste da Itália. Esta torre é uma obra de arte construída em mármore branco, realizada em três fases ao longo de um período de cerca de 177 anos. Tendo sido iniciada a sua construção em 9 de agosto de 1173, destinada a ficar na vertical, a torre começou a inclinar-se para sudeste logo após o início da construção, com a progressão de construção para o terceiro andar em 1178, devido a uma fundação mal construída e a um solo de fundação mal consolidado. No entanto, o verdadeiro problema foi o tipo de solo onde foi erigida, que por ser constituído essencialmente de areia e argila, não teria firmeza suficiente para sustentar uma obra daquela dimensão. Conclusão, parte do terreno começou a afundar, levando consigo as fundações da torre. Isto deveu-se a uma fundação de meros três metros sobre um subsolo fraco e instável, um projecto que falhou desde o início. De forma a tentar disfarçar a inclinação, o engenheiro encarregue do projecto apareceu com uma ideia genial, achou ele. Só que não. Ao tentar construir os restantes cinco andares ligeiramente mais altos do lado em que a torre afundou, compensando a altura perdida com o afundamento, conseguiu apenas que o excesso de peso enterrasse ainda mais o edifício. E assim ficou, apesar das várias tentativas pra resolver o problema, levadas a cabo ao longo dos séculos. Em 1198 os relógios da torre foram temporariamente colocados no terceiro andar da construção inacabada. Devido a este contratempo, a obra demorou cerca de 150 anos a ser concluída, tendo passado pelas mãos de três engenheiros, Bonanno Pisano (1170 - ?), que construiu os três primeiros andares, Giovanni di Simone que a elevou até ao sexto andar e Tommaso Pisano, que a concluiu em 1319. Ao longo de séculos foram feitas uma série de intervenções no solo, a inclinação da torre progrediu cerca de vinte centímetros. Passados uns anos, a progressão da inclinação estabilizou em cerca de um milímetro por ano. Em 1990, mais de 600 anos depois da torre ter ficado pronta, foi interditada por questões de segurança. Com 4,5 metros de inclinação, temia-se que pudesse colapsar a qualquer momento. Em 1993 foram iniciados trabalhos de restauro e consolidação da torre. Em 2018, verificou-se que a inclinação da Torre de Pisa tinha sido reduzida em 0,5º, o que equivale a aproximadamente 4 cm. Devido a este facto, os pesquisadores acreditam que a torre tenha ganho pelo menos 200 anos de sobrevivência. Actualmente, depois de todas as obras a que foi submetido, o monumento que tem aproximadamente 14 700 toneladas e 55,8 metros de altura a exercer força sobre a inclinação de quase quatro metros, deixou de se inclinar e a aproximadamente cada ano irá endireitar-se um pouco, garantem os especialistas, apesar de se tratar de valores muito altos. A Torre de Pisa continua em pé, após mais de 600 anos e 4 terremotos, isto devido ás características do solo onde está assente. Assim aproximadamente durante os próximos três séculos não haverá motivo de preocupação para com este erro de engenharia do passado, a torre é controlada e conservada graças a meios tecnológicos avançados.
A Batalha de Alcácer-Quibir ou "Batalha dos Três Reis", como ficou conhecida entre os marroquinos, ocorreu a 4 de agosto de 1578 entre Portugal e três réis muçulmanos. Portugal organizou uma força militar constituída por 17.000 homens, dos quais 5.000 eram mercenários estrangeiros, tudo com o propósito de aliviar a pressão dos muçulmanos, ou mouros como eram denominados, sobre as fortalezas portuguesas. Liderados pelo rei de Portugal D. Sebastião (1554 - 1578), a armada partiu de Lisboa em 25 de junho de 1578, fez escala em Cadiz e aportou em Tânger, seguindo depois para Arzila. Nessa oportunidade os portugueses cometeram um primeiro erro, pois as tropas foram mandadas seguir a pé de Arzila para Larache, quando o percurso poderia ter sido feito por via marítima, o que permitiria maior descanso às tropas e o necessário reabastecimento de víveres e água. A partir de Larache a força afastou-se da costa em direcção a Alcácer-Quibir. De referir que no século XVI, grande parte das vitórias portuguesas ocorreu na zona costeira, onde era possível fazer valer a vantagem do poder de fogo dos seus navios de guerra. Longe dos navios, enfrentando o calor de uma região praticamente desértica, um exército superior em efectivo e combatendo no seu território, os portugueses não adoptaram as medidas de segurança necessárias. O rei D. Sebastião recusou-se terminantemente a ouvir os conselhos dos oficiais mais experientes, que ponderavam que o exército se devia manter próximo dos canhões dos navios. Alguns dos comandantes, diante da controvertida decisão, chegam a falar em prender o rei, para impedi-lo de levar o seu plano adiante. As forças muçulmanas compreendiam que não poderiam enfrentar os portugueses perto da costa, e não avançaram em direcção à força invasora, preferindo que os portugueses tomassem a iniciativa de combate. Por decisão do rei, o exército rumou finalmente em direcção a sul afastando-se do litoral. Quando as forças portuguesas estabeleceram contacto com o exército mouro, em 4 de agosto, encontravam-se em marcha há sete dias e depararam-se com as forças muçulmanas de 60.000 combatentes, ultrapassando