sábado, 25 de abril de 2015

A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS


  




Onde é que você estava no 25 de Abril de 1974?
As respostas podem ser várias, muitos dos leitores ainda não teriam nascido, mas naquela manhã de quinta-feira do dia 25 de Abril de 1974 com sol e temperatura amena, muitos despertavam para mais um dia rotineiro, dirigiram-se para os seus empregos como habitualmente o faziam, para as escolas ou universidades, outros ficaram em casa etc., etc.,  como se se tratasse de mais um dia qualquer, no entanto tudo iria mudar e não seria mais um dia como outro qualquer…

Quando pelas 22h 55min. do dia 24 de Abril de 1974, é transmitida pelos Emissores Associados de Lisboa, a canção "E Depois do Adeus" de Paulo de Carvalho, e na madrugada do dia 25 de Abril de 1974 por volta das 0h 20min., após ter sido ouvido  na Rádio Renascença, o tema de José Afonso, “Grândola, Vila Morena” e logo após o comunicado a anunciar no Rádio Clube Português:
“Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas…” muita gente sabia ou tinha  percebido que algo de diferente  estaria  para  acontecer  e nesse mesmo dia  foram para as ruas comemorar com cravos encarnados. Cravos estes que segundo se conta, uma mulher do povo, desconhecida até esse momento, Celeste Caeiro, que trabalhava num restaurante na Rua Braancamp em Lisboa terá oferecido aos militares nas ruas, que os colocaram nos canos das espingardas e  passariam assim a simbolizar esse dia da liberdade. Passa por isso a designar-se esse dia de "Revolução dos Cravos".



                                                                  Jovem mulher oferecendo um cravo a militar no dia 25 Abril de 1974
                                                                                            (fotograma do filme Capitães de Abril))




                                                          Militares com cravos nas espingardas no dia 25 de Abril de 1974 (arq. priv.)




Mas este golpe de Estado andava a ser pensado e organizado desde há algum tempo e no dia 24 de abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instala secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa, denominado Movimento das Forças Armadas, (MFA). Por volta das 22h 55min. é transmitida pelos Emissores Associados de Lisboa, no programa de João Paulo Diniz, a canção de Paulo de Carvalho (vencedora desse ano  do Festival RTP da Canção 1974), “E Depois do Adeus” como um primeiro sinal combinado pelos golpistas, para  a tomada da primeira posição do golpe de estado. O segundo sinal é dado às 0h 20min. quando a Rádio Renascença no programa Limite, transmite a canção “Grândola, Vila Morena”  de José Afonso (tema musical até então proibido nas rádios em Portugal), que confirma o golpe  e marca o início das operações. As 4h 26 min. é lido o primeiro comunicado do MFA, pela voz de Joaquim Furtado aos microfones  do Rádio Clube Português, seguido do hino nacional e várias marchas militares entre elas a marcha “A life on the Ocean Waves”  de Henry Russel e adoptada como o hino do MFA.
O golpe militar do dia 25 de Abril de 1974, a que chamaram revolução, tem a colaboração de vários regimentos militares que desenvolvem uma acção concentrada em diversas cidades, tomando várias instituições do Estado por todo o norte do País, como o Quartel General da Região Militar Norte no Porto, o aeroporto de Pedras Rubras e as instalações da RTP Porto, liderado pelo Tenente Coronel Carlos de Azeredo (1930).
À Escola Prática de Cavalaria que parte de Santarém, cabe um dos papéis mais importantes, a ocupação do Terreiro do Paço em Lisboa, com carros blindados, estas forças serão comandadas pelo então Capitão Salgueiro Maia (1944-1992), às primeiras horas da manhã e ocupam os Ministérios ali instalados, seguindo mais tarde com as suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontra refugiado o presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano (1906-1980), juntamente com os ministros dos Negócios Estrangeiros e o da Informação e Turismo, que ao final do dia se rende, exigindo que o poder seja entregue ao General António de Spínola (1910-1996), visto este não fazer  parte do MFA, para que “o poder não caísse na rua”, segundo o chefe do Governo afirmou. Marcelo Caetano parte para a Madeira e depois ruma ao exílio no Brasil onde permanece atá a sua morte.
Ao longo deste dia os revoltosos foram tomando outros objectivos militares e civis, o aeroporto de Lisboa, estações de rádio e a RTP, tendo havido algumas situações tensas entre as forças fieis ao antigo regime e as tropas golpistas, sem confrontos armados nas ruas da capital, que em alguns casos por mera sorte e união de alguns, não se tornou em algo mais grave como um conflito armado e guerra civil. Todos os conflitos têm os seus heróis, e este não foi excepção, tivemos casos de verdadeiros heróis, uns mais esquecidos que outros. No entanto e no rescaldo dos confrontos deste dia, morrem quatro pessoas, quando elementos da polícia politica (PIDE/DGS), disparam sobre manifestantes à porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso em Lisboa, considerando-se portanto o dia 25 de Abril de 1974, ter sido um  golpe relativamente pacifico. Poderá parecer discutível, mas em alguns casos o povo oprimido, depois de incitado e iludido por uma revolta desta natureza, no próprio dia da revolta e nos que se seguiram, quer em Lisboa quer em outras partes do País, cometeu grandes exageros no que respeita à liberdade, tomando de assalto, de forma indevida, bens e propriedades de alguns privados. Uma ditadura que já batera recordes de longevidade é derrubada em menos de 24 horas assim como as suas instituições de repressão e a guerra colonial que se arrastava há quase mais de uma década como uma causa perdida. Este dia da liberdade ficará para sempre na história como o dia em que Portugal deu os seus primeiros passos em direcção à democracia. Como todas as revoluções, golpes militares ou de estado que acorreram na história, tiveram vantagens positivas para umas partes e negativas para outras, são sempre mudanças politicas e sociais que acontecem nestas circunstâncias e nunca poderá ser do agrado de todas as partes envolvidas. 
Entre pontos negativos desta revolução, que os houve, pois nada é perfeito, houve, nos anos que se seguiram, grandes excessos de liberdade por parte do povo, oprimido e privados da mesma por muitos anos. No entanto, como terá dito o filósofo inglês Herbert Spencer (1820 - 1903), "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro", esta situação verificou-se e ainda se verifica de certa forma na actualidade. Com tudo isto uns perdem outros ganham, outros ainda ficam à espera de mudanças e das consequências dessa revolta/mudança. A história já nos provou esse facto vezes sem conta. 
De referir que não pretende este artigo ter qualquer conotação politica ou influência, apenas um relato dos acontecimentos deste dia de abril de 1974, tal como aconteceram e que ficaram para a história de Portugal. 
Que os objectivos e direitos conseguidos nesse dia de Abril para uma verdadeira democracia em Portugal, nunca se percam, embora ainda haja muito para fazer e mudar.
Neste dia muitos foram os fotógrafos nacionais e estrangeiros, os "fotógrafos da Liberdade", uns mais conhecidos que outros, até alguns anónimos, mas que não quiseram perder estes momentos da história de Portugal. Os seus registos são hoje de grande valia, pois através das suas objectivos foram captados muitos dos momentos e situações únicas para a liberdade de Portugal e como símbolos para a liberdade mundial.
E como as imagens valem mais que mil palavras, para comemorar estes 41 anos (e outros mais que se iram seguir) da Revolução dos Cravos do 25 de Abril de 1974, como foi designada, de todos quantos nela estiveram envolvidos, militares e civis, aqui ficam através de algumas imagens e vídeos, memória desse dia que foi diferente…
                     