os efectivos militares portugueses numa razão de quatro para um. No início do combate os arcabuzeiros muçulmanos dispararam contra os portugueses e, em seguida, uma carga de cavalaria ligeira moura forçou as primeiras linhas portuguesas a recuar de forma desordenada. O exército cansado e extenuado reagiu mal, recuando desordenadamente e gerando uma enorme confusão, quando a primeira linha se misturou com as tropas na retaguarda. A resposta portuguesa foi rápida, mas ineficaz. No que parece ter sido uma tentativa para desarticular o ímpeto do ataque muçulmano, uma força portuguesa, aparentemente de cavalaria, penetrou as linhas muçulmanas, mas foi subjugada pelos mouros em maior número. O rei D. Sebastião, perante a derrota inevitável, recusa uma vez mais os conselhos de outros nobres para que se renda, dizendo-lhes segundo registos: "Senhores, a liberdade real só há de se perder com a vida". Os nobres que o acompanhavam a cavalo conformam-se em prosseguir o combate até ao fim, tendo-lhes ainda D. Sebastião dito: "Morrer sim, mas devagar!" Metade do efectivo das tropas portuguesas morreu na batalha e a outra metade foi feita prisioneira. Muitos poucos voltaram. Apesar de se duvidar da morte do rei português, é provável que ele tenha perecido nesta batalha, ficou desse facto uma lenda. O resultado e as consequências do desastre da batalha de Alcácer-Quibir foram catastróficos para Portugal. O rei D. Sebastião desaparecera, deixando como sucessor o seu tio-avô, o cardeal D. Henrique (1512 - 1580), que veio a falecer sem descendência dois anos depois. Assim levanta-se uma crise dinástica ameaçando a independência de Portugal face a Espanha, pois um dos candidatos à sucessão era Filipe II de Espanha (1527 - 1598). A maioria da nobreza portuguesa que participou nesta batalha ou morreu ou foi feita prisioneira. Para pagar os elevados resgates exigidos pelos mouros, o país ficou endividado e debilitado economicamente. A batalha ditou ainda o início do fim da Dinastia de Avis e do período de expansão iniciado com a vitória na Batalha de Aljubarrota. A crise dinástica resultou, dois anos mais tarde, na perda da independência de Portugal por 60 anos, com a união ibérica sob a dinastia Filipina entre 1580 e 1 de dezembro de 1640.
Distração de um padeiro que saiu cara
Em 1666, Thomas Farriner (1615 - 1670), padeiro londrino em Pudding Lane fornecedor da corte do rei Charles II (1630 - 1685), após ter fechado o seu estabelecimento, que ficava no primeiro andar de sua casa, às 22:00h, quatro horas depois, foi acordado por um funcionário (que dormia no piso de baixo). Os fornos não haviam sido totalmente apagados, e uma brasa terá alcançado uma pilha de feno que estava por perto. Tudo começou na manhã de 2 de setembro de 1666, um domingo, ninguém se deu ao trabalho de dar a notícia ao rei Carlos II, que estava nos seus aposentos no palácio de Whitehall. O padeiro Thomas Farriner e a sua família escaparam com vida porque pularam pela janela do andar de cima para a casa ao lado, uma empregada ficou com medo de cair, tentou sair pela porta e acabou por se tornar na primeira vítima. Os vizinhos correram para ajudar a conter o fogo, era importante agir com rapidez porque a cidade de Londres ainda tinha uma arquitectura medieval de ruas estreitas e casas muito próximas umas das outras, a grande maioria feitas em madeira de carvalho e com telhado de colmo e alcatrão, um material que evita a entrada da chuva, mas altamente inflamável. Por volta das 7:00h da manhã, segundo relatos, 300 casas estavam destruídas e o fogo já atingia a Ponte de Londres, onde era permitido morar e havia depósitos de pólvora, armazenada em barris de madeira. Com as chamas, o local transformou-se numa armadilha. Centenas fugiam com cobertores sobre a cabeça, carregando baús e todos os bens que podiam levar. As chamas tomaram enormes proporções, quando o fogo parecia incontrolável, bastava olhar para a direcção do vento, projectar para onde as chamas se dirigiam e derrubar as casas que estivessem no caminho, foi este o processo adoptado para algum controle do incêndio. Durante a tarde, as chamas chegaram aos arredores do rio Tamisa, onde havia depósitos de madeira, carvão e azeite. As explosões que se seguiram pioraram um quadro que já era preocupante. Como se não bastasse, o fogo barrou o acesso às condutas de abastecimento da água do rio. Ainda assim, o xerife da cidade não mudou de atitude, até que foi desautorizado pelo rei na segunda-feira à noite. Enquanto isso, tempestades de chamas atingiam parte da biblioteca do Sion College, o palácio Bridewell, três cadeias, os portões Ludgate, Aldersgate e Newgate e o centro financeiro. Na noite de 4 de setembro, terça-feira, chegou a vez da Catedral de São Paulo. Ao fim de 4 dias, 1800 km2 da cidade tornaram-se em cinzas com a destruição de 13200 casas e 87 igrejas. Os registos da época declararam um total de 100 mil desalojados e nove óbitos. Mas pesquisas actuais afirmam que milhares de pessoas podem ter morrido nesse incêndio, já que as pessoas mais pobres da população e da classe média não eram mantidas nos registos. O episódio causado por uma distracção de um padeiro londrino ficaria conhecido como o Grande Incêndio de Londres.
Venda do Alaska
No ano de 1867, os Estados Unidos compraram o território do Alaska ao Império Russo. A operação foi conduzida pelo Secretário de Estado norte-americano William Henry Seward (1801 - 1872). À época, a transacção foi considerada absurda e era referida como "a loucura de Seward" (William H. Seward's folly). O território comprado, com área aproximada de 1 600 000 km², constitui o actual Estado norte americano do Alaska. A compra do Alaska adicionou mais de 1,5 milhão de quilómetros quadrados aos EUA. Com isso, se analisarmos apenas o preço do quilómetro quadrado hoje naquele Estado, estima-se que o território vale 150 vezes mais do que Washington pagou por ele no século XIX. Mas o Alaska é muito mais que um pedaço de terra gelada, é também um enorme depósito de recursos naturais, menos de 20 anos depois de o negócio ser fechado, instalou-se uma corrida ao ouro na região. Além disso, em meados do século XX companhias de prospecção de petróleo encontraram enormes reservas no norte do Estado que, desde então, têm sido exploradas de maneira intensa e rendem milhares de dólares. O Alaska transformou-se numa poderosa economia. Tem uma população que se aproxima de 1 milhão de habitantes e um PIB (Produto Interno Bruto) de US$ 44 biliões anuais. Por outras palavras, se o Estado do Alaska produz anualmente mais de 400 vezes o que a Rússia ganhou ao vender o território. O que parecia ter sido "a loucura de Seward" afinal foi um excelente negócio para os EUA.
Invasão da URSS por parte dos alemães
Acto precipitado
Acidente nuclear de Chernobyl
Best seller rejeitado
Neste artigo, tal como nos demais deste blog, agradecem-se e serão sempre de louvar todas as correcções que possam existir, desde que sejam feitas de forma educada e construtiva.
Obrigado e boas leituras.
Texto:
Paulo Nogueira
Paulo Nogueira
Fontes e bibliografia:
OBERHOLTZER, Ellis Paxson, A History of the United States since the Civil War, Volume I, 1917
TALWICK, Maria, A Torre de Pisa, Edições Record, 1985
SHCHERBAK, Yurii, Chernobyl (em russo e inglês), New York: Soviet Writers/St. Martin's Press, 1991
Londres em chamas, Revista História Viva, nº 38, páginas 22 e 23, dezembro de 2006.
J. K. Rowling, Revista Forbes. 14 de junho de 2007
BAKER, Lee, The Second World War on the Eastern Front, Pearson Longman, London,2009
SILVA, Libório Manuel, A Nau Catrineta e a História Trágico-Marítima: Lições de Liderança, Centro Atlântico, Portugal, 2010
FAWCETT,Bill, Os 100 Grandes Erros da História, Clube do Autor, Lisboa 2012
LINZMAYER, Owen W, "Chapter one: The Forgotten Founder", Apple Confidential: The Real Story of Apple Computer, Inc. No Starch Press , 2015
OBERHOLTZER, Ellis Paxson, A History of the United States since the Civil War, Volume I, 1917
TALWICK, Maria, A Torre de Pisa, Edições Record, 1985
SHCHERBAK, Yurii, Chernobyl (em russo e inglês), New York: Soviet Writers/St. Martin's Press, 1991
Londres em chamas, Revista História Viva, nº 38, páginas 22 e 23, dezembro de 2006.
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BAKER, Lee, The Second World War on the Eastern Front, Pearson Longman, London,2009
SILVA, Libório Manuel, A Nau Catrineta e a História Trágico-Marítima: Lições de Liderança, Centro Atlântico, Portugal, 2010
FAWCETT,Bill, Os 100 Grandes Erros da História, Clube do Autor, Lisboa 2012
LINZMAYER, Owen W, "Chapter one: The Forgotten Founder", Apple Confidential: The Real Story of Apple Computer, Inc. No Starch Press , 2015
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