                                                                                                         Vídeo luiisfdias




                                                                                            Vídeo Beyond the Cradle (arq. RCP)




    Capitão Salgueiro Maia  junto às tropas rendidas no dia 25 de Abril de 1974, foto Eduardo Gageiro (arq. AML)

 
 
Tropas na Praça do Comércio em 25 de Abril de 1974, foto Alfredo Cunha (arq. AML)
    


Carros blindados e tropas na Rua Augusta em Lisboa no dia 25 de Abril de 1974
(arq. Centro de Documentação 25 de Abril)



     Capitão Salgueiro Maia e as suas tropas no dia 25 de Abril de 1974, foto Alfredo Cunha (arq. AML)



                                                 Carro blindado com tropas na Praça do Comércio em Lisboa em 25 de Abril de 1974 
                                                                                       (arq. Centro de Documentação 25 de Abril)
                                                                             


     Carro blindado “chaimite” na Praça do Comércio no dia 25 de Abril de 1974, foto Alfredo Cunha (arq. priv.)



                                                        Fragata F-473 frente ao Terreiro do Paço de forças fieis ao antigo regime
                                                                     no dia 25 de Abril de 1974, foto Alfredo Cunha (arq. AML)
                                                                                         


 
Militares em carro blindado numa rua da Baixa de Lisboa no dia 25 de Abri de 1974 (arq. priv.)
 


                                                                  Militares e crianças na rua no dia 25 de Abril de 1974,
                                                                                            foto Eduardo Gageiro (arq. priv.)



     Carro blindado com tropas na Rua Serpa Pinto em Lisboa no 25 Abril de 1974 (arq. AML)




                                   Cerco do Largo do Carmo no dia 25 de Abril de 1974 (arq. Fundação Mário Soares)



     Capitão Salgueiro Maia falando aos civis no Largo do Carmo no dia 25 de Abril de 1974 (arq. priv.)
                                                                    

 
                                                           Capitão Salgueiro Maia frente ao Quartel do Carmo em 25 de Abril de 1974,
                                                                                                 foto Alfredo Cunha (arq. AML)
                                                                                                  


   Militares frente ao Quartel do Carmo em carro blindado, em 25 de Abril de 1974, foto Alfredo Cunha
(arq. AML)
   
     
                                                                
     Militares e blindado na entrada no Quartel do Carmo no dia 25 de Abril de 1974 (arq. priv.)

 

                                              Carro blindado e militares juntos com civis no Largo do Carmo em 25 de Abril de 1974,
                                                                                              foto Alfredo Cunha (arq. priv.)



                                                    Multidão no Largo do Carmo, revista Século Ilustrado de 27 Abril 74 (arq. priv.)


  
     Capitão Otelo Saraiva de Carvalho e camaradas durante operações de rua (arq. priv.)

    

                                      Tropas do MFA tomando posição no elevador de Santa Justa no dia 25 de Abril de 1974
                                                                                                              (arq. Fundação Mário Soares)


Militares frente à sede da PIDE/DGS na Rua António Maria Cardoso em Lisboa
 no dia 25 de Abril de 1974 (arq. priv.)



                                                Militares mantendo a ordem pública na Praça da Figueira no dia 25 de Abril de 1974
                                                                                  (arq. Centro de Documentação do 25 de Abril)



                                                        Estudantes no dia 25 de Abril de 1974 junto ao ascensor da Glória (arq. priv.)



   Militares e civis comemorando na rua a liberdade em 1974 (arq. priv.)


         
                                               

                                           Militares e populares na cidade do Porto juntaram-se no dia 25 de Abril de 1974 (arq. JN)


   Tropas do MFA na Avenida dos Aliados no Porto, durante a revolução do 25 de Abril de 1974 (arq. JN)


                                 Viaturas militares na Avenida dos Aliados no Porto, no dia 25 de Abril de 1974 (arq. JN)


    A revolução de 25 de Abril de 1974 fez-se também na Câmara Municipal do Porto (arq. JN)




                                       Militares e civis nos Restauradores em Lisboa no dia 25 de Abril de 1974
                                                                                 (arq. Centro de Documentação do 25 de Abril)


                                                     Militares ostentando cravos encarnados no dia 25 de Abril de 1974 (arq. priv.)


                                                           Militares dos três ramos das forças armadas numa rua da baixa lisboeta
                                                                           em comemorações da liberdade em 1974, foto Uliano Lucas (arq. priv.)


                                                                                                                              
Criança ostentando cartaz do MFA (arq. priv.)
 
                                                      

                                                  Ilustração alusiva ao dia 25 de Abril de 1974 da revista Gaiola Aberta (col. pess.)





                                                                                        Vídeo 25 de Abril Sempre (arq. RTP)



                                                                            Jornal República de 25 de Abril de 1974 (arq. priv.)


                                                                         Jornal A Capital do dia 25 de Abril de 1974 (arq. priv.)                    




                                            Diversas publicações de jornais do dia 25 de Abril de 1974 (arq. priv.)



   
                                                     Capa do Século Ilustrado do dia 25 de Abril de 1974
                                                                                                                    (col. pess.)



                                                                               

 
Principais envolvidos no golpe de Estado do dia 25 de Abril de 1974, em que se destacaram Salgueiro Maia, Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço, Garcia dos Santos, Vítor Crespo, Eurico Corvado, Carlos Alberto Fabião, José Inácio Martins, Melo Antunes, Garcia dos Santos, Sanches Osório, Vasco Gonçalves, Lopes Pires entre outros denominados como "Capitães de Abril".
(imagem arq. Ciber Sul)




                                           Aspecto de departamento de ministério no dia 25 de Abril de 1974 após o regime deposto,
                                                                                              foto Alfredo Cunha (arq. priv.)

 


Pequeno vídeo que resume em imagens históricas alguns doas acontecimentos daquele dia do anos de 1974 em Lisboa...
                                                                                     Vídeo  Paulo Nogueira (PNP/arq. RTP)





  Soldado retirando o retrato de Oliveira Salazar, é o fim do regime,
foto Eduardo Gageiro (arq. priv.)



Cartaz alusivo ao 25 de Abril de 1974 (col. pess.)






                                                                           Placa alusiva às vitimas do dia 25 de Abril de 1974
                                                                                  na Rua António Maria Cardoso em Lisboa
                                                                                                   (foto Paulo Nogueira)



                                             Um dos "Capitães de Abril", Vasco Lourenço nas comemorações do 25 de Abril de 2014
                                                                                no Largo do Carmo (arq. agência Lusa)
                                                                     


                                        Cravos prontos a serem lançados no dia 25 de Abril de 2014, foto Clara Azevedo (arq. priv.)



                                   Helicóptero da Força Aérea Portuguesa lançando cravos sobre a Praça do Comércio
                                                                                         em 25 de Abril de 2014 (arq. priv.)
















Texto:
Paulo Nogueira




Fontes e bibliografia:
Movimento dos Capitães e o 25 de Abril, 229 Dias para Derrubar o Fascismo, Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso, Lisboa, Moraes Editores
RODRIGUES, Paulo Madeira, De Súbito, em Abril - 24, 25, 26, Lisboa, Editora Arcádia
BARROSO, José Manuel, Segredos de Abril, Lisboa, Editorial Notícias
Centro de Documentação 25 de Abril  Fundação Mário Soares     

1 comentário:

  1. Antonio José de Almeida Rocha25 de abril de 2023 às 06:40

    Viva o 25 de Abril de 1974, Sempre. Viva a liberdade e a democracia .

